Ontem, 18, eleição para a nova Diretoria da Ordem dos
Advogados. Voto na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde votam
os “dinossauros” da profissão:
senhores de cabelos brancos – quando os têm – e pele enrugada. Minha seção fica
no 3º andar. Ainda bem que o elevador está funcionando, porque seria duro subir
tantos lances de escada. Um senhor, provavelmente irmão de Matusalém, abre um
sorriso em minha direção, achega-se, em passos miúdos, abraça-me forte,
visivelmente emocionado: - “como vai, há
quanto tempo, você está ótimo.” Não tenho a menor ideia de quem seja, mas
pode ser qualquer um de nós, afinal velho é como recém nascido, somos todos
mais ou menos iguais. Ele me arrasta, até o elevador, falando dos bons tempos
das arcadas. Descemos no 3º andar e ele não se contem: “lembra-se, nesta sala tínhamos aula de Direito do Trabalho, com
Cesarino Jr!” É claro que eu não me lembrava, nem podia me lembrar. Estudara
na PUC e, quanto a Cesarino Jr, só o conhecia de nome, mas tinha eu o direito
de ofuscar o brilho das lembranças que o majestoso casarão emocionavam o velho
colega? Votamos em salas contiguas e ele pediu que o esperasse. Em menos de um
minuto exerci meu direito e me postei à espera do “dileto colega”, que fez questão de cumprimentar e conversar,
demoradamente, com os mesários, advogados ancestrais, como nós. Ele me tomou
pelo braço, percorrendo todo o andar, parando em casa sala, dividindo comigo
memórias, que eram só deles. Evocou o nome de colegas de turma, perguntou-me do
paradeiro de alguns e eu apenas sorria, intrometendo-me naquele sonho alheio. Na
saída, abraçou-me, mais emocionado ainda, combinando um almoço, “naquele restaurante dos bons tempos” que
eu não sabia qual era. Por sorte, ele não perguntou meu nome e eu, por
precaução, não perguntei o dele. Apenas dois velhos, perdidos na neblina do
tempo.
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