O mal nosso de cada dia
Quando acessamos os veículos de comunicação, surpreendemo-nos
como o mundo, de modo generalizado, vive momentos permanentes
de intolerância, que vai, desde minúsculas brigas de trânsito, até
inexplicáveis genocídios, como os praticados por grupos radicais. No plano
individual, a cordialidade – que já foi considerada característica do
brasileiro – passou a ser ‘’avis rara’’,
substituída que foi pela irritabilidade, que aflora, sem causa relevante, desde
o ambiente familiar, até os grandes conflitos mundiais.
Infindáveis são os exemplos que podem ser dados. No cenário
interno, a última campanha presidencial gerou sectarismo tal, que se tornou,
praticamente impossível, estabelecer-se um pacto, pelo menos razoável, que
livre o Brasil da ‘’trombada econômica’’,
que se avizinha e que nos atingirá, a todos nós. A Presidente da República
recusa-se a descer do salto alto, reconhecer que perdeu o controle da situação
e pedir ajuda, a quem pode ajudar, no caso, os segmentos representativos da
classe empresarial e dos trabalhadores. Como, para esses, os interesses
políticos prevalecem, instala-se o ‘’quanto
pior, melhor’’ que desestabiliza o governo e torna mais iminente a ‘’trombada’’. Por certo, quando essa
chegar, só deixará vencidos, empresários e trabalhadores. Quando esticamos
nossos olhos, mundo afora, deparamos com cenário igualmente desolador:
genocídios praticados pelo ‘’Estado Islâmico’’; atentados terroristas na
Espanha; repressão policial na China, por supostos delitos de opinião; idem na
Venezuela; recrudescimento de conflitos raciais nos Estados Unidos. E, incapaz
de superar suas divergências, individuais e coletivas, o homem se empenha para,
‘’até 2025, encontrar vida fora da
terra’’. Por óbvio, já não havendo espaço suficiente para tantas desavenças
por aqui, buscam-se, novos campos de batalha. Porque estou a dizer tudo isto,
nesta manhã de uma ensolarada quinta-feira? Porque acabamos de viver a chamada
‘’Semana Santa’’, quando a vida, paixão
e morte de Jesus Cristo foi relembrada, em toda a sua intensidade, pelos
veículos de comunicação, vida, paixão e morte que tiveram, como único objetivo,
trazer à humanidade uma simples lição de bem viver: ‘’amai-vos uns aos outros’’. Há quem afirme que Cristo foi
mensageiro de uma utopia, porque, ao longo de quase 2.050 anos, sua lição nunca
foi aplicada. O homem continua sendo, cada vez mais, ‘’o lobo do homem’’ e não há o menos sinal que mudança ocorrerá.
Theodore Dallrymple, citado pelo filósofo, Luiz Felipe Pondé, em sua imperdível
obra ‘’A Era do Ressentimento’’,
afirma que ‘’a elevação dos direitos e
benefícios tangíveis leva as pessoas, inevitavelmente, a uma mentalidade vil
que oscila entre ingratidão, na melhor das hipóteses – pois por que razão elas
deveriam ser gratas por receberem algo que é um direito – e, na pior das
hipóteses, ressentimento’’. E o
mesmo filosofo, na obra citada, afirma que nossa época será lembrada, daqui a
alguns séculos, como “a era do
ressentimento”.
Fico a duvidar se, ao invés de descansar no sétimo dia, não teria
sido melhor que Deus “desfizesse” o
ser humano que construiu e que não guarda com ele qualquer semelhança.
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