Por Causa de Gabriel Garcia Marquez
Tenho especial predileção pelo escritor Gabriel Garcia
Marquez, que nos deixou este ano. Seu “Cem
Anos de Solidão” talvez seja uma das mais importantes obras da literatura
sul-americana. Sempre me encontro, um pouco, em seus personagens. Foi a
releitura das “Memórias de Minhas Putas
Tristes”, editada em 2004, que me remeteu à longínqua juventude. Naquela
época, mesmo numa grande cidade, como São Paulo, um jovem, com 16 anos, não
tinha como satisfazer sua libido, a não ser rendendo homenagem ao deus Onam. As
namoradas daquela época não permitiam além do beijo e isto depois de um mês de
namoro. Quando de férias, em minha pequena cidade, a zona boemia era o caminho
natural. Comecei a freqüentá-la com pouco mais de 15 anos, já que não existia –
pelo menos lá – essa “proibição para
menores”. A principio, incursões tímidas, feitas ao cair da noite, quando
as “casas” estavam abrindo suas
portas e as “mulheres-damas”
rescendendo a sabonete e perfume barato, preparavam-se para a jornada. Todavia,
a intimidade com o ambiente só vim a adquiri-la alguns anos mais tarde, já
morando em São Paulo e lá indo em férias escolares. A rotina era imutável: eu e
um grupo de amigos – 10, se tanto -, encontrávamo-nos na porta do principal
cinema da cidade, por volta das 07 da noite. Jogávamos conversa fora, olhávamos
as moças que faziam o “footing” (um
dia ainda falo sobre isto) e depois ocorria momentânea dispersão: uns iam
namorar, outros ao cinema, outros subiam ao salão de sinuca. Por volta das 10
da noite, voltávamo-nos a nos encontrar e seguíamos, em comitiva ambulante
(nenhum de nós tinha automóvel), em direção à Rua Francisco Sá, onde se situavam
os puteiros de melhor nível. Nosso preferido era um instalado em rua
transversal, no começo da “zona” e
onde, fregueses (ou clientes) habituais, tínhamos, sempre, mesa disponível.
Grande galpão, com um salão ao centro, onde ficavam as mesas, a pista de dança
e, sobre um pequeno tablado, o conjunto musical, a tocar boleros e um “crooner” que cantava, de preferência,
Nelson Gonçalves e Altemar Dutra. Ladeando o salão, por trás, ficavam os
quartos para o “abate”, separados,
uns dos outros, por fina folha de compensado, o que gerava constrangedor
compartilhamento. Dos amigos mais constantes lembro-me de Leônidas, que lá ia
mais para conversar com as “meninas”;
de Claudio que ia mais pela dança do que pela transa; de Dely, muito feio, mas
muito espirituoso e que tinha o estranho hábito de tomar cerveja, comendo doce
de côco e Cacá, filho do Prefeito e que dava um certo ar de autoridade a nossa
mesa, conhecida e reconhecida como “a
mesa do filho do Prefeito”. Não posso me esquecer do Niltinho, que morreria
pouco tempo depois, em acidente de carro e que estava sempre apaixonado por uma
das “meninas” e se angustiava, se já
a encontrasse acompanhada. De “minhas
tristes putas” recordo-me, em particular, de uma morena, bastante alta e
absurdamente bonita, cuja marca registrada era um dente de ouro, que faiscava,
quando a luz apagava. Jovens madrugadas de julho, não mais as encontrarei.
Ficaram esquecidas na memória cansada e consumida pelo tempo, vento ligeiro e
sem freio, que nada detém.
Obrigado Gabriel Garcia Marquez
Nenhum comentário:
Postar um comentário