segunda-feira, 27 de abril de 2015

A pesquisa da felicidade


Segundo pesquisa, realizada por entidade, ligada à ONU, o Brasil subiu oito posições e chegou ao 16º lugar no ‘’ranking de felicidade”, sendo que o país mais feliz do mundo é a Suíça, seguida por Islândia, Dinamarca e Noruega. A melhor ou pior colocação no ‘’ranking da felicidade’’, se deve a variáveis, como PIB per capita, expectativa de vida, níveis de corrupção e liberdades individuais.

Não levo muita fé – para dizer nenhuma – nessa pesquisa. Para começo de conversa, já considero muito difícil conceituar ‘’felicidade’’. É estado transitório ou permanente? Depende, primordialmente, de fatores objetivos, como os especificados na pesquisa, ou se submete às alegrias e tristezas vividas por cada qual? Quem é mais feliz, ou infeliz, o pescador, que nunca teve nada, ou o milionário, que perdeu tudo? Eu, cá de mim, cheio de pretensão, ouso dizer que felicidade é estar em harmonia consigo mesmo, o que é uma coisa pra lá de complicada, tantas são as tribulações pelas quais passamos, em nosso cotidiano. De qualquer maneira, mesmo que seja possível fazer pesquisa, sobre o ‘grau de felicidade das pessoas, essa será sempre viciada, porque cada ser humano tem seu ‘’quid proprium’’, suas alegrias e tristezas. Agora, pelos critérios utilizados, é até fazer pouco caso de nossa inteligência concluir que o Brasil ocupa o 16º lugar. Se o PIB é a soma de tudo o que um País produz e, atualmente, nosso PIB é 0, podemos concluir que nosso PIB, ‘’per capita’’, também é pífio. Para chegar a esta conclusão, tomemos alguns exemplos: o atual nível de empregos formais é o mais baixo dos últimos 15 anos; nosso ensino é um dos mais desacreditados do mundo; a saúde publica chegou a tal grau de abandono, que o poder público não consegue nem mesmo controlar o surto da dengue; a inflação atingiu tal índice (muito acima dos oficiais 8%) que mesmo a classe media tem que conter o consumo de produtos básicos. Então, fica a pergunta: como pode se afirmar ser feliz um povo que vê o desemprego crescer, a educação falir, que é absolutamente carente de assistência à saúde e cujo poder aquisitivo está sendo, progressivamente, corroído? Quanto ao ‘’nível de corrupção’’, em que local a pesquisa foi feita, para nos colocar em 16º lugar? A ‘’petropropina’’, cuja extensão ainda não está totalmente desvendada, já é considerada o maior caso de corrupção institucionalizada, do mundo. Órgão de Julgamento de Recursos da Receita Federal envolveu-se em esquema de corrupção, que gerou algo em torno de 20 bilhões de prejuízo aos cofres públicos. O ex-presidente Lula é capa da ‘’Veja’’, da ultima semana, por ‘’favores’’ recebidos de construtora, envolvida, até o pescoço, na operação ‘’lava jato’’. E ainda falta abrir a ‘’caixa preta’’ do BNDES da Eletrobrás, de Furnas etc, etc. No campo das liberdades individuais, teimo em afirmar não serem elas bens abstratos. Cito o poeta: ‘’Liberdade, liberdade, para que vos quero?’’ Por certo, não é para ver professores paralisarem suas atividades, reivindicando melhores condições de sobrevivência. Por certo, não é para ver infelizes morrerem às portas dos hospitais públicos, por falta de atendimento. Por certo, não é para ver destacadas figuras do mundo político, envolvidas em escabrosos casos de corrupção. Por certo, não é sairmos de casa, para o trabalho, sem sabermos se voltaremos vivos, porque o assaltante, impune, espera-nos à esquina. A felicidade, que me perdoe meu amado Jobim, não é ‘’a gota de orvalho que cai numa pétala de flor’’. É muito mais: é ter a tranquilidade de que nosso trabalho nos é recompensado pela segurança de que vivemos em um País, cujo governo nos respeita como cidadãos, o que não é o caso deste, que aí está, a nos tratar como se fossemos indigentes. 

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