Lá por volta de 1975, morando no Rio e ainda com as sobras do
resto de juventude, tinha eu o hábito matinal de, antes de ir para o trabalho,
correr na orla da praia de Copacabana, fazendo, ida e volta, o percurso Leme
(onde morava) – Posto 6. Mal o sol dourava o dia, lá ia eu respirar aquele ar e
decorando a paisagem, que ficariam gravados, para sempre, em minha memória.
Certa manhã, acho que por volta do ano 75, lá ia eu, já quase completada a
primeira fase do percurso, quando passa por mim um homem bastante conhecido,
até porque, durante anos, seu retrato era enfeite obrigatório em minha sala de
trabalho, no Ministério da Fazenda. Tratava-se do ex-presidente Emilio
Garrastazu Medici, que fazia o trajeto contrário, caminhando, sem muita pressa,
em companhia de outra pessoa. Apesar de ter trabalhado, durante seu governo e
como era peixe muito miúdo, nunca o vira de perto, senão no Maracanã, ele, na
Tribuna de Honra, radinho de pilha ao ouvido. Por certo, não perderia a
oportunidade de, pelo menos, cumprimentá-lo, o que fiz, entabolando amena
conversa que durou uns 200 metros. Homem simples e cortês, que viveu e morreu
tendo, como patrimônio, modesto apartamento na Rua Julio de Castilho e uma
fazendola de gado, no Rio Grande do Sul e que viera dos pais. Outro dia, um
ex-Ministro de Medici, que me privilegia
com seu convívio, contou-me o seguinte e eloquente episodio: durante o Governo
Medici, festas de final-de-ano, invariavelmente, eram regadas a uísque ‘’Drurys’’
e biscoito de água e sal. Certa feita, o garçom surgiu com uísque escocês.
Questionado, por Medici, sobre a origem do dito cujo, foi-lhe respondido que a
Receita Federal apreendera um contrabando daquele ‘’Scoth’’ e mandara uma caixa
para o Planalto. Medici, irritado, mandou devolver a caixa e prender o
Secretário da Receita (que hoje, interinamente, governa importante Estado da
Federação), prisão que só não se efetivou pela interferência de alguns
Ministros que, entristecidos, voltaram ao nacional ‘’Drurys’’. Relembro estes
episódios, de simplicidade e austeridade, primeiro, porque a data é emblemática
e, segundo e principalmente, porque vivemos tempos distintos, mas sem nenhuma
distinção, tempo de triplex e sítios, reformados com dinheiro desviado da
principal empresa pública. Tempo que só se bebe uísque de 60 anos e se gasta 60
mil reais, em um jantar, tudo, naturalmente com o dinheiro do contribuinte. Os
que se insurgiram contra o Governo Medici, em nome da liberdade e da
democracia, hoje, estão presos, por corrupção ou mergulharam o Brasil na pior
crise econômica de sua historia, quando desemprego e desconfiança dos
investidores, surgem como marca registrada. Resta perguntar: que Brasil
preferíamos: aquele, da austeridade, ou o de hoje, guiado ladeira abaixo, pelas
mãos da corrupção? Afinal, para que serve a democracia, senão para servir aos
reais interesses do povo?
quinta-feira, 31 de março de 2016
segunda-feira, 28 de março de 2016
Qual o caminho para sair da crise?
Os que já percorreram longa estrada, como este canhestro
escriba, que vos fala, hão de se lembrar dos difíceis dias do Governo Sarney,
com a inflação batendo nos 90% ao mês, as gôndolas dos supermercados vazias de
produtos essenciais e o ‘’mercado negro’’
funcionando a todo vapor, fosse para o tomate, fosse para a carne. Todavia, o
País sobreviveu, porque o mercado de trabalho continuou absorvendo mão-de-obra,
em todos os seus níveis. Voltamos, agora, a viver dias difíceis, agravados com
fato novo, a merecer especial atenção: acentuado crescimento da taxa de
desemprego. A insegurança política gerou a queda de investimento e a saída
provisória, que se encontrou para minimizar os efeitos da crise econômica, foi
reduzir custos fixos, que, primordialmente, traduz-se em dispensar empregados.
Como todos os segmentos foram atingidos, o desemprego vai de construção civil,
que absorve mão-de-obra de baixa qualificação, até empresas de alta tecnologia.
Quer dizer: não há para onde fugir. Índices oficiais – dos quais sempre se deve
duvidar – indicam que há, hoje, no Brasil, cerca de 10 milhões de
desempregados. Acresçam-se a esses números, os que trabalham em subempregos e
os aposentados, todos com salários, insuficientes, até, para suprirem
necessidades essenciais à simples sobrevivência. O resultado desta perversa
soma é a redução do consumo, formando um círculo vicioso, que não se desfaz. Um
País em que 20% dos jovens não conseguem emprego, por obvio, não pode ser
cognominado ‘’país do futuro’’. Com
mais freqüência e intensidade, esses jovens, alguns altamente qualificados,
saem do Brasil, em busca de oportunidades. Perdemos, assim, nosso principal
capital e o perdemos, de forma irrecuperável. Por outro lado, a crescente queda
do consumo pode nos levar a uma situação diametralmente oposta àquela vivida no
governo Sarney: a inimaginável cena de os supermercados, com suas gôndolas
abarrotadas de produtos, sem ter quem os compre. A possibilidade é real e
qualquer economista serio a confirma. Enquanto isto, como se vivêssemos em
outro planeta, o PMDB decide se rompe ou não com o Governo; os congressistas,
citados da operação lava-jato, procuram justificar a origem do dinheiro, recebido
das construtoras; o Poder judiciário debate se Lula pode ser ou não seu
Ministro e 06 milhões de pessoas saem às ruas, pedindo que Dilma seja despejada
do Palácio do Planalto. Perdemos - todos perdemos - a noção do transcendental,
qual seja, como romper o circulo vicioso e retomar o caminho do
desenvolvimento, que gera emprego, que recompõe a dignidade do ser humano, que
dela é despido, quando se lhe aponta o ‘’olho
da rua’’. Se esta retomada do desenvolvimento será com ou sem Dilma, esta é
questão menor. Se a historia serve para ensinar, convém lembrar que Churchill,
depois de comandar a Inglaterra rumo à vitoria, na 2ª Guerra Mundial, não
conseguiu ser reconduzido ao cargo de Primeiro Ministro e a Inglaterra seguiu
em frente. Que Nixon, depois de ter tido a coragem de retirar as tropas
americanas da humilhante guerra do Vietnã, depois de ter restaurado as relações
comerciais com a China, por um deslize, (que, no Brasil, seria comparado a um
furto de galinhas), foi obrigado a renunciar à Presidência e os Estados Unidos
seguiram em frente. O que acontece entre nós? Travou-se um nacional duelo entre
os que são a favor do impeachment e os que são contra ele. Entre os que
defendem a prisão de Lula e os que a repudiam. Este maniqueísmo, esta luta
entre o bem e o mal, está instalada nas redes sociais, na mídia, nas conversas
de restaurantes e botequins, como se fosse a decisão mais relevante, a ser
tomada. Não se identifica, em qualquer lado, um consistente projeto de
recuperação do Pais. Um pouco abaixo de nós, na Argentina, Macri, em menos de
06 meses, recuperou a credibilidade do País, a tal ponto que Obama,
literalmente passando sobre nós, comprometeu-se a recolocar a Argentina no
concerto das nações desenvolvidas. Resta-nos, pelo menos enquanto não aflorar o
bom senso, a indigesta companhia da Bolívia e da Venezuela.
quinta-feira, 24 de março de 2016
Mensagem a um guerreiro
Ontem, recebi em meu escritório, cliente muito querido, que
se tornou amigo, ele e sua sempre presente companheira. Forjado nas
dificuldades da vida, enfrentou a todas e se tornou um vencedor. Despojado de
vaidades externas, apresenta-se como um simples, até porque não precisa
demonstrar nada, porque seu caráter e seu respeito ao próximo liberam-no das vaidades
efêmeras. Agora, anos avançados, está acometido de um câncer, cuja extensão não
pode avaliar, senão pelas dores que, por mais doloridas, não o impedem de
continuar trabalhando, até porque, guerreiro é sempre guerreiro e, como
guerreiro, carrega sua cruz com galhardia, tendo, como ‘’Cirineu’’, sua admirável companheira, gigante, apesar de ter pouco
mais de um metro e meio. Conversamos por quase duas horas. Falamos sobre todas
as coisas e, em nenhum momento, ouvi dele – e dela – qualquer palavra de revolta
ou ressentimento. Ao contrário, diz-se agradecido a Deus, cujos sinais busca
entender, por ter lhe dado tempo de educar os filhos, de estender a mão aos
menos favorecidos, ao lado de tão fantástica mulher. Logo mais, dedicarei a
ambos a missa da ‘’Ceia do Senhor’’,
porque, como poucos, souberam viver o momento mágico da partilha do pão e do
serviço humilde, sem vaidade, simbolizado no lavapés. Que Deus proteja estes
verdadeiros discípulos de Cristo.
quarta-feira, 23 de março de 2016
Porque vivemos a semana Santa
Esta Santa semana, inaugurada no ‘’domingo de ramos’’, a marcar a entrada triunfal de Jesus, em
Jerusalém, não pode ser conspurcada por considerações e analises sobre o podre
momento político, vivido por nosso infeliz País, cujos governantes despem-se do
mínimo de dignidade, apenas para manterem seus espúrios privilégios. Jesus
entra em Jerusalém, montado em humilde jumento, iniciando seu périplo, que não
termina no calvário, mas na ressurreição, a vida, vencendo a morte. Nesta
semana, de sofrida caminhada, Cristo foi vítima da traição de Judas, da
vacilação de Pedro e viu o sofrimento no rosto de Maria, essência de todas as
mães verdadeiras. Há mais de dois mil anos que Cristo nos deu a lição de amor e
de misericórdia. Ninguém duvida mais da passagem de Cristo, pela terra, homem,
igual a todos os homens, em tudo, menos em pecado. Todavia, parece que
continuamos cegos e surdos, pois persistimos em nosso egoísmo; não vemos ou,
pior, recusamos a ver as injustiças sociais, que fazem velhos e crianças
dormirem, semi desnudos, cobertos por folhas de papelão, sob as marquises dos
prédios, rescendendo a urina. Passamos por eles, como se aqueles velhos, um
dia, jovens, não tivessem tido um sonho, o sonho de viver uma vida digna. E
aquelas crianças, já mergulhadas em droga, são meras estatísticas, usadas como
justificativa para redução da maioridade penal. O País, que não dispõe de
vagas, nas creches, cujos hospitais públicos fornecem – quando fornecem – um
atendimento tão precário que pessoas, humildes pessoas, morrem a suas portas,
entretanto, este mesmo País, desgraçado País, realizou uma Copa do Mundo e vai
realizar Olimpíadas, cuja finalidade precípua foi e é enriquecer,
indevidamente, empresários e servidores públicos, de todos os níveis. E, se a
população vai às ruas, pedindo o fim desta barbárie, justificam, eles, os
vendilhões do templo, que se prega um golpe. Na verdade, continuamos cultivando
estreitíssimo conceito de amor e, mais que este, cultivamos, mesmo, o
ressentimento. Buscamos, fora de nós, culpados para nossos erros e fracassos.
Olhamos para a imagem do Cristo crucificado, a cabeça envergada sobre o peito,
os sinais da dor afligida, despojado de vestes e sabemos que Ele quer nos dizer
alguma coisa. Na verdade, há mais de dois mil anos Ele nos repete a mesma lição:
sem o amor, ventre maior do respeito ao próximo, da caridade, material e moral,
não somos nada, e nossa única real perspectiva é retornar ao pó. Na
quinta-feira Santa Jesus reparte o pão entre seus discípulos. Com quem temos
partilhado nosso pão? A quem temos estendido nossas mãos, espontaneamente, sem
nada querer ou esperar, em troca? Eis algumas reflexões, que esta semana nos
sugere.
sexta-feira, 18 de março de 2016
Lula volta a ser ‘’igual a todos’’: cadeia nele!
Sustada a nomeação de Lula para o cargo de Ministro da Casa
Civil da Presidência da República, fica, no ar a indagação se poderá ele ter
sua prisão provisória, temporária ou preventiva, decretada pelo Juiz Sergio
Moro, que comanda a operação ‘’lava jato’’. Filigranas jurídicas à parte, que
só interessam ao ex-presidente, impõe-se resposta afirmativa. Não o estando Ministro, Lula retorna à condição de
cidadão comum, bastando, para a expedição do decreto prisional provisório, a
presença dos requisitos legais e estes gritam, de forma ensurdecedora, diante
de fatos objetivos, principalmente das gravações, exibidas na última
quarta-feira. Lula, de larga data, vem procurando interferir na produção da
prova, utilizando-se, até, do Ministro da Fazenda, para inibir a ação da
Receita Federal. Mediante indevido vazamento de informações, Lula soube,
antecipadamente, de busca e apreensão que seria realizada em sua residência e
em seu ‘’Instituto’’, destruindo documentos comprometedores. Essa interferência
indevida, objetivando frustrar a produção de provas – fato já atestado pela
Polícia Federal – exige a decretação de sua prisão provisória, seja na espécie
de temporária, seja na espécie de preventiva. A afirmação de que, ao remeter o
processo para o Supremo, o Juiz Sergio Moro perdeu sua competência para
decretar a prisão de Lula, é falácia jurídica, capaz, até, de reprovar aluno de
processo penal. O processo foi remetido ao Supremo, porque, investido no cargo
de Ministro de Estado, a competência para processá-lo transferir-se-ia para o
Supremo. Cancelada tal investidura, o processo retorna à jurisdição de origem,
isto é, ao Juiz Sergio Moro que, diante das evidencias fáticas examinados os
pressupostos legais e ouvido o Ministério Público, decretará ou não a prisão.
Simples, assim! O resto, são ‘’tertulias plácidas para embalar bovinos’’. Lula
colocou, sob suspeita, as duas mais altas Cortes de Justiça do País, inclusive
nominando Ministros que poderiam beneficiá-lo, em suas decisões. Lula, em uma
das gravações, cobra interferência do novo Ministro da Justiça, para inibir as
ações da Policia Federal. Lula, de forma expressa, incita seus partidários a
irem para o confronto físico com seus oponentes. E, para completar, seus últimos
atos, amparados por uma desmoralizada Presidente, tem trazido reflexos,
altamente danosos, à economia do País. Nunca os requisitos para decretação da
prisão preventiva, especificados no art. 312 do Código de Processo Penal,
estiveram tão presentes. Chegou o momento de o Poder Judiciário provar que não
está acovardado, como afirmou o Presidente.
A ‘’Carta’’ que acabou de publicar, por óbvio, não redigida
por ele e produto de sua assessoria de imprensa, não apaga o estrago feito. O
leite derramou e não retornará, com palavras vazias, a sua embalagem.
quinta-feira, 17 de março de 2016
Temos um Supremo ou um “puxadinho”?
Ontem, o Supremo Tribunal Federal, ao manter a decisão,
segundo a qual o Senado poder arquivar o pedido de impeachment da Presidente,
mesmo que o mesmo tenha sido aprovado pela Câmara dos Deputados, agiu como ‘’puxadinho’’ do Palácio do Planalto. Já
nem digo que o Supremo deveria ‘’ouvir a
voz das ruas’’ que, por todo o País, exigia e exige o afastamento de Dilma.
Como nos ensina o filósofo, ‘’o homem é
ele e suas circunstâncias’’ e não sabemos – apenas imaginamos saber – em que
circunstâncias alguns Ministros negociaram suas nomeações. Já que fiquei rouco
em repetir que a forma de indicação do Ministro leva a nada recomendada troca
de favores e, na gravação, vinda a público, Lula cobra de Rodrigo Janot ‘’reciprocidade’’ por ter sido nomeado
Procurador Geral da República, não insistirei no tema. Todavia, voltemos à
decisão do Supremo que, rasgando a Constituição Federal, conferiu ao Senado
poderes para barrar o impeachment de Dilma, a nefasta. O processo de impeachment,
segundo nossa Carta Magna, que, progressivamente, vai perdendo sua magnitude,
divide-se em dois momentos, muito claramente explicitados: o art.51, e seu
respectivo inciso I afirmam que ‘’compete privativamente à Câmara dos
Deputados... autorizar, por dois terços, de seus membros, a instauração de
processo contra Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de
Estado’’. Nessa primeira fase, decide-se, privativamente, se o pedido de impeachment é admissível. Não o
sendo, é ele arquivado; em o sendo, o processo é enviado ao Senado Federal a
quem ‘’compete privativamente processar e
julgar o Presidente...’’(ar.52, I) complementando-se, assim o circuito
processual. Qualquer estudante de Direito é capaz de interpretar as citadas
normas constitucionais, distinguindo as duas fases processuais. A matéria é tão
cristalina que não encontra qualquer divergência entre os constitucionalistas pátrios.
Para não pretender demonstração erudição jurídica, que não tenho, cito apenas a
lição ministrada pelo insigne jurista, José Afonso da Silva que, ao interpretar
o artigo 51, I da Constituição Federal, afirma que ‘’a autorização da Câmara dos Deputados para a instauração do processo
(de impeachment) constitui uma condição de procedibilidade – ou, se quiser, uma
condição de admissibilidade do processo...’’ E, mais adiante, assevera que:
‘’os agentes políticos relacionados no
inciso I do art.52 são processados pelo Senado após autorização da Câmara dos
Deputados” (art.51,I). Tais lições doutrinárias do ilustre Professor estão inseridas
na obra ‘’Comentário Contextual à
Constituição’’, Malheiros Editores, 2ª Edição, 2005, págs. 415 e 417.
Apesar de tanta obviedade, ontem, o Supremo, travestido de ‘’puxadinho’’ do Planalto, conferiu ao
Senado poderes para arquivar o pedido de impeachment, mesmo que tenha sido ele
aprovado pela Câmara. É claro que os Ministros do Supremo sabem ler e
interpretar a Constituição. Resta saber quais as circunstancias que os motivaram
a fazerem leitura tão oposta à obviedade jurídica. Agora, vai se discutir,
naquele Colegiado, se Lula, feito Ministro para escapar do tacape de Sergio Moro, estará protegido pelo
manto do ‘’foro privilegiado’’. Será
a ocasião de constatar se temos um ‘’Tribunal
Supremo’’ ou um mísero ‘’puxadinho’’,
cujos membros já foram vilipendiados por Lula e colocados sob suspeita pelo
senador Delcídio. Escolherão eles em serem ou um vaso de flores ou um vaso
sanitário.
O tempo continua sendo, como invocava Baudelaire, um ‘’carrasco sem piedade’’!
quarta-feira, 16 de março de 2016
Está formado o quarteto da maldição
Em meu canhestro texto de segunda feira, falei de minhas
suspeitas de que a estrondosa manifestação do domingo caísse no vazio, já que o
Planalto, preocupado, apenas, em salvar sua própria pele, não atribuiria
qualquer relevância aos anseios, exteriorizados naquela manifestação. Infelizmente,
minhas preocupações se confirmaram e, em menos de 48 horas, surge a esdrúxula nomeação
de Lula para Ministro da Casa Civil da Presidência da República. Não gastarei
tempo, fazendo a apologia do óbvio, afirmando que tal nomeação teve duplo
objetivo: tirar Lula da alçada do Juiz Sergio Moro e usá-lo, como negociador
para livrar a mendiga Presidente do impeachment. Que Lula é hábil (e tome “hábil”, no caso, como sinônimo de “inescrupuloso”) negociador, todos o
sabemos: negociou cargos que desviaram recursos da Petrobrás; negociou, através
de Mercadante, propina para livrar seu amigo e parceiro Bumlai de delações
premiadas. Por certo, sabe quanto vale e como negociar com estes deputados e
senadores que integram o mais abjeto Congresso de nossa enegrecida história. O que
não interessou ao Planalto – e, até por que interessaria? – foi avaliar as consequências
morais e econômicas, para o Brasil, de se ter Lula integrando o Ministério. Do ponto
de vista moral, um criminoso a mais, não macula, com mais intensidade, a tosca
imagem do País, no cenário internacional. Pode-se dizer que, formalmente, Ali
Babá foi colocado no comando de seus 40 (só 40?) ladrões. Por outro lado, a
simples possibilidade de Lula chegar a Ministro fez cair a bolsa e subir o dólar,
o que significa que nossa economia continuará desabando, com crescente
velocidade, trazendo mais inflação e mais desemprego, menos, é claro, para “eles”, que continuarão viajando, morando
e comendo, às custas do contribuinte. A dolorosa conclusão é que nossas
instituições foram atiradas ao chão. Que formidável quarteto: Dilma, Lula,
Eduardo Cunha e Renan Calheiros! Restou o Supremo Tribunal Federal que
decidirá, hoje, se permanece como “puxadinho”
do Palácio do Planalto, ou se honra a tradição de uma Casa que, dentre seus
moradores, já teve homens da estirpe moral e intelectual de Moreira Alves,
Evandro Lins e Silva e Sepúlveda Pertence. Que voz ecoará: a independente e
segura de Celso de Mello ou a juridicamente desafinada de “Barrosinho”.?
segunda-feira, 14 de março de 2016
Pequena reflexão sobre as manifestações de domingo
Este foi um fim de semana diferente: ao invés de filhos e
netos para almoço de domingo, tive-os no sábado, em torno de uma magnífica
feijoada, engenho e arte da minha esposa. O domingo ficara reservado para a
grande festa cívica. Desci, ali, na altura do Shopping Paulista, por volta das
13hs e caminhei por toda a Avenida Paulista, ida e volta, parando, para
conversar com alguns conhecidos, ou para ouvir as músicas e palavras de ordem,
que vinham dos trios elétricos. Homens e mulheres, de todas as idades,
crianças, até em carrinhos. Um único sentimento, o de que estávamos
participando da historia do País, exaurido em suas forças, pela incompetência
administrativa, de um lado e pelo maior esquema de corrupção, já visto por
estas bandas. Qual o impacto que a manifestação de domingo trará para o momento
político, que vivemos? A curto prazo, não acredito em qualquer mudança. A
solução óbvia, seria a renúncia da Presidente, hostilizada, em todos os rincões
do País. Todavia, falta a ela grandeza moral para colocar seus mesquinhos
interesses pessoais abaixo dos interesses da população. O partido, que a apoia,
dirá que as manifestações reuniram tão somente a ‘’burguesia’’. Ignorantes, que
o são, os petistas desconhecem que as grandes convulsões sociais, desde a
Revolução Francesa, nasceram da ‘’burguesia’’, porque aí estão os formadores da
opinião pública e aí estão os que dirigem o País. Dilma quer salvar seu
mandato, mesmo que isso importe em gerar mais desemprego, mesmo que isso
dilapide, ainda mais, nossa claudicante economia, mesmo que isto signifique
abrir mão do resto de dignidade, que lhe sobrou. Restará, assim, o espinhoso
caminho do impeachment, a depender de uma classe política comprometida e
vilipendiada pela opinião pública. A depender, também, de um Supremo Tribunal
Federal, sem a grandeza de outros tempos e que, na feliz imagem do historiador,
Marco Antonio Villa, transformou-se em um ‘’puxadinho’’ do Palácio do Planalto.
As manifestações de ontem, surgiram, sem líderes, verdadeira combustão
espontânea de toda uma população, que não consegue mais respirar este ar
nauseabundo, que vem de Brasília. Essa ausência de liderança, porém, traz o
lado perverso da impossibilidade de, dentro do quadro político vigente, não se
poder identificar alguém, ou um grupo que faça o Planalto ouvir a ‘’voz das
ruas’’. Hoje, segunda-feira, voltamos a nossos afazeres, mas trazemos um gosto
amargo que ‘’nosso grito’’ cairá no vazio. Já não temos uma ‘’força armada’’,
que se disponha, como em 1964, transformar em ações, nossos anseios. Não que
lhes falte patriotismo, mas porque o mundo, raciocinando a partir dos países
civilizados, entende que os conflitos devam se resolver, dentro dos limites da
democracia. Em função deste equivocado raciocínio, é que Maduro continuará
destruindo a Venezuela. O PT ameaça-nos com seus milicianos remunerados. Talvez
seja mesmo hora de um conflito, de onde saia um vencedor. Dominamos, pelas
nossas ideias e princípios. Por que não dominarmos, também, pela força?
sexta-feira, 11 de março de 2016
Para lembrar as “corridas de submarino”
Corria tranquilo o ano de 1967, a Revolução já consolidada e
o País a caminho da recuperação do desastre econômico, deixado pelo desgoverno
Goulart. O então presidente, Castelo Branco, movimentava-se, com desenvoltura,
inclusive freqüentando teatros, no eixo Rio - São Paulo, fato inimaginável nos
dias atuais, quando a mídia noticia que o Ministro Jaques Vagner foi apupado,
em restaurante de Brasília. Todavia, como hoje é sexta-feira, dia sem gravata e
paletó, deixemos, de lado, o lado putrefato da política dos tempos modernos e
tratemos de coisas amenas. Como ia dizendo, corria o ano de 1967 e eu, ainda,
recém-formado, funcionava como ‘’advogado
dativo’’ na 21ª Vara Criminal de nossa Capital. De longa data, uma
quadrilha de meliantes desafiava a polícia paulista. Agia ela, a quadrilha, no
entorno da represa, em Interlagos, à época, local ermo, para onde se dirigiam
casais, para assistirem a ‘’corridas de
submarino’’. Quando estavam no ‘’melhor
da festa’’, eram abordados pela quadrilha que se apropriavam de todos os
pertences, deixando os ‘’pombinhos’’,
absolutamente nus. Jamais cometiam qualquer ato de violência física contra as
vítimas, preferindo se divertirem, ao final do assalto. Certa feita, conduziram-nas,
totalmente despidas, amarrando-as, neste estado, naquela horrorosa estátua do
Borba Gato, que fica em Santo Amaro. Doutra feita, após constatar que vítimas
eram chefe e secretaria, ele, casado, conduziram-nos até a residência do
próprio, tocaram a campainha e, quando a esposa apareceu, o desnudo casal foi
deixado aos cuidados da mesma. Finalmente, a quadrilha foi presa e, concluído o
inquérito, o processo foi distribuído à 21ª Vara Criminal. Como os réus
alegaram não dispor de recursos para pagar advogado, eu fui designado para
defendê-los. Os componentes do bando eram ‘’negros
como as asas da graúna’’ (a razão do apelido) e os assaltos eram sempre
praticados à noite, daí a dificuldade das vítimas em identificar os meliantes.
Assim, a estratégia, que utilizei foi o da negativa de autoria. Não me lembro
se tive êxito, mas duvido, porque o Juiz, meu saudoso amigo, Dr. Fausto Whitaker,
era rigoroso e mão pesada. Lembro-me, isto sim, do casal desnudo, absolutamente
constrangido, prestando depoimento, em juízo. Romântica época, ao contrario dos
dias atuais, quando se mata, até para subtrair celular. Acho, até, que as ‘’corridas de submarino’’, não existem
mais, até porque, como diria Vinicius, ficaram demais os perigos desta vida.
quinta-feira, 10 de março de 2016
O Quinto Constitucional e outras historias
Ainda no 4º ano da Faculdade de Direito, tive o privilégio de
estagiar na 21ª Vara Criminal da Capital, com o Juiz Fausto Whitaker de Machado
Alvim, de incontestável competência e honradez, mas ‘’mão de ferro’’, em suas
sentenças. Lá fiquei, mesmo depois de formado, como ‘’advogado dativo’’, vez
que gozava da confiança daquele Magistrado, que chegou à presidência de nosso
Tribunal. Foi amigo e mestre, que me guiou pelos meados do Direito Penal. Com
ele, dentre tantos, participei do julgamento do ‘’bando dos crioulos doidos’’,
que barbarizava, na região de Interlagos (qualquer dia conto ótima historia de
como eles encerravam seus assaltos) e do cantor Nelson Gonçalves, preso por
porte e uso de entorpecente que, na audiência de interrogatório, fez um dueto
com Alberto Marino Jr., promotor da mesma Vara, brilhante figura do Ministério
Público Paulista e que se notabilizou por ter sido o algoz do ‘’esquadrão da
morte’’. Marino, que se tornaria meu companheiro de noitadas memoráveis, era barítono
de primeira. Cumpridos os dois anos de efetivo exercício da advocacia, recebi
deliciosa pressão, Marino, querendo-me no Ministério Público, Dr. Fausto,
puxando-me para a Magistratura. Agradeci a ambos: preferia a advocacia, já que
não tinha cacoete para acusar e, muito menos, julgar. Fiz a opção que entendia
ser a melhor para mim e persevero, já na ultima curva do caminho, na profissão,
com vitorias e derrotas acumuladas. Reconheço, também, ser espinhosa a
trajetória, percorrida pelo Juiz e pelo Promotor, de pouso em pouso, começando
por pequena e longínqua cidade do interior, até chegar à Capital e esperar
subir para o Tribunal ou Procuradoria. Porisso sempre fui radicalmente contra o
chamado ‘’quinto constitucional’’, que determina que 1/5 dos Tribunais de
Justiça seja ocupado por advogado, indicado pela seção regional da Ordem. Nós,
advogados, somos ‘’pedintes’’, por natureza, não aprendemos a julgar, por mais
tecnicamente preparados que sejamos. Carrego comigo o preconceito – e não me
envergonho disto – de que o advogado, que pleiteia ser desembargador, ou nunca
esteve vocacionado para o exercício da advocacia, ou está em busca de um cargo
que, além de vitalício, proporciona segura remuneração. Faço todas estas
considerações, porque leio que a filha do Ministro Luiz Fux, do Supremo
Tribunal Federal, apesar de ter apenas 34 anos e menos de 10, como advogada,
foi nomeada Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
por conta do famigerado ‘’quinto constitucional’’. Não conheço, porisso não
posso avaliar a competência e o saber jurídico da doutora Mariana Fux. Todavia
tenho convicção que ela subtraiu espaço de Juiz de carreira, daquele Estado,
que deve ter gastado bons anos de sua juventude, percorrendo cidades do interior.
Tomara que eu ‘’queime a língua’’ e a doutora Fux honre o Tribunal fluminense.
terça-feira, 8 de março de 2016
O equívoco de Sérgio Moro
Os que me seguem nestas ‘’mal
traçadas’’, sabem que nem sempre concordo com as medidas tomadas pelo
insigne juiz, Sergio Moro, no curso da operação ‘’lava jato’’. A manutenção,
por exemplo, da prisão de Marcelo Odebrecht, a mim me parece não ter outro
objetivo, senão coagi-lo à delação premiada. Com efeito, o processo está em
fase final, sem novas provas a serem produzidas. Mesmo em sendo condenado, terá
ele, Marcelo, direito de recorrer liberdade. Em sentido contrário, caminhou
Sergio Moro ao não decretar a prisão preventiva do ex-presidente Lula. Visito o
artigo 312 do Código de Processo Penal e lá, identifico a presença de todos os
requisitos para a decretação de tal prisão. Transcrevo o mencionado artigo: ‘’a prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indicio suficiente de autoria.’’ Antes de dissecar o transcrito artigo da lei processual penal,
convém lembrar que o Supremo Tribunal Federal já cristalizou o entendimento –
Súmula 09 – de que a prisão provisória (gênero, do qual a prisão preventiva é
espécie) não colide com o principio constitucional da presunção de inocência.
Todavia, voltamos aos pressupostos, exigidos para a decretação da prisão
preventiva, para verificarmos se Lula enquadra-se em qualquer deles. O Art. 312
começa esclarecendo ser cabível o decreto prisional prévio ‘’como garantia da ordem pública’’. Que
fez Lula, logo após depor na Polícia Federal? Deslocou-se para o Sindicato dos
Bancários e, em violento pronunciamento, incitou a ‘’militância’’ a se mobilizar contra o Poder Judiciário e ao que
chamou ‘’classes dominantes’’,
comprometendo a ordem e a segurança pública. Na seqüência, o artigo de lei
afirma que a prisão preventiva tem, por escopo, garantir a devida instrução
criminal, isto é, permitir que as provas dos fatos sejam coletadas, sem
influencias externas. Ora, a Polícia Federal está investigando vazamento da
operação, já que resta provado que o ‘’Instituto Lula’’ fez desaparecer
documentos, antes da busca e apreensão, ali realizada. Vê-se, pois, que, em
liberdade, Lula compromete a adequada produção da prova. Finalmente, eloqüentes
são os indícios dos crimes praticados pelo ex-presidente: ‘’lavagem de dinheiro’’; ‘’corrupção passiva’’; ‘’advocacia
administrativa’’; ‘’favorecimento ilegal’’, ‘’organização criminosa’’; ‘’coação
no curso do processo’’. E, note-se, nesta fase processual, em que Lula
figura como averiguado, não se exige prova plena da prática do crime. Basta que
haja indícios consistentes de que o averiguado seja o autor do delito, a ele
atribuído, o que emerge cristalino, no caso de Lula. Assim, ao decretar a
condução coercitiva, ao invés da prisão preventiva, o juiz Sergio Moro não só descumpriu
a lei, mas também ofereceu a Lula poderoso e perigoso palanque, através do qual
poderá ele provocar conflitos armados, de imprevisíveis conseqüências. O juiz
Sergio Moro tem a imprensa a seu lado, a opinião pública a seu lado, o próprio
Poder Judiciário a seu lado e, se já agia com destemor, pode continuar
mantendo-o, virando esta tenebrosa página de nossa história. A jararaca está
viva e precisa e deve ser abatida.
segunda-feira, 7 de março de 2016
Saudades de Marcio Tomaz Bastos
A transferência de José Eduardo Martins Cardoso do Ministério
da Justiça para a Advocacia Geral da União foi frustrada tentativa da
Presidente de ter alguém, neste ultimo cargo, em condições técnicas de defender
o Governo da avalanche de acusações, principalmente aquelas decorrentes da
delação premiada do Senador Delcídio do Amaral, até outro dia, líder do
Governo, no Senado. José Eduardo é expressivo jurista, mas sua área é Direito
Administrativo, professor, que o é deste ramo do direito, na PUC – São Paulo.
As condutas ilícitas, imputadas ao Palácio do Planalto, estão inseridas, dentre
outros diplomas legais, no Código Eleitoral, na Lei de Responsabilidade Fiscal,
no Código Penal e nos Crimes contra a Ordem Tributária. Em sendo assim, melhor
fora que a escolha do Advogado Geral da União recaísse sobre criminalista, de
larga experiência nas áreas apontadas. Deles os há, em bom número, aqui em São
Paulo, restando saber se estão afinados com o Governo Federal. José Eduardo
começou mal, em sua nova e espinhosa missão, pois se limitou a desqualificar o
autor da denúncia, estratégia indigente, não recomendada quando são fortes os
indícios dos crimes apontados, como acontece, no caso concreto. E o quadro se
agrava, quando se constata que os mais renomados criminalistas já representam
clientes, envolvidos na operação ‘’lava jato’’, o que os conflita em defender o
Planalto. O melhor caminho – se é que se pode falar em ‘’melhor caminhos’’ – é
José Eduardo enfrentar as acusações, perpetradas por Delcídio, demonstrando, ou
tentando demonstrar, a inexistência de conexão entre elas, as acusações, e a
presidente Dilma, inclusive rompendo qualquer liame entre ela e Lula. Como se
diz, no cotidiano, a casa do ex-presidente caiu e, daqui para frente, será
transformada em pó, à medida que advierem – porque advirão – a delação premiada
de Leo Pinheiro, já condenado e Marcelo Oderbrecht, prestes a o ser. Ambos
sabem que, dificilmente, conseguirão reverter suas condenações nos Tribunais, o
que os obrigará, pela nova hermenêutica do Supremo Tribunal Federal, a começar
a cumprirem as respectivas penas em regime fechado, enquanto tramitarem seus
recursos. Assim, a delação premiada surge como a única alternativa de, pelo
menos, terem tais penas reduzidas ou até mesmo cumpri-las em prisão domiciliar.
Leo Pinheiro, já avançado na terceira idade, não tem condições físicas e
psicológicas de ficar tanto tempo recluso. Idem para Marcelo, jovem de 40 anos,
de linhagem de grandes empresários, cuja historia começou com seu avô,
Norberto. Ambos estão acostumados ao conforto, incompatível com a melhor –se é
que haja melhor – prisão brasileira. Assim, a delação virá, por maior que seja
o desejo de preservar Lula, Dilma ‘’ef caterva’’ e o conteúdo de tais delações
desnudará, de uma vez por todas, os desmandos da era petista. Lula diz que ‘’a
Jararaca continua viva’’, mas desconfio que ela tenha se transformado em
inofensiva minhoca.
sexta-feira, 4 de março de 2016
A hora e a vez da verdadeira oposição
Viver muito, dentre tantos percalços, traz a ínfima vantagem
de nos tornar testemunhas oculares da historia. Destaco tal fato ao avaliar a
tibieza da oposição política, nesta tenebrosa quadra de nossa historia. Vivi,
no alvorecer da juventude, os agitados anos 60, que antecederam à Revolução de
1964. Na oposição, sem qualquer possibilidade de aliança com o Governo Goulart,
brilhavam a genialidade, competência e seriedade de Carlos Lacerda, Pedro
Aleixo, Aliomar Baleeiro, Ney Braga, Magalhães Pinto, apenas para citar alguns,
cujos nomes ficaram gravados na historia. Nos melancólicos dias atuais, a pífia
oposição, representada pelo pífio PSDB, não é capaz de se unir nem mesmo para
indicar o candidato a Prefeito de nossa Capital. Os nomes, que disputam tal
indicação, já são, por si só, atroz mediocridade, mas, como diria o vulgo, é o
que se tem para o momento. Todavia, o que se lamenta é que três diferentes alas
do partido duelam, entre si, como se fossem – e talvez o sejam – figadais
inimigos. Por obvio, dissensões internas são normais, principalmente quando se
trata de uma grande agremiação, como o é o PSDB. Todavia, manda o bom senso que
essas querelas sejam resolvidas ‘’interna corpore’’, sem se transformar em
acontecimento público, o que apenas traz proveito aos adversários. O que é
fácil intuir é que, seja quem for o indicado, sairá ele fragilizado para a
eleição, abrindo a possibilidade de revermos Marta Suplicy, de triste memória,
sentada na cadeira de Prefeito, ou Haddad reeleito. A primeira, além de péssima
administradora, petista de primeira hora, teve o despudor de pular do barco, ao
primeiro balanço. O segundo, envolvido em inúmeros escândalos, tão ao estilo do
lulopetismo, é eterno ausente e apenas será lembrado pelas inúteis ciclovias
que, solitárias, enfeitam a cidade. Assim, perde a oposição, pela ausência de,
unida, apresentar um candidato a Prefeito, consentâneo com as expectativas e
necessidades de nossa Capital e perdemos nós, pelo risco de voltarmos a ter a
conhecida e medíocre administração Marta/Haddad. No cenário nacional, a
oposição limita-se a declarações opacas e reuniões sem conteúdo. O País
assiste, atônito, às acusações formuladas, contra Lula e Dilma, por Delcídio do
Amaral, o primeiro conduzido, coercitivamente, pela Polícia Federal. Não
adianta o governo, naufrago terminal, tentar desqualificar o ex-Senador que,
até outro dia, era seu líder, gozava da intimidade do Poder, passeava com a
Presidente pelos jardins de sua residência, em conversas sigilosas. A delação
de Delcídio, se ainda não tem valor jurídico, por não estar homologada pelo
Supremo Tribunal Federal, é contundente e revela detalhes, possíveis, apenas a
quem vive, convive e participa do coração do Poder. A detenção de Lula coloca
melancólico ponto final, nesta dolorosa etapa de nossa historia. Desafortunado
Brasil: depositamos esperanças em Collor, que saiu enxotado! Depositaram
esperanças em Lula, que sai algemado! Resta a Dilma, em quem não depositamos
esperança alguma, se tem um mínimo de dignidade e amor à pátria, renunciar,
pedindo desculpas, principalmente, aos milhões de desempregados, gerados pela
sua falaciosa política econômica. Que os partidos de oposição saibam avaliar o
momento político e, com coragem e altivez, unam-se para exigir o imediato
afastamento de Dilma e sua trupe. Ontem, mancharam eles, com sangue, nossa
historia. Hoje, mancham-na com ignóbeis atos de incompetência e improbidade
administrativas.
quinta-feira, 3 de março de 2016
Por falar da quaresma e ressentimentos
É tempo de quaresma. Dentre outras reflexões, tempo de
extirpar de corações e mentes os grandes ressentimentos, que se perpetuaram e
que nos faz trazer ao presente, com constância, a pessoa, objeto de nossa mágoa
e odiá-la, como se os fatos tivessem acontecido minutos atrás. Como nos ensina
o filósofo Luiz Felipe Pondé, o ressentimento talvez seja a característica que
mais nos distingue dos animais, dito irracionais. Não falo do ressentimento
passageiro, como o gerado pela ‘’fechada’’
levada e que nos faz elogiar a mãe do motorista do outro veículo, ou do
pedreiro que deixou nossa reforma inacabada. São ódios que têm a duração de uma
flor. Falo do ressentimento que se perpetua, que viu nossos cabelos
embranquecerem, mas que permanecem acesos, cicatrizes que nos recordam as
lesões sofridas. Em busca desse ressentimento, para purgá-lo, em tempo de
quaresma, faço minha memória viajar e ei-lo, ele, o ressentimento buscado, que
emerge, fazendo meu sangue ferver, colocando-me faca aos dentes e a vontade de
encontrar o amaldiçoado e picá-lo, em miúdos pedaços. Conto o fato e dou nome
ao indigitado: corria, ou melhor, quase morria o ano de 1971 e, com ele, o
campeonato carioca de futebol. À época, morando no Rio, assistia a todos os
jogos do Botafogo que, leve e solto, caminhava rumo ao título. E não podia ser
diferente, já que, lá no ataque, estavam Jairzinho, Gerson, Roberto e Paulo
Cesar ‘’Caju’’, praticamente o mesmo
da inesquecível seleção brasileira de 70. Eu fizera minha parte para o sucesso
do alvinegro. Mesmo sem ser supersticioso, fui a todos os jogos com a mesma
roupa, sentando no mesmo lugar. A jornada seguira invicta, até porque, lá atrás
estavam Carlos Alberto Torres, o ‘’capita’’
da copa e o feroz Brito. Chegamos à final com o Fluminense, precisando de
medíocre empate. 170 mil torcedores no Maracanã, a esmagadora maioria, por
óbvio, torcedores do ‘’glorioso’’. Até os 40 minutos do segundo tempo persiste
0x0 e o grito de ‘’é campeão’’, parado na garganta e as lágrimas, de incontida
emoção, prontas para serem derramadas. Pois no minuto seguinte vem o
infortúnio: bola cruzada sobre a área botafoguense. O lateral esquerdo do
Fluminense – Marco Antonio, era seu nome – faz escandalosa falta em nosso
goleiro – Ubirajara, será seu nome -, o que permite que outro jogador tricolor
– minha memória bloqueia seu nome – faça o gol, ilegitimamente, vergonhosamente
validado e nosso título esvaiu-se. As lágrimas derramadas alagaram as
arquibancadas do Maracanã. Lembro-me de que fiquei sentado, atônito, vendo o
estádio desligar seus refletores. Tudo se apagou com o tempo, menos o
ressentimento pelo árbitro do jogo. José Marçal Filho, era o nome do ‘’filho do cão’’. Vejo-o, ainda hoje, em
meus piores pesadelos. Odiei-o, ao longo de todos estes anos. Escolhi para
perdoá-lo e até querer bem a ele, nesta quaresma. Inútil pretensão. A faca
ainda resta pronta para dissecá-lo. Talvez, na próxima quaresma...
quarta-feira, 2 de março de 2016
Sorteios, pagamentos e outras considerações
1º de março, dia de muita agitação e suspense, em meu
escritório: será realizado o sorteio mensal das contas a serem pagas. Primeiro,
há que se estabelecer um critério: só entrarão na urna indevassável os
compromissos que, uma vez não cumpridos, possam trazer resultados danosos, como
corte de água, energia etc. Também relevantes são aqueles que não entraram nos
3 últimos sorteios. Questão de justiça! Quanto aos salários, importante levar
em conta a situação objetiva do assalariado: casado ou solteiro, proprietário
ou inquilino, filho em idade escolar ou já trabalhando para compor a renda
familiar. Observo que, neste mês, o número de ‘’felizardos’’, a participarem do
sorteio, diminuiu, significativamente, em relação ao mês passado. Tem sido
assim desde quando a política econômica do (des)governo Dilma começou a
produzir seus nefastos efeitos. Os clientes não recebem e eu não tenho tido a
ventura de participar dos sorteios, por eles realizados. Pensei em mudar de
ramo. Outro dia, na praia, surgiu um senhor, com seus 50 anos, a vender uma
engenhoca qualquer. A proposta de venda era inusitada e irresistível: ‘’um é 8
e dois saem por 10’’. Esclareceu ser, de profissão, corretor de imóveis e, como
as vendas cessaram, ele buscou a alternativa de vendedor de praia. ‘’Posso não
vender – esclareceu ele – mas há sempre belas coxas para espairecerem e, se a
cabeça esquenta, um bom mergulho resolve’’. Cogitei da alternativa, mas, além
do verão que se finda, as pernas, que se fazem trôpegas, desaconselham longas
caminhadas. Ontem, na televisão, importante economista, que já foi Diretor do
Banco Central, afirmou ‘’esqueçam 2016 e comecem a se programar para 2017’’.
Mas – penso eu – se ainda é 1º de março, que fazer nos próximos 10 meses?
Hibernar, como os ursos? Declarar uma moratória provisória? O certo é que minha
perplexidade comunica-se a todos os brasileiros, profissionais liberais,
empresários, assalariados que assistem ao Brasil, nau sem timoneiro, navegar em
mar revolto. O Executivo. Incapaz até de enfrentar a epidemia de dengue, sem um
projeto econômico consistente, prioriza proteger Lula e, para isto, sacrifica o
Ministro José Eduardo Cardoso. O Legislativo, estático, oscila entre a cassação
de Eduardo Cunha e a de Delcídio Amaral, enquanto o Judiciário modifica a
Constituição e cria novo ordenamento jurídico, como se vivêssemos à época do
absolutismo monárquico e o Supremo fosse o rei. Dançamos, enfim, o ‘’samba do
crioulo doido’’, de que nos falava o sempre atual Stanislaw Ponte Preta.
Cômico, mas, acima de tudo, trágico ‘’Febeapá’’. (Traduzo, para os mais jovens:
‘’Febeapá’’= festival de besteiras que assola o País’’.
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