Ao longo de nossa vida de casados – 45 anos – eu e minha
esposa nunca tivemos problemas em contratar empregados ‘’gays’’, isto numa época em que o preconceito corria solto. São eles
dedicados, responsáveis e respeitadores. Recém-casados, fomos morar no Rio e ‘’nosso’’ primeiro gay foi ‘’Seu Luiz’’ que, ao passar roupa,
borrifava-a com alfazema e, na cozinha, esmerava-se, fazendo, inclusive um ‘’sonho’’, recheado de goiabada, de comer
ajoelhado. Já morando em São Paulo, filhos – todos homens àquela época –
entrando na adolescência, tivemos vários e seguidos empregados ‘’gays’’, em razão dos quais destaco dois
– dentre tantos – episódios: o primeiro empregado tinha sido cozinheiro no
navio ‘’Rosa da Fonseca’’, que era o
‘’top’’ da época. Foi despedido e,
por caminhos que não me recordo, foi bater em nossa casa. Como disse lá atrás,
naquela época o preconceito era forte e, por certo, ele encontrava restrições
para se inserir, no mercado de trabalho. Nós o contratamos e ele superou nossas
expectativas. O único problema é que, talvez em função de ter sido cozinheiro
em sofisticado navio, elaborava pratos requintados, com molhos especiais... mas
que não caiam no paladar dos meus filhos. Um dia, para resolver o impasse,
minha mulher chamou-o para uma conversa: - ‘’fulano,
sua comida é maravilhosa, mas os meninos estão em uma idade em que preferem
arroz, feijão, bife e batata-frita’’. O nosso empregado engoliu seco e,
visivelmente contrariado, refugiou-se em seu quarto. No outro dia, preparou o
almoço, colocou a mesa e, constrangido, mas altivo, disse a minha mulher: - ‘’Desculpe, Dª Renata, não sei se a comida
está como a senhora quer, mas, pior do que isto não sei fazer.’’ O segundo
fato foi, sem duvida, mais impactante: certa madrugada, acordo e vou à copa beber
água. Eis que me deparo com ‘’uma jovem
mulher’’, vestida de branco, salto alto, maquiada, que me cumprimenta,
educadamente. Volto para o quarto, atônito. Estaria em estado de sonambulismo?
Acordo minha mulher, sussurrando-lhe: ‘’acho que não estou bem. Imagine que vi
uma moça, bem vestida, na copa e que ate me cumprimentou.’’ – ‘’Não se preocupe
– esclareceu minha esposa – é fulana, que, em finais de semana, dubla a Madona,
numa boate gay, na praça da República’’. Pelo menos, 30 anos são passados dos
fatos, aqui narrados. Lentamente, os homossexuais vão deixando de ser pessoas
marginalizadas, ocupando espaços, em segmentos econômicos, sem precisar se
esconderem ‘’dentro do armário’’. Os transexuais já podem usar
seus respectivos ‘’nomes sociais’’,
aqueles que escolheram para se auto-nominarem. E o Direito, como ciência social,
vai lhes concedendo prerrogativas, por maiores que sejam o preconceito ainda
existente. Realmente, ‘’o tempo é o
senhor da razão’’.
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