Agenda não é coisa que compro, porque sempre as ganho, até em
demasia. Por isso, enquanto elas não chegam, vou marcando meus compromissos,
para o próximo ano, na última pagina da agenda atual, já caindo em desuso.
Assusto-me com audiência designada para 08 de fevereiro, um dia após meu
aniversario. Assusto-me pela idade que vou completar (e que não revelo nem sob
tortura) e assusto-me pelo tempo que estou nesta lida, ainda com disposição
para os enfrentamentos, tantos os são. Já me cedem lugar no metrô, tenho acesso
a guichês preferenciais, paro em vagas de idosos. Privilégios concedidos, que,
em um primeiro momento, relutei em usá-los. Depois, cheguei à conclusão óbvia
que, usando-os ou não, eu continuava a ser, material e juridicamente falando,
um idoso. Viajo no tempo e constato a relatividade de tão incômodo objetivo.
Quando estava no curso clássico (extinto, em nome da generalização do ensino)
meus professores deveriam estar na faixa dos 40 e nós, seus alunos, os
considerávamos ‘’idosos’’. O chamado
temor reverencial, mantido em relação a eles, advinha não só da majestade da
função – ser professor -, mas, principalmente, da idade ‘’provecta’’ dos
mesmos. Fico a imaginar com que olhos meus netos me vêem. Com certeza, como
aquele velhinho, com quem tem que se tomar cuidado e cuja opinião se ouve, com
aquele olhar ausente, próprio dos jovens. Convivo com colegas, ainda não
chegados aos 60 e que se consideram exauridos pela profissão, a sonhar com o
premio da ‘’mega’’, a remeter-lhes
mundo afora, ou a uma confortável casa de campo, onde poderão ouvir ‘’muitos rocks rurais’’. Pois eu não
almejo ‘’casa no campo’’ (até porque
sou bicho do mar, embora tenho nascido muito longe dele) e muito menos bater
perna pelo mundo, com esses malucos explodindo e matando, em nome de Alá.
Relembro meu saudosíssimo amigo, o Ministro Abelardo Jurema, uma das melhores
figuras humanas, com que tive o privilegio de conviver, que, no exterior, ao
ser convidado a visitar museu, recusava-se, porque, dizia, ‘’prefiro ver a vida bulindo’’. Também
esse é meu sentir: o que nos mantém vivos, fazendo a carga dos anos menos
pesada, é a vida ‘’bulindo’’,
agitada, sem tempo para fazer todas as coisas, o barulho dos carros, a fumaça
que cobre a cidade, como espessa nuvem, as coxas torneadas que passam,
apressadas, o sufoco para ‘’ganhar o pão
com o suor do próprio rosto’’. Ao dizer isto a Adão, equivocam-se os que
entendem ter sido uma maldição de Deus. Na verdade, foi um voto de confiança,
dado a um ser que Ele criou a sua imagem e semelhança. Para mim, nada mais
melancólico do que idosos, no frenesi de um dia útil, sentados em praças e
parques, jogando dama ou cartas. Na verdade, aguardam, inertes, a chegada da
morte, enquanto, na avenida ao lado, a vida segue, em todo o seu esplendor.
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