Não carece contar a história do carnaval ou a ficar, cheio de
nostalgia, relembrando carnavais passados, sejam os ingênuos da infância, sejam
os da adolescência, com cheiro de lança-perfume, que dava um instantâneo “barato”, seguido de mal-estar, mas que
não impedia que se repetisse a dose. Janio, que odiava a alegria, proibiu o
lança-perfume e o biquíni. Mas tudo isto é passado, que só importa em livro de
memória. Quero mesmo é falar da festa, da absoluta necessidade de permitirmos que
ela se impregne em nós, tirar-nos da realidade cotidiana, com seus problemas e
a angustia de não se conseguir solucioná-los. Afinal, são só 4 dias, para se
esvaziar a cabeça, cansar o corpo e soltar suas amarras. Não me falem em
estabelecer limites, o que não combina com a alegria. É claro que brigar,
ofender, não vale, porque isto não faz parte da alegria. Alegria é cantar,
pular, abraçar, beijar, exibir e contemplar coxas torneadas. Respeito é bom e “não” é, quase sempre “não” e só vale “forçar a barra”, quando o “não”
é vacilante, quando, por exemplo, se faz acompanhar de sorriso ou de olhar para
trás... Os blocos de rua resgataram o carnaval espontâneo, sem a chatice das
festas em clube, tudo caro e muita repressão. Também não nutro simpatia pelo “trios elétricos”,
onde se paga – e caro - para
acompanhá-los, protegido por cordas e seguranças, deixando o povão, espremido,
do lado de fora. Os desfiles das escolas de samba é “show”, mais voltado para turistas e o “mesmismo” dá a sensação que, quem viu uma, viu todas. Então a
alegria espontânea, verdadeira, fica por conta dos blocos de rua que ressurgem,
trazendo o esplendor do carnaval. Houve um tempo, aqui em São Paulo, a cidade
abandonada pelos que demandavam as praias ou o interior, que só se sabia do carnaval
pela televisão. Felizmente, com o tempo, surgiram manifestações espontâneas de
alegria, concentradas, principalmente na “Vila
Madalena” e, agora, são mais de 100 blocos, espalhados por toda São Paulo,
a comemorar a alegria desses 4 dias, em que nada poderá ser levado a sério,
senão a própria alegria. Quem for ao Rio de Janeiro – e eu pretendo estar nesta
– contará com quase 500 blocos de rua, franqueados ao público, desde o
tradicional “Cordão do Bola Preta”,
comemorando seu 99º aniversário, até o novato “Bunytos
de Corpo” que sai, meio de surpresa, no centro da cidade. É claro que meu
pique de sambar em bandas e cordões ficou lá atrás, com a “Banda do Leme”, de deliciosas recordações, mas impossível não
estar, pelo menos ao lado, da “Banda de Ipanema”, criada pela turma do “Pasquim”, tendo a frente Albino
Pinheiro, símbolo do carioca autêntico. Todavia, em qualquer lugar que se
esteja, até mesmo em casa, o importante é, a partir de sábado, deixar a
tristeza de lado, colocar as preocupações na gaveta, até porque, como dizia a
antiga marchinha, “a vida dura só um dia,
Luzia, e não se leva nada deste mundo!”.
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