Volto ao médico, levando a última bateria de exames. Quase preciso
de um carrinho de mão para transportá-los. O médico olha-os, sem pressa e dá
seu parecer: “- é, para sua idade, até
que você esta bem”. Tenho vontade de perguntar o que significa a expressão “pra sua idade”. Significa que tivesse eu
10 anos a menos, poderia preparar o velório? Resolvi me manter em silencio,
porque explicação de médico é sempre complicada. Quando me preparava para me
levantar e ir embora, ele atacou:
- “você sabe que nestes
05 anos que é um paciente, você engordou 15 quilos?”
- “tá bom – respondi eu
– uma média de 03 quilos por ano é bastante razoável “pra minha idade”.
Ele voltou ao ataque: “não
está nada bom! Experimente carregar um saco de 15 quilos de arroz, 24 horas por
dia”.
Não deixei barato: “a
troco de que eu sairia por aí, o dia inteiro, sem dormir, carregando um saco,
contendo 15 quilos de arroz?”
Ele riu, ficou sério e seguiu em frente: “você precisa perder, pelo menos, 10 quilos.
Quais são seus hábitos alimentares?”
- Os melhores possíveis: amo de paixão uma picanha, ao ponto
pra bem, regada na cebola, acompanhada de feijão tropeiro, recheado de bacon.
- “E bebida?”
Perguntou ele
- “Todas, sem
preconceito entre destiladas e fermentadas, de preferência vinho no inverno,
cerveja, no verão e uísque em qualquer época do ano.”
- “E doce, você gosta?”,
arrematou
- “Todos, à exceção de
doce de laranja, mas de preferência doce de padaria, doce de leite, pé de
moleque, paçoca e leite condensado é de tomar de colher. Chocolate, todos, mas,
em especial, os recheados com licor. Sorvete é ótimo, especialmente os de
fruta, mas, ficam no ponto certo quando se lhes adiciona uma colher de sopa de açúcar.”
Ele me olhou, ligeiramente espantado, fez aquele ar solene de
quem vai dar péssima noticia e arrematou:
“Péssimos hábitos os
seus, que precisam ser mudados. Você gosta de salada?”
“Abomino – respondi eu –
tem gosto do molho ou do azeite colocado. Quanto ao azeite, tudo bem, desde
que, em se lhe ajuntando sal e alcaparra, possamos chuchá-lo no pão italiano”.
- “E peixe, você gosta?”
Perguntou ele.
- “Também detesto, só
vale pelo molho. Prefiro carne de porco, assada, frita, cosida com mandioca, então,
é de comer ajoelhado.”
- “Você faz exercícios?”,
quis saber ele.
- “Já corri e andei
muito, mas como não achei nada, além de dores nas costas, hoje prefiro ler.
Aliás, meu caro doutor, o senhor quer que eu perca 10 quilos e o que eu vou
ganhar com isto?”
- “Melhor condição de
vida, é claro!”.
- “Então abro mão de
tudo que gosto e passo a fazer tudo que detesto e o senhor ainda chama isto de
melhor condição de vida?”
- “Você não precisa se
privar de todas estas coisas, apenas consumi-las, com moderação. Por exemplo, a
invés de beber uma garrafa de vinho, tome apenas uma taça. Em lugar de uma
caixa de chocolate, coma apenas um”.
- “Meu querido médico, o
que o senhor me propõe é mais ou menos o seguinte: vou pra cama com uma mulher
linda, ardente, escultural, dispo-a e, quando ela está totalmente disponível e
eu “naquele ponto”, dou-lhe um beijo, viro pro canto e durmo. O senhor acha que
isto faz algum sentido?”
Ele se despede de mim, em silencio. Perdera a batalha e eu
prometo voltar, daqui a um ano, provavelmente com mais 03 quilos da verdadeira “qualidade de vida”.
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