Por causa desta tal de “governabilidade”
Dilma, agora ameaçada no que parecia ser mero passeio para
permanecer no Planalto, volta suas baterias contra Marina e afirma que ela,
membro de pequeno partido (o PSB fará, se tanto, 40 Deputados Federais) se eleita,
não terá condições de governabilidade e cita os exemplos de Jânio e de Collor.
Dilma é ruim de História e, para variar, convive mal com a verdade. Jânio foi
eleito por um leque aberto de importantes partidos políticos, como a UDN e o
PDC, partido esse que tinha dentre outros, líderes da importância de Franco
Montoro e Queiroz Filho. Jânio quis dar um “golpe
branco”, Lacerda denunciou e o tiro saiu pela culatra. Collor governou, ou
começou a governar com o apoio do PMDB e quem o derrubou foram as denuncias do
irmão, muito bem exploradas pela mídia. Quanto à necessidade de se fazer um
grande arco de aliança, para se ter condições de governar, os últimos fatos
indicam quão nocivo é tal arco para o País. A denuncia, formulada pelo
ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto, dá a dimensão exata das conseqüências
desse apoio conquistado: 12 Senadores e 49 Deputados, todos da base do governo,
dividindo polpudas propinas, decorrentes de contratos da Petrobrás. Antes, já
tinham sido denunciadas falcatruas nos Ministérios das Cidades, da Saúde e dos
Transportes, o que nos leva a concluir, sem muito esforço, que o “propinapoio” era amplo, geral e
irrestrito. A Presidente, seguindo a lição de seu mestre e antecessor, diz que
de nada sabia e vai determinar “rigorosa
investigação”, o que, no petismo, significa “vamos boicotar as investigações, até a imprensa esfriar”. Paulo
Roberto, ao que tudo indica, era mero instrumento para propiciar essa tal de
governabilidade, versão Petrobrás do Marcos Valério. Quando o caldo desse
último entornou, prometeram que ele seria blindado. Levou 40 anos e José
Dirceu, considerado o chefe do bando, dentro de poucos meses, estará na rua. Talvez
tenham prometido o mesmo a Paulo Roberto que, sabendo que não dá para confiar
no PT e seus aliados, optou pela delação premiada, entregando todo o esquema.
Marina já sabe em quem não pode confiar e uma triagem mais apurada, tornará a
lista de Paulo Roberto muito mais extensa. Marina surge como esperança de novo
tempo, tempo em que a coisa pública seja tratada com respeito. Se vai
conseguir, só o tempo dirá, mas, o mais importante é o tempo do PT, com sua
decepção, com nódoa moral, que não se desmancha, felizmente esse maldito tempo,
acabou.
Meu irmão, petista de primeira hora e virgindade intacta, lá
do interior da Bahia, insurge-se contra meus ataques a “seu” PT. Transcrevo o e-mail dele, bem como minha resposta, apenas
para esclarecer que ideologia e fraternidade não se excluem.
“Prezado
Saul:
Tenho recebido, quase que
diariamente, suas postagens políticas. Pratico a velha e boa tese do mestre
Ulysses Guimarães de que apenas as idéias devem se chocar, não se caminhando
para terrenos pessoais, como você, subitamente, vem fazendo, não comigo, mas
com algumas velhas convicções que me guiaram e guiam pela vida. Seus escritos
atingem o meu partido de maneira escorchante e envolvem todos os nossos
filiados em um mesmo e degradante perfil, colocando-nos como ladrões, corruptos
e outras amabilidades. É preciso que esse ódio que vem possuindo todos os seus
escritos tenha algumas considerações que passo a alinhar: é injusto de sua
parte, misturar na vala comum dos crimes todos os ativistas do partido. Existe
uma militância honesta, que nem sabia do mensalão ou de outras falcatruas e que
não concordam com elas. Aqui em Teixeira, por exemplo, ninguém da militância
sabia dos mal feitos. Inclusive, nas reuniões da Executiva, da qual faço parte,
sou considerado persona non grata, pois critico quaisquer práticas danosas da
cúpula. Quando alguém diz que todos os partidos têm essas práticas, vou à
loucura da ira, pois aprendi que o PT sempre professou a ética política e a
prática da moralidade pública, ou pelo menos deveria. A minha vida política é
ilibada, não tergiverso com a corrupção e hoje ocupo um cargo público (Diretor
de Cultura) que é considerado o de mais eficiência e moralidade do município.
Não me sinto confortável quando você me coloca na vala comum da imoralidade
política, pois nem nela pretendo conviver com os imorais que pululam nesse
universo, chamem-se eles Aécio, Marina, Maluf, Dirceu ou quem quer que seja. A
vida me fez dar alguns escorregões e você sabe disso, mas tenho procurado me
redimir de tais erros. Estou no PT em uma luta de muitos de nós: fazer o
partido retornar ao que era em seu início. Perder eleições ou ganhar
eleições são faces, verso e anverso, da mesma moeda. A democracia pressupõe
essas chances e só fanáticos se julgam salvadores de um país ou de uma cidade
pela via partidária. Quero continuar recebendo seus escritos (você sabe o
quanto os admiro, apenas menos do que admiro Saul Cordeiro como ser humano e
irmão), mas precisava fazer esses esclarecimentos. Suas convicções são suas,
mas entendo que não é justo você jogar todos os militantes do PT na vala comum
dos defeitos que vocês imputam ao partido, muitos verdadeiros, outros não.
Sou um apaixonado racional e sei
ponderar nossas mazelas e entendo que você tem motivos para odiar um partido
que sempre esteve no caminho inverso de suas convicções: a única coisa que não
temos direito é de embarcar na injustiça e nas generalizações espúrias.”
Com muita saudade,
Ramiro
Em 8 de
setembro de 2014 09:16, Advocacia Cordeiro da Luz <cordeirodaluz@uol.com.br> escreveu:
Prezado
Ramiro,
“Em primeiro lugar, saiba que me sinto
envaidecido por ter você como leitor de minhas "mal traçadas" firulas, escritas por mero diletantismo.
Entendo sua rabugice, quase indignação, com meus ataques ao PT, mas, de larga
data, nós, daqui do outro lado do rio ideológico, levamos porradas de todos os
gêneros e fomos acusados, desde a degeneração dos costumes morais, até os mais
deslavados atos de corrupção. Depois, "a classe operária chegou ao paraíso", digo, ao poder, para
recuperar a moral destroçada pela "burguesia"
e colocar o Brasil no primeiro mundo. Em pouco tempo, lambuzou-se, à farta, com
as regalias e meteu o pé na jaca, digo, no dinheiro público. E uns poucos -
como você -, presos a seus ideários, sentaram no chão e choraram os princípios
esgarçados. Nós, do lado de cá, que não acreditamos que a classe operária possa
chegar ao paraíso, digo, ao poder, olhamos esse melancólico fim do PT, rimos
com isso, mas nos preocupamos. Logo, logo teremos uma "doméstica", no poder e, se ela
não puder ser "domesticada",
tornar-nos-emos, definitivamente, um país do mundo africano, com seu atraso
econômico, com seu primitivismo social e até, com direito a "ebola". Quem sabe, nesse dia,
não sentiremos, nós, do lado de cá, saudades do PT?”
Abraços
fraternais,
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