O Poder Judiciário de Pires na Mão
Se você perguntar a qualquer advogado como anda a justiça, no
Brasil, ele, com segurança, responderá: não anda. Somos um povo litigante e não
é por outra razão que, hoje, tramitam cerca de 90 milhões de processos no
judiciário nacional, o que dá uma média de 01 processo para cada dois
habitantes. Se seu processo tramita por uma das Varas da Fazenda Pública,
esqueça e não espere sentado, porque correrá o risco de morrer nessa posição. Se
tramita pela Justiça Federal, o resultado será colhido pelos seus netos ou
bisnetos. No ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo introduziu o
processo digital, marco do sepultamento do processo de papel. Melhorou?
Melhorou e piorou. Melhorou, porque não é mais necessário se deslocar ao fórum –
e deles os há por toda a Capital – para acompanhar a movimentação dos
processos. E piorou porque, como a lentidão é a mesma, não há a quem reclamar. Constitui
jargão popular que “justiça tardia, não é
justiça” e que, por isso, torna-se necessário agilizá-la. Mas, como tirar o
coelho da cartola ou botar o ovo em pé? Alguns afirmam que nosso ordenamento
jurídico é caquético, com tantos recursos – meio a atravancarem o andamento
processual. Não penso assim. A meu modestíssimo juízo, nosso Código de
Processo, editado em 1973, já era muito bom e, ao longo destes 40 anos,
submeteu-se a várias “cirurgias plásticas”
que o rejuvenesceram, dando ao Juiz instrumentos suficientes para decidir com
segurança. Então, onde reside o problema? Sempre achei que de nada adianta
nossa Constituição afirmar que os Poderes são independentes, se quem tem a
chave do cofre é o Executivo. A realidade é que os Presidentes dos Tribunais
ficam reféns dos Governadores e do Presidente da República, a mendigarem mais
verbas, seja para aumentar o efetivo de funcionários, seja para recuperar
prédios, comprar material ou até instalar novas Comarcas. Para se ter idéia
desta dependência do Judiciário, em relação ao Executivo, os jornais de ontem,
16, noticiaram que a Justiça Federal
entra em greve, em razão de corte nas verbas destinadas ao Poder Judiciário
Federal. A carga de trabalho dos serventuários da justiça, aí compreendidos os
juízes, é quase desumana. Quem duvidar, basta ir a um Cartório, no fórum da
Praça João Mendes, para ali encontrar poucos funcionários, escondidos atrás de intermináveis
pilhas de processos. Todos os juízes, sem exceção, trabalham, também, em suas residências
e, nos Tribunais, os Desembargadores julgam, diariamente, cem ou mais
processos. Vê-se, pois, que não se trata de “modernizar” o cipoal de leis. Talvez, aqui e ali, seja necessário,
pontualmente fazê-lo. Mas a solução, ou o caminho para ela seja mexer na infra-estrutura:
aumento do numero de serventuários, juízes, em todos os graus, criação de novas
Comarcas e novos fóruns regionais, salários justos, para todos. Entretanto,
para isso, repita-se, fundamental um Poder Judiciário verdadeiramente
independente, o que só é possível com autonomia financeira. Sem essa, continuaremos
a ter uma justiça, manietada em suas ações e assistiremos a essa degradante
situação do Poder Judiciário Federal ir à greve, porque o Executivo, draconianamente,
reduziu-lhe os já parcos recursos.
Com a palavra a Ordem dos Advogados.
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