Em qualquer País dito desenvolvido, a Suprema Corte se mantém
afastada das contendas políticas e somente é chamada a intervir para dirimir
questões jurídicas de alta indagação, envolvendo preservação de direitos,
esculpidos na respectiva Constituição. Os magistrados, que integram o mais alto
Colegiado, são conhecidos apenas de quem habita o mundo jurídico e nem mesmo a
mídia se interessa por eles, a não ser quando temas de relevante importância
vêm a debate. Constitui entendimento harmonioso que o juiz deve ser discreto e
“falar apenas nos autos”. No Brasil, todavia,
o Supremo Tribunal Federal passou a ser verdadeira Corte Política, convidado,
até, para se manifestar sobre indicação de Ministro e aplicação do regimento
interno da Câmara dos Deputados. Com isto, o princípio da tripartição dos
poderes transforma-se em letra apagada, com visível prejuízo para a democracia.
É, no mínimo, constrangedor assistirmos ao Dr. Alexandre Moraes percorrer
gabinetes de senadores, “cambalachando”
votos, como o faz vereador, em campanha, pela periferia. Cabe ao Senado aprovar
o nome do candidato, indicado pelo Presidente da República, levando em conta os
dois requisitos, estabelecidos pela Lei Maior: notório saber jurídico e ilibada
reputação. Todavia, como nossa suprema Corte transformou-se em órgão político,
o candidato será avaliado em função de suas posições ideológicas. Os
prognósticos feitos pelos jornalistas políticos indicam que Dr. Alexandre terá
os votos dos partidos que integram a base do governo e, via de conseqüência,
sofrerá o repudio da oposição. “Simples,
assim”, como diria Eike Baptista. Se ele, Dr. Alexandre, tem sólida
formação jurídica, se escreveu importantes obras sobre temas constitucionais,
se possui doutorado pela mais consagrada Universidade do país, nada disto
importa. Importa mesmo é saber se ele servirá ou não aos interesses do
Planalto, se ele, com a preciosa caneta na mão, validará ou mandará ao lixo as decisões da “lava jato”. Vimos, no julgamento do
impeachment da ex-presidente Dilma, um Ministro da Corte, para favorecê-la, dar
à norma constitucional, interpretação que reprovaria desatento estudante de
Direito. Não que o Ministro fosse ignorante, mas porque, naquele momento, lá
estava como agente político. Essa deturpação das funções do Supremo vem
trazendo irreparável prejuízo para o próprio Poder Judiciário, que já não
usufrui da confiabilidade do passado. Agora mesmo, discute-se se Moreira Franco
pode ou não ser nomeado Ministro, se sua nomeação não seria farsa, para
livrá-lo de Sergio Moro. Se o Ministro Celso de Melo decidir pela validade da
investidura, por certo será considerado a serviço do Planalto. Poucos
questionam se o Supremo tem competência legal para decidir atribuição exclusiva
do Presidente da República, que, por isso mesmo, não pode ser usurpada. Ao
contrário do que se diz, não considero que a democracia seja “frágil flor que precisa ser constantemente
regada”. Na verdade, ela é feita frágil pelos interesses escusos daqueles
que têm a função de protegê-la. Ela não é frágil nos Estados Unidos, como não o
é na França, apenas para citar dois países, dentre tantas democracias,
envolvidas em sangrentos conflitos. Quando se concebeu a “Praça dos 3 Poderes”, pretendeu-se colocá-los no mesmo
patamar, próximos, mas ao mesmo tempo, independentes, entre si. Nos governos
autoritários, prevalecia o Executivo e, hoje, como efeito nefasto da “lava-jato”, o Judiciário adquiriu
supremacia e o magistrado já não tem tempo para “falar nos autos”, porque prefere falar para a Imprensa. Simples,
assim!
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