Tantos anos vividos, testemunhando a melancólica história do
Brasil, pelo menos desde Jânio Quadros, não permitem que eu me surpreenda com
os acontecimentos atuais. A decadência intelectual e moral da classe política é
fenômeno a ser avaliado por especialistas, mas o certo é que, depois do regime
militar, onde não havia espaço para a corrupção, parece que se iniciou
desabalada corrida aos cofres públicos, sem hora para terminar. A operação “lava jato” surgiu como freio, a diminuir
a velocidade de tal corrida, mas não vai estancá-la. Várias gerações se
sucederão, até que desapareça o “vírus”
que, desde o descobrimento, instalou-se no organismo do brasileiro. O que me
causa, não indignação, mas certa irritabilidade, é a disseminação e a
banalização do erro, medido e pesado. Dou alguns exemplos:
Fernando Collor – em quem votei – foi eleito Presidente, com
pouco mais de 40 anos. Tinha, portanto, oportunidade ímpar de promover o
desenvolvimento do País. Todavia, trocou um bom projeto de governo, por projeto
pessoal de enriquecimento. Lula, egresso de classe econômica hipossuficiente,
surgiu como “terceira via”, entre a
esquerda carcomida e a direita conservadora. Tinha condições políticas,
inclusive apoio empresarial, para aproximar o Brasil das grandes potencias.
Entretanto, optou por montar um “reich
petista” de incontáveis anos e, pra isto, aliou-se ao que havia de pior no
empresariado nacional, consolidando o mais extenso processo de enriquecimento
ilícito, que o mundo conheceu. Destruiu sua imagem, a imagem de seu partido
político e arrastou consigo homens probos que se contaminaram pelo simples fato
de estar ao lado dele. Aécio, de longeva estirpe, construiu, em pouco mais de
20 anos, admirável carreira política, jogada, agora, mal chegando aos 50 anos,
no lixo do envolvimento espúrio. Sergio Cabral, também de carreira política
fulminante, revelou-se verdadeiro sociopata. Esses homens, com seus desastres
morais, fecharam as portas da política partidária para novas lideranças, vez
que, no inconsciente coletivo, ficou registrado correlação entre “político” e “corrupção”. Infelizmente, não é só a classe política que exala maus
odores. Venho de um tempo em que Ministro do Supremo Tribunal Federal estava
acima de qualquer suspeita e realmente tinha nele carimbados o “notório saber jurídico e a “ilibada
reputação””, requisitos constitucionais para envergar a toga da Corte
Suprema. Quando se observa a composição atual daquele Colegiado, é público que,
nem de longe, tais requisitos são observados. No que concerne ao “saber jurídico”, é de privilégio de, no
máximo, 04 dos 11 Ministros, que integram o Supremo. Já no quesito, concernente
à “ilibada reputação”, fatos
supervenientes à nomeação e posse de alguns Ministros, têm deixado estarrecido
o mundo jurídico. Em um primeiro momento, incompreensível o indulto concedido
aos irmãos Batista, empresários marginais que se locupletaram até com a própria
delação premiada. Ato contínuo, a Imprensa notícia que o principal executivo –
também delator – da JBS, foi “padrinho”
da ida do Ministro Fachin, que concedeu o indulto, para o Supremo. Estranha
coincidência, não? Quem assiste ao julgamento da chapa Dilma-Temer, constata o
vigor do desempenho de Gilmar Mendes, Presidente do Tribunal Superior
Eleitoral, em buscar a anulação das provas que poderiam levar à cassação da
chapa. Escrevo, antes da proclamação do resultado, mas, qualquer que seja ele,
Gilmar Mendes foi quase nada Juiz e muito mais advogado de defesa.
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