Ontem, vivi momentos de consternação, ao passar pelo piso
inferior do Edifício “Zarvos”, que
liga a Avenida da Consolação à Avenida
São Luiz. As lojas abandonadas, o corredor escuro, davam a certeza da
decadência do local. É que, não faz tanto tempo assim – ou faz? – ali vivi
agitados dias e noites da minha vida. No ,piso superior, funcionava o bar-restaurante
“Padock”, mestre Bira, no comando,
onde se podia ouvir o que havia de melhor da música popular brasileira e
norte-americana e saborear o melhor “picadinho”
do mundo. Como bar e restaurante eram separados, quem não quisesse jantar,
ficava de papo no bar, entre honestíssimo uísque e salgadinhos de fino trato.
Também abria para o almoço, mas o “tchan”
era o “happy hour”, pela música e
pelas pessoas que ali aguardavam o fluir do trânsito. Mulheres, só acompanhadas
e nisto Bira era intransigente, já que a freqüência de executivos bem sucedidos seria
atrativo para mulheres “caçadoras”. Para quem quisesse discreção Bira
disponibilizava mesas, ao fundo do restaurante, onde se podia falar de
negócios, mais ou menos escusos ou, até mesmo, curtir um romance proibido.
Freqüentei o “Padock” por cerca de 30
anos e nunca presenciei briga física, ou agressões verbais. No máximo, debates
acalorados, como, por exemplo, quando estavam, na mesma mesa e depois de
algumas doses, meu querido amigo, João Renato, outrora integrante da “esquerda caviar” e eu, adepto da “República dos generais”. O Padock tinha
especial geografia: do banheiro, enquanto se fazia xixi, contemplava-se o
frenesi dos carros que passavam pela São Luiz. Um dia, sem aviso prévio, o Padock
fechou as portas, deixando-nos órfãos daquela sadia e rápida boemia. O jeito
foi migrarmos para o “Bistrô”, situado no piso inferior. Intimista, estilo
neo-clássico, sem música ao vivo, mas, em compensação, guiado pelas
competentíssimas mãos de Derivan, um dos melhores e mais gentis “barman” de
nossa urbe e, ao que me consta, ainda anda por aí, encantando o paladar de
privilegiados. O “Bistrô” tinha freqüência selecionada, entre empresários da
estirpe de um Antonio Erminio e Desembargadores de nosso Tribunal. Durante certo
tempo, foi comprado por três amigos meus, sendo um carioca, que tinha, como
único defeito, não ser torcedor do Botafogo, mas era excelente contador de
história, tornadas mais saborosas, quando banhadas a “old parr”. Um dia, seguindo a decadência do centro, o Bistrô também
fechou suas portas e os locais de fino trato, onde o bom gosto podia marcar
encontro com a inteligência, desapareceram, cedendo espaço aos restaurantes por
quilo, esses lugares, onde pessoas tristes comem comida requentada.
Saí deprimido do “Zarvos” e fui buscar na gaveta das
recordações, os bons momentos, ali vividos, até porque de memórias a velhice é
feita.
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