Não é sempre que faculto a Rodolfo, meu politizado pastor
alemão, a leitura das revistas semanais, principalmente quando essas trazem
matéria, que podem dar margem à polêmica. Não por algum espírito de censura,
mas porque Rodolfo, saído da adolescência, tem vivido seus conflitos existenciais,
principalmente no campo político, minado até para quem, como eu, já chegou ao
fim da estrada. Acontece que, no último domingo, voltávamos, ele, Nara e eu, de
nosso matinal passeio, quando, passando pela banca de jornal, instalada na
pracinha defronte, ele estancou diante das revistas e jornais, postos à venda.
–“Você
já comprou a “Veja”?”,
quis saber ele e eu que, pelo menos para ele, não minto, respondi que sim. – “Então, quando acabar de ler, passe para mim”.
Por certo, Rodolfo interessou-se sobre a matéria de capa, onde a expressão “lava-jato” está impressa com destaque.
Aliás, a matéria, em si, é bem fraca e traz meras ilações sobre complô, armado
pelos 3 Poderes, para sufocar a lava-jato. A “Veja”,
vítima da decadência e do desinteresse pela mídia impressa, de modo geral,
procura sobreviver, utilizando-se do “espetaculismo”
de alguns assuntos, que são requentados, ou escritos sem qualquer
responsabilidade profissional. Depois, quando são processados, invocam a liberdade de imprensa, como manto
protetor. De qualquer maneira, na segunda-feira, saindo para o trabalho, cumpri
o exigido e entreguei a revista ao Rodolfo. À noite, em nosso habitual passeio,
mal entramos no parque, ele perguntou:- “você
acha mesmo que o Supremo, como insinuou o Ministro Gilmar Mendes, vai revogar
as prisões preventivas, que ele chamou de intermináveis?” – “Deixe-me esclarecer um ponto, meu caro
Rodolfo: o Supremo é órgão colegiado, decide por maioria de votos e cada
Ministro tem posição independente. Gilmar Mendes fala por ele e apenas por ele,
se bem que, na essência, ele tem razão, uma vez que não existe prisão
preventiva por prazo indeterminado. Ela se justifica, quando o réu, em
liberdade, oferece perigo à sociedade, ou pode influenciar a produção da prova,
por exemplo, coagindo testemunhas, ou pode fugir. Veja o caso do Marcelo
Odebrecht: foi processado, julgado e condenado. Cumpre os requisitos legais
para recorrer em liberdade, mas continua preso. Por que? Porque exigem dele a
delação, para ser colocado em liberdade, o que é verdadeiro estupro à lei. Se
qualquer estudante de Direito sabe disso, o que se dirá dos Ministros do
Supremo? A “Veja” também sabe disto, mas precisa vender exemplares e, para isto,
vale tudo, principalmente torcer a verdade.” – “Mas, se você sabe que é assim, por que compra a revista?”, quis
saber Rodolfo. –“Você conhece minha rotina
dominical, meu querido! Percorro as Igrejas escolhidas, passeio com você e a
Nara e, depois, solitariamente, aguardo o almoço, tomando vinho ou uísque. É o
único dia que bebo. Aproveito, então, para ler alguma coisa superficial, de
pouco ou nenhum valor e essas revistas semanais servem para isto, até porque,
depois da quinta dose, nem bem mais lembro o que estou lendo.” – “Mas estou decepcionado com você – acrescenta
Rodolfo - porque descobri que você levou uma grana da Odebrecht”. – “Eu, Rodolfo, de onde você tirou esta
barbaridade?” – “Tá lá, um cara, com
alcunha de “Botafogo”, levou 01 milhão. Não conheço outro Botafogo, senão você!”
Você está redondamente equivocado, Rodolfo! Somos, segundo as últimas
pesquisas, mais de 100 milhões de botafoguenses, só no Brasil. Além do mais,
que importância tenho para receber propina de 01 milhão? As que recebo são de natureza afetiva,
chocolates, vinhos, doces, ofertados por clientes agradecidos. Além de tudo
isto, para seu esclarecimento, na planilha de pagamentos das Construtoras, os “agraciados”
estão identificados, como “italiano”, “boca mole” “todo feio” e “botafogo”
etc. e a lava-jato, por métodos não
revelados, relaciona o codinome ao nome verdadeiro. Como prova, é fragilíssima,
mas vivemos momentos ambíguos, em que se inverteu o ônus da prova e cabe, ao
averiguado provar que o codinome não se refere a ele. O que espero é ver o
Supremo, obedecendo ao princípio da legalidade, dizendo o Direito, sem se
preocupar com o histerismo da mídia, é ver o Supremo legalista e não político,
até porque foi desta maneira que sua história foi construída. Agora, Rodolfo,
se você me permite uma sugestão, para que não fique esta imagem de que o Brasil
sempre foi esta zona, que aí está, sugiro-lhe a leitura de dois livros, nesta ordem:
“Madrugada sem Deus”, do Mario
Donato, romance, que tem, como pano de fundo, a transformação sócio-econômica
do País da fase agrícola, para a fase industrial, com todas as decorrentes
implicações políticas e “Depoimento”,
de Carlos Lacerda, que narra período de nossa história, onde os políticos, de
ambos os lados, eram respeitáveis homens públicos, tratados com reverência pela
população. E para que os detratores – sempre os há, entre nós – não digam que
quero influenciá-lo, ideologicamente, quando eu acabar de ler, vou lhe
emprestar “A biografia de Frei Betto”,
sacerdote muito culto, que a Igreja perdeu para a subversão. Depois dessa
leitura, eu e você teremos muito papo pela frente.
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