Pelas mãos de ancestral cliente e dileto amigo, recebo o
livro ‘’Judas’’, do autor israelense,
Amós Oz, até então meu desconhecido. Tendo como ‘’pano de fundo’’ os desenganos
de um jovem, preterido no amor e atingido pela falência do pai, o que o obriga
a abandonar a universidade e aceitar emprego de cuidador de idoso inválido, o
autor desenvolve duas teses, a merecerem especial reflexão: a criação do Estado
de Israel, nos anos 40, usurpando territórios palestinos.
Talvez, se tivesse sido criado um Estado único, abrigando árabes e judeus, os
setenta anos de uma guerra inacabada não estariam acontecendo. E, a segunda
tese, mais importante, tanto que dá título ao livro, é sobre a participação de
Judas Iscariotes na vida e morte de Jesus Cristo. Teria sido Judas, realmente,
o traidor, que entregou Cristo a seus algozes, mediante a paga de 30 moedas de
prata? O autor nos apresenta um ‘’outro’’
Judas: de família abastada (o que afastaria a tese do suborno), em um primeiro
momento, ‘’agente infiltrado’’ pelos
sacerdotes, para descobrir quem era e o que queria aquele ‘’novo profeta’’. Com
o tempo se apaixona pela doçura, pela singeleza das parábolas e pela
sinceridade de seus ensinamentos e passa a crer nele, como ‘’Filho de Deus’’. Judas, o mais culto, o
único rico entre os apóstolos, assume papel de liderança e se torna o ‘’tesoureiro’’ do grupo. Convence Jesus a
deixar as aldeias e ir para Jerusalém, ensinar a verdade, deixar-se prender e
ser crucificado e, nesse momento, diante dos judeus, dos sacerdotes e dos
soldados romanos, realizou o maior de todos os milagres: despregou-se e desceu
da cruz. A ficção do autor impõe-nos necessária reflexão: e se esse milagre
realmente tivesse sido realizado? Por certo, teria mudado a historia do mundo e
das religiões surgidas, a partir de Cristo. Acabei de ler o livro às 4 horas de
uma madrugada e não mais me encontrei com o sono, ficando com uma pergunta,
martelando minha cabeça: que imagem é mais impactante e revestida de maior
simbologia, a do Cristo crucificado, ou a do Cristo, descendo da cruz? Olho
para o Cristo crucificado, pendurado na parede defronte e tenho a impressão que
ele sorri, apiadado de minha ignorância.
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