sexta-feira, 23 de junho de 2017

Reflexões bíblicas de sexta-feira



Como já alardeei, sou católico, apostólico, romano, praticante. E, em matéria de religião, sou inteiramente tradicionalista. Mesmo reconhecendo metáforas, em certas páginas bíblicas, tenho-as como inquestionavelmente verdadeiras. Creio, por exemplo, que Deus criou o céu, a terra e tudo que nela há, inclusive Adão e Eva, expulsando-os do Paraíso, por terem comido do fruto da árvore proibida. Mas e a cobra falando, a induzir Eva? Aí é que entra a metáfora. Sabemos que o Diabo tem o poder de se apresentar de várias formas. Para Eva surgiu sob forma de cobra. Na verdade, ou foi pouco inteligente ou Eva muito burra, vez que seria mais lógico que ele, o Demônio, se apresentasse sob forma de camaleão (“stelio”, em latim que deu origem ao nome do crime, “estelionato”), dada sua capacidade de se camuflar. Como ensinava Padre Antonio Vieira, ao se referir ao camaleão: “se está na terra, faz-se terra, se está na pedra, faz-se pedra”. Por outro lado, sabemos que certas espécies de cobras tem o poder de hipnotizar suas presas, antes de atacá-las e, provavelmente, assim se fez com Eva. Com a expulsão do casal do Paraíso, inaugurava-se o “livre arbítrio”, mal, ou melhor, pessimamente, utilizado pelo ser humano, ao longo dos séculos. Mas sigo acreditando em tudo, inclusive no céu, no inferno e no purgatório. Lembro-me de que fiquei abalado, quando meu querido e sapientíssimo confessor, Cônego Sergio, em uma homilia, afirmou que o céu não  existe, como lugar físico. Propus-me a debater tal assertiva com ele, inclusive apontando passagens da Bíblia, em abono a meu entendimento. Medindo minhas parcas forças teológicas, achei melhor me calar, porque eu, pigmeu de cultura religiosa, não podia ter a pretensão de confrontar-me com um gigante de conhecimento. Mas contínuo com a convicção de que o céu é “lá no alto” e o inferno abaixo da última camada da terra. Li, certa feita – e fiquei eufórico com isto – que encontraram, no fundo do Mar Vermelho, rodas de carroças contemporâneas à travessia  dos hebreus, fugindo do exército egípcio e, do alto do Monte Ararat, pedaços de madeira que poderiam ser resquícios da arca de Noé. Na praça defronte à Igreja-Matriz de minha cidade natal, há uma estátua de Deus, fartos cabelos e barba brancos. E, quando converso com Ele – e o faço, pelo menos, duas vezes ao dia – é aos pés daquela imagem física que me posto, para pedir ou agradecer. Tenho pavor do fogo eterno, por isso procuro praticar algumas boas ações para ver se consigo, pelo menos, ter direito ao Purgatório. Aliás, a este respeito, tenho sonho recorrente que merece ser contado: morri e chego a um enorme galpão, onde há 03 filas: a do céu, a do purgatório e a do inferno. Para meu desespero, estou nesta última. Quando chego na catraca, um dileto amigo, desembargador aposentado, (meu querido Chico Bevilacqua), que está do lado de dentro, mostrando o caminho a seguir, tira-me da tenebrosa fila do inferno e passa-me para a do Purgatório (amigo é para estas coisas). Por precaução, guardo o telefone dele, no criado-mudo, ao lado. Antes de dar o último suspiro, vou ligar pra ele, “Chico, não esquece de mim”. Percorro a Bíblia e constato que não tenho mínima chance de estar na “fila do céu”. Já não bastam os 10 incumpríveis mandamentos, vejam os Evangelhos desta semana: em Mateus,(5,38-42, Jesus nos determina que ofereçamos a face esquerda, quando nos baterem na direita. Ainda em Mateus(5,43-48) Jesus ordena que amemos e oremos por nossos inimigos, porque “se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis?” E, como sabemos, Jesus ensina, ordenando. Quem sou eu, fraco, pusilânime,  para cumprir tais ensinamentos! Como não odiar aquele árbitro, f.d.p. que marcou 02 pênaltis contra o Botafogo, no jogo contra o Coritiba? Como amar o magistrado que julgou improcedente a ação, por mim interposta? Como me dirigir ao motorista que me deu uma “fechada”, quase me jogando sobre a caçamba, que um desgraçado pôs no meio da rua? Peço tanto perdão a Deus e a Jesus que, a qualquer hora, eles dirão “esquece, sua quota de perdão está esgotada”. Apascento-me, porque, no Evangelho desta sexta-feira (Mateus,11,25-50), Jesus extravasa sua incomensurável bondade. “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de  fardos e eu vos darei descanso”. Como confio, sei que Ele estará, a meu lado, na hora de meu julgamento final, mas, por precaução, vou telefonar para o Chico Bevilacqua.

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