sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Carta a meu neto - quase botafoguense - mais velho




Queridíssimo Bruno,
Dentro de poucos meses você completará 18 anos, preparando-se para ingressar em curso superior. Coincidentemente, a mesma idade com a qual ingressei na Faculdade de Direito e seu pai, na Faculdade de Medicina. Ontem, sugeri-lhe que procurasse, fora do Brasil, o caminho para realização de seus sonhos. Provavelmente seu pai, que gasta seu precioso tempo, lendo estas mal traçadas, tenha me amaldiçoado. Não o culpo,  primeiro porque é meu filho amado, segundo, porque, como pai amoroso, que o é, quer você ao lado dele. Todavia, no íntimo, até com mais intensidade, ele sabe que tenho razão. Seu vetusto avô, que, aqui, lhe abre o coração, vem de remota época em que o Brasil era rotulado, como “País em desenvolvimento” e minha geração, acreditando nisto, foi à luta, quebrando pedras para atingir seus objetivos. Havia homens públicos, à direita e à esquerda, que mereciam nossa confiança e respeito, todos embuídos daquele mesmo ideal de transformar o Brasil no País do presente, com menos desiguldade social, onde jovens, como você, ao se formarem, tivessem escancaradas as portas do mercado de trabalho. O tempo passou  como a velocidade do     minuano, e os sonhos, sonhados pela minha geração, transformaram-se em pesadelos, cada vez mais tenebrosos. Dizem os entendidos – cada dia os entendo menos – que o Brasil é a 9ª economia do mundo, o que, em sendo verdade, confere-nos invejável privilégio. Mas, que privilégio é este, se 40% da mão-de-obra ativa está desempregada ou ocupando sub-empregos? Que privilégio é este se nosso nível de aproveitamento escolar é um dos mais baixos do mundo? Que privilégio é este que o próprio governo anuncia que, se não se promover a reforma da Previdência, em 10 anos não haverá recursos para pagar aos aposentados? Que privilégio é este em que as unidades da Federação, perdulárias em obras inúteis e superfaturadas, mas sem recursos para a saúde e segurança pública? Privilégios são os concedidos às instituições financeiras, que captam ativos a 12% ao ano e emprestam esses mesmos ativos a 300%, no mesmo período. Privilégios são os concedidos a deputados e senadores que, além de polpudos salários e incontáveis verbas adicionais, estão envolvidos em inusitados processos de corrupção; vivemos, hoje, em um País, querido Bruno, em que as Forças Armadas são convocadas, não para nos defender do inimigo externo – que deles não os há -, mas para impedir que sejamos mortos pela quase criança, que nos subtrai o celular. Sim, porque, no Brasil, como no Iraque ou na Síria, as crianças, aos  invés de carregarem cadernos e livros, portam fuzis e metralhadoras. E, para completar nossa tragicômica história, abrimos nossas fronteiras para que africanos, haitianos e venezuelanos aqui se instalem, ocupando empregos, que não temos, buscando assistência à saúde, que sonegamos a nossos conterrâneos. Somos a 9ª economia do mundo, mas a indústria reduz, gradativamente a produção e o comércio fecha suas portas. Somos a 9ª economia do mundo, mas 1% da população detém 99% da riqueza nacional. E que País é este em que remédio para câncer, resultado de pesquisa de uma das mais renomadas Universidades da ”gentil pátria amada”, tem sua venda proibida, aqui, mas liberada nos Estados Unidos? Será nossa “Anvisa” mais bem equipada e, por isso mesmo, mais rigorosa do que a “Anvisa” norte-americana? Podemos sonhar, mais que sonho, devaneio, que, daqui a 6 anos, quando você tiver completado seu curso, tenhamos um novo Brasil, livre destas mazelas. Sinceramente, meu amado, por mais que eu queira, não acredito. Não há, perspectivas em tão curto lapso de tempo, que surjam novas lideranças, capazes de reverter este nefasto estado de coisa. Até por lá, por certo, o Brasil vivera a 500ª etapa da “lava-jato”, porque a “Arte de furtar”, para invocar o Padre Antonio Vieira, parece estar na genética do homem público brasileiro. Por certo – e assim espero – não estarei por aqui, ao raiar da nova etapa de sua vida, profissional habilitado para o exercício de sua missão. Quero-o, acima de tudo, feliz, esta felicidade que só se encontra quando se está em harmonia consigo mesmo, impossível de se encontrar em País que desafina mais, a cada dia. Por tudo isto, meu querido Bruno, pelas lágrimas, que derramei, quando, emocionado, lá de Porto Alegre, recebi a notícia que você tinha pulado para a vida, é que proponho você arrumar a mala... e boa viagem.



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