terça-feira, 9 de setembro de 2014

Por causa desta tal de “governabilidade
Dilma, agora ameaçada no que parecia ser mero passeio para permanecer no Planalto, volta suas baterias contra Marina e afirma que ela, membro de pequeno partido (o PSB fará, se tanto, 40 Deputados Federais) se eleita, não terá condições de governabilidade e cita os exemplos de Jânio e de Collor. Dilma é ruim de História e, para variar, convive mal com a verdade. Jânio foi eleito por um leque aberto de importantes partidos políticos, como a UDN e o PDC, partido esse que tinha dentre outros, líderes da importância de Franco Montoro e Queiroz Filho. Jânio quis dar um “golpe branco”, Lacerda denunciou e o tiro saiu pela culatra. Collor governou, ou começou a governar com o apoio do PMDB e quem o derrubou foram as denuncias do irmão, muito bem exploradas pela mídia. Quanto à necessidade de se fazer um grande arco de aliança, para se ter condições de governar, os últimos fatos indicam quão nocivo é tal arco para o País. A denuncia, formulada pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto, dá a dimensão exata das conseqüências desse apoio conquistado: 12 Senadores e 49 Deputados, todos da base do governo, dividindo polpudas propinas, decorrentes de contratos da Petrobrás. Antes, já tinham sido denunciadas falcatruas nos Ministérios das Cidades, da Saúde e dos Transportes, o que nos leva a concluir, sem muito esforço, que o “propinapoio” era amplo, geral e irrestrito. A Presidente, seguindo a lição de seu mestre e antecessor, diz que de nada sabia e vai determinar “rigorosa investigação”, o que, no petismo, significa “vamos boicotar as investigações, até a imprensa esfriar”. Paulo Roberto, ao que tudo indica, era mero instrumento para propiciar essa tal de governabilidade, versão Petrobrás do Marcos Valério. Quando o caldo desse último entornou, prometeram que ele seria blindado. Levou 40 anos e José Dirceu, considerado o chefe do bando, dentro de poucos meses, estará na rua. Talvez tenham prometido o mesmo a Paulo Roberto que, sabendo que não dá para confiar no PT e seus aliados, optou pela delação premiada, entregando todo o esquema. Marina já sabe em quem não pode confiar e uma triagem mais apurada, tornará a lista de Paulo Roberto muito mais extensa. Marina surge como esperança de novo tempo, tempo em que a coisa pública seja tratada com respeito. Se vai conseguir, só o tempo dirá, mas, o mais importante é o tempo do PT, com sua decepção, com nódoa moral, que não se desmancha, felizmente esse maldito tempo, acabou.
Meu irmão, petista de primeira hora e virgindade intacta, lá do interior da Bahia, insurge-se contra meus ataques a “seu” PT. Transcrevo o e-mail dele, bem como minha resposta, apenas para esclarecer que ideologia e fraternidade não se excluem.

Prezado Saul:
Tenho recebido, quase que diariamente, suas postagens políticas. Pratico a velha e boa tese do mestre Ulysses Guimarães de que apenas as idéias devem se chocar, não se caminhando para terrenos pessoais, como você, subitamente, vem fazendo, não comigo, mas com algumas velhas convicções que me guiaram e guiam pela vida. Seus escritos atingem o meu partido de maneira escorchante e envolvem todos os nossos filiados em um mesmo e degradante perfil, colocando-nos como ladrões, corruptos e outras amabilidades. É preciso que esse ódio que vem possuindo todos os seus escritos tenha algumas considerações que passo a alinhar: é injusto de sua parte, misturar na vala comum dos crimes todos os ativistas do partido. Existe uma militância honesta, que nem sabia do mensalão ou de outras falcatruas e que não concordam com elas. Aqui em Teixeira, por exemplo, ninguém da militância sabia dos mal feitos. Inclusive, nas reuniões da Executiva, da qual faço parte, sou considerado persona non grata, pois critico quaisquer práticas danosas da cúpula. Quando alguém diz que todos os partidos têm essas práticas, vou à loucura da ira, pois aprendi que o PT sempre professou a ética política e a prática da moralidade pública, ou pelo menos deveria. A minha vida política é ilibada, não tergiverso com a corrupção e hoje ocupo um cargo público (Diretor de Cultura) que é considerado o de mais eficiência e moralidade do município. Não me sinto confortável quando você me coloca na vala comum da imoralidade política, pois nem nela pretendo conviver com os imorais que pululam nesse universo, chamem-se eles Aécio, Marina, Maluf, Dirceu ou quem quer que seja. A vida me fez dar alguns escorregões e você sabe disso, mas tenho procurado me redimir de tais erros. Estou no PT em uma luta de muitos de nós: fazer o partido  retornar ao que era em seu início. Perder eleições ou ganhar eleições são faces, verso e anverso, da mesma moeda. A democracia pressupõe essas chances e só fanáticos se julgam salvadores de um país ou de uma cidade pela via partidária. Quero continuar recebendo seus escritos (você sabe o quanto os admiro, apenas menos do que admiro Saul Cordeiro como ser humano e irmão), mas precisava fazer esses esclarecimentos. Suas convicções são suas, mas entendo que não é justo você jogar todos os militantes do PT na vala comum dos defeitos que vocês imputam ao partido, muitos verdadeiros, outros não.
Sou um apaixonado racional e sei ponderar nossas mazelas e entendo que você tem motivos para odiar um partido que sempre esteve no caminho inverso de suas convicções: a única coisa que não temos direito é de embarcar na injustiça e nas generalizações espúrias.”
Com muita saudade,
Ramiro

Em 8 de setembro de 2014 09:16, Advocacia Cordeiro da Luz <cordeirodaluz@uol.com.br> escreveu:
Prezado Ramiro,

Em primeiro lugar, saiba que me sinto envaidecido por ter você como leitor de minhas "mal traçadas" firulas, escritas por mero diletantismo. Entendo sua rabugice, quase indignação, com meus ataques ao PT, mas, de larga data, nós, daqui do outro lado do rio ideológico, levamos porradas de todos os gêneros e fomos acusados, desde a degeneração dos costumes morais, até os mais deslavados atos de corrupção. Depois, "a classe operária chegou ao paraíso", digo, ao poder, para recuperar a moral destroçada pela "burguesia" e colocar o Brasil no primeiro mundo. Em pouco tempo, lambuzou-se, à farta, com as regalias e meteu o pé na jaca, digo, no dinheiro público. E uns poucos - como você -, presos a seus ideários, sentaram no chão e choraram os princípios esgarçados. Nós, do lado de cá, que não acreditamos que a classe operária possa chegar ao paraíso, digo, ao poder, olhamos esse melancólico fim do PT, rimos com isso, mas nos preocupamos. Logo, logo teremos uma "doméstica", no poder e, se ela não puder ser "domesticada", tornar-nos-emos, definitivamente, um país do mundo africano, com seu atraso econômico, com seu primitivismo social e até, com direito a "ebola". Quem sabe, nesse dia, não sentiremos, nós, do lado de cá, saudades do PT?”

Abraços fraternais,




  

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