terça-feira, 16 de setembro de 2014

Por Causa de Gabriel Garcia Marquez
Tenho especial predileção pelo escritor Gabriel Garcia Marquez, que nos deixou este ano. Seu “Cem Anos de Solidão” talvez seja uma das mais importantes obras da literatura sul-americana. Sempre me encontro, um pouco, em seus personagens. Foi a releitura das “Memórias de Minhas Putas Tristes”, editada em 2004, que me remeteu à longínqua juventude. Naquela época, mesmo numa grande cidade, como São Paulo, um jovem, com 16 anos, não tinha como satisfazer sua libido, a não ser rendendo homenagem ao deus Onam. As namoradas daquela época não permitiam além do beijo e isto depois de um mês de namoro. Quando de férias, em minha pequena cidade, a zona boemia era o caminho natural. Comecei a freqüentá-la com pouco mais de 15 anos, já que não existia – pelo menos lá – essa “proibição para menores”. A principio, incursões tímidas, feitas ao cair da noite, quando as “casas” estavam abrindo suas portas e as “mulheres-damas” rescendendo a sabonete e perfume barato, preparavam-se para a jornada. Todavia, a intimidade com o ambiente só vim a adquiri-la alguns anos mais tarde, já morando em São Paulo e lá indo em férias escolares. A rotina era imutável: eu e um grupo de amigos – 10, se tanto -, encontrávamo-nos na porta do principal cinema da cidade, por volta das 07 da noite. Jogávamos conversa fora, olhávamos as moças que faziam o “footing” (um dia ainda falo sobre isto) e depois ocorria momentânea dispersão: uns iam namorar, outros ao cinema, outros subiam ao salão de sinuca. Por volta das 10 da noite, voltávamo-nos a nos encontrar e seguíamos, em comitiva ambulante (nenhum de nós tinha automóvel), em direção à Rua Francisco Sá, onde se situavam os puteiros de melhor nível. Nosso preferido era um instalado em rua transversal, no começo da “zona” e onde, fregueses (ou clientes) habituais, tínhamos, sempre, mesa disponível. Grande galpão, com um salão ao centro, onde ficavam as mesas, a pista de dança e, sobre um pequeno tablado, o conjunto musical, a tocar boleros e um “crooner” que cantava, de preferência, Nelson Gonçalves e Altemar Dutra. Ladeando o salão, por trás, ficavam os quartos para o “abate”, separados, uns dos outros, por fina folha de compensado, o que gerava constrangedor compartilhamento. Dos amigos mais constantes lembro-me de Leônidas, que lá ia mais para conversar com as “meninas”; de Claudio que ia mais pela dança do que pela transa; de Dely, muito feio, mas muito espirituoso e que tinha o estranho hábito de tomar cerveja, comendo doce de côco e Cacá, filho do Prefeito e que dava um certo ar de autoridade a nossa mesa, conhecida e reconhecida como “a mesa do filho do Prefeito”. Não posso me esquecer do Niltinho, que morreria pouco tempo depois, em acidente de carro e que estava sempre apaixonado por uma das “meninas” e se angustiava, se já a encontrasse acompanhada. De “minhas tristes putas” recordo-me, em particular, de uma morena, bastante alta e absurdamente bonita, cuja marca registrada era um dente de ouro, que faiscava, quando a luz apagava. Jovens madrugadas de julho, não mais as encontrarei. Ficaram esquecidas na memória cansada e consumida pelo tempo, vento ligeiro e sem freio, que nada detém.
Obrigado Gabriel Garcia Marquez

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