quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Lição de vida



Podem dizer que é invasão de privacidade. Corro, gostosamente, o risco de sofrer as reprimendas da “vítima”. É que segunda feira passada, 20, foi aniversário de queridíssima amiga, destas que a gente tem por todas as vidas. Mulher guerreira, comeu o pão que o diabo amassou, sofreu injustiças, desilusões, tristezas e bota tristeza nisso. Nunca soube que se deixasse abater. Foi em frente, às vezes, literalmente, só com a cara e a coragem, com que criou – e muito bem – duas filhas. Tinha tudo para ser ressentida, amarga, mas, como boa guerreira, venceu e apagou o substantivo “mágoa” de seu dicionário. Eu a cumprimentei pela data e ela me respondeu com o texto, que reproduzo abaixo. Lição de vida danada de boa! Para ler, refletir e tomar como exemplo. Como egoísta que sou, omito a “fonte”.

ELUCUBRAÇÕES NATALÍCIAS.

Ontem, passei o dia matutando: - ah! como queria que o tempo tivesse parado há alguns anos, quando estava no auge da maturidade, da capacidade intelectual, da forma física, etc. Enfim... Estava meio que frustrada com os estragos e as limitações que o passar dos anos vem me impondo. Pintou um enorme saudosismo da minha juventude, na verdade dos meus 27 anos, quando dei o grito de independência e assumi o total controle da minha vida. Acho que nasci de novo ali, naquele fevereiro. Muitos dos meus ídolos morreram aos 27 (Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Amy Winehouse, e tantos outros), enquanto Eu, aos 27, soltei amarras, venci medos, me divorciei e renasci. Encarei barras pesadésimas, passei incontáveis apertos, cresci profissionalmente, corri atrás dos meus sonhos, me vi mãe de duas incríveis mulheres, viajei por boa parte do mundo, aprofundei meus estudos, ganhei grana, conheci pessoas incríveis, amei muito, chorei e sofri pra cacete, fui o porto seguro dos meus pais, aprendi a beber vinho e a comer frutas e saladas, ouvi músicas de todos os ritmos, dancei, gargalhei e beijei na boca até não poder mais, aprendi a tocar um instrumento e a falar outro idioma, trabalhei com ética, conquistei amigos e respeito, conheci o medo, o desespero, o desânimo e a depressão, mas não me entreguei a eles (pelo menos, não permanentemente). Vivi com paixão e impulsividade e, também por isso, cometi uma montoeira de erros, fiz besteiras a três por dois, me expus mais do que o necessário e, consequentemente, levei as porradas que a vida "didaticamente" usa pra nos dar a real. Fui universitária de esquerda, me aburguesei seduzida pelo sucesso profissional e retomei a militância social depois de ver a ruína das teorias neoliberais. Nasci no catolicismo, me aventurei nos cultos afros e na filosofia oriental e, por fim, me desliguei de toda e qualquer "religião". Não sei ao certo o que aprendi com as topadas que dei, sei que doeram e deixaram marcas, mas não me impediram de tropeçar de novo aqui e ali. Fazer o quê?!? Sou irremediavelmente inquieta. Adoro mudanças (de casa, de trabalho, de cidade e quiça de país) e me jogo no "novo" sem rede de proteção. E assim tem sido por esse tanto de décadas. O peso dessa vivência varia com o dia, ora mais leve ora imensamente pesado. Em contrapartida, meu peso na balança do banheiro vem mantendo uma irritante linha ascendente ano após ano. Mas no frigir dos ovos, depois dessa divagação pelo tempo, concluo que se tivesse entrado pro time dos que não envelheceram, teria perdido a melhor parte do filme. Não teria sabido a bênção que é ter netos, nem que o amor pode acontecer em hora imprevista e de forma inusitada, derrubando cercas e preconceitos. Então, só de traquinagem vou continuar a brincar de viver. A festa ainda está bombando e os apressados, aqueles que saíram dela aos 27 e se mantêm jovens e lindos em nossas lembranças, não faziam idéia do que iam perder!!!

Ah! Mil vezes obrigada pela energia e carinho da mensagen que recebi ontem! Me fez um bem enorme! Valeu mesmo!!!
Bj


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