terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Rodolfo, a chuva e meu aniversário



Ontem, Rodolfo me levou às lagrimas. (É o “alemão” se instalando, vaticinou minha esposa). Chego em casa, à noite e a chuva, que caia copiosamente, impede-me de sair do carro. Do lado de dentro, Rodolfo abandonava o conforto de seu abrigo e se posta ao portão, debaixo da chuva, esperando-me entrar. Faço gestos para que ele se recolha, mas ele se limita a olhar-me. Desisto, saio do carro e divido com ele o aguaceiro. Ele, alegre, molha-me o terno, recém-chegado da lavanderia. Eu o abraço também. Carinho tanto, quem pode negar. Hoje na saída, ele me cumprimenta e, indiscretamente, quer saber quantos anos faço e o que ainda pretendo da vida. Respondo-lhe que todos temos 03 idades: a da carteira da identidade, a que imaginamos ter e a que os outros nos atribuem. Mando que ele escolha e guarde a resposta, em silêncio. Quanto ao que pretendo, como estou apressado, digo-lhe que vou pensar no assunto e, depois, conversaremos. Aproveito o espaço do almoço (luto, ingloriamente, para perder uns quilos) para esta reflexão. Na minha sala de trabalho, encontro a resposta. Nela, em forma de retratos, está tudo que valeu a pena viver: a família, solidamente constituída, muito mais pelos méritos de Renata, companheira de uma vida inteira. A fotografia de eu menino, lembrança da infância, quando, voltando do grupo escolar, atirava a pasta no pé de tamarindo, para saborear o azedo fruto. E, aqui ao lado, o nosso time de futebol, todos jovens, sonhadores... e magros e uma saudade enorme do Nelson, amigo desde o primeiro ano que morreu, primeiro, quando se lhe foi a filha adolescente. E a galeria se completa, mostrando o que também de bom tive, meus cachorros, companheiros e confidentes. Enfileirados, de ambos os lados, meus santos protetores, que afastam os perigos e vicissitudes e apascentam minhas angústias, nesta profissão em que se vive a angústia alheia. Descubro, assim, que tenho mais do que esperava ter. Concluo que combati o combate. Se o fiz bem ou mal, aguardarei o julgamento divino. Se não espero o céu – tantos pecados  cometidos, sem arrependimento -, pretensiosamente acho que não mereço o inferno. Talvez um estágio no purgatório. Eis ai, Rodolfo, o que pretendo da vida: encerrá-la da forma a mais digna possível, contando com a misericórdia divina e com o “lobby” de meus santos protetores.

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