Cheguei a São Paulo, vindo do interior de Minas e aqui
completei o curso colegial, fiz Faculdade e comecei a trabalhar. No começo dos
anos 70, mudei-me par o Rio, onde morei até o começo dos anos 80, quando
retornei a “Sampa”. Sou, portanto,
mistura de 03 culturas diferentes , principalmente com suas “expressões idiomáticas”
características. Às vezes embolo o meio campo, como, por exemplo, chamar
semáforo de “farol”, no Rio e de “sinal”, em São Paulo. A adaptação ao
Rio não trouxe maiores dificuldades, até porque aquela Cidade é a mais
cosmopolita do País. Talvez seja mais fácil encontrar um mineiro, por lá, do
que um carioca autêntico. Dificuldade mesmo foi me adaptar a São Paulo, vindo
do interior de Minas. Para começo de conversa, até hoje não sei porque, fui
estudar em um colégio, mantido pelo consulado francês, onde todo mundo parecia
falar francês, o que me deu vontade de sair correndo. Andar pelos lugares
nobres da cidade, então, era insuperável sacrifício. Nos cinemas melhores só se
entrava de terno e gravata e eu era possuidor de um único, que brilhava à
distancia, de tanto uso. No “cine
Marrocos”, ali nas bandas da São João, orquestra tocava música clássica,
antes de começar o filme. Sabe lá o que é isto, para um interiorano, onde o
único cinema tinha poltronas de madeira? E as comidas então? Certa feita, recém
chegado, vou com meu cunhado a um restaurante giratório – apenas a mesa girava
-, especializado em massas. Olho o cardápio e pergunto baixinho: - “o que é “gronque”. Meu cunhado olha
espantado e depois, entre risadas, explica-me que se fala “nhoque”, o que, em minha terra, em minerês, chamávamos “tufin”, que nada mais era do que um
macarrão, em tamanho menor e “estufado”,
daí a expressão “tufin”, que é a
forma apocopada de “tufinho”, neologismo
puro. Expressões como “a La carbonara”,
“gratinado”, soavam-me como sânscrito
e me faziam suar frio. Fiquei amigo (amizade que conservo, até hoje, com muito
orgulho) de colega de família para lá de quatrocentona. Certa feita, ela me
convidou para jantar e eu tive a irresponsabilidade de aceitar. Eis que me vejo
diante de copos e talheres enfileirados, como soldados marchando para a guerra.
Por onde começar? Pânico total! O pai, socialista convicto (fato que, por
óbvio, ignorava) e eu, querendo me mostrar, a elogiar e citar Carlos Lacerda,
meu ídolo de sempre. O silencio absoluto, em torno da mesa, deu-me a certeza
que brilhara. Após saber a verdade, fiquei muito tempo sem passar por lá. E ir
ao banheiro? Preferível bexiga estourando do que dar descarga. Não entendo
porque não inventaram descarga silenciosa. E por que o lavabo precisa ficar
colado à sala de estar? Eram terríveis os perigos, para quem, como eu, vinha do
interior, onde ervilha chamava-se “petit
pois”, cinto chamava-se “currião”, cadarço
chamava-se “atecador” e se cobrir com
cobertor, chamava-se “rebuçar”. Os
anos passaram, “civilizei-me”, mas os
neologismos ficaram impregnados em minha memória, como sinais de um tempo em
que ainda tinha tempo para pensar em futuro.
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