quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Catequisar, em um tempo de modernidade



Ao encerrar a missa de domingo último, o sacerdote, que a presidia, solicitou a colaboração de quem se julgasse capacitado, para a função de catequista de crianças e adolescentes, a se prepararem para a primeira comunhão e crisma. Fui para casa, tentado a oferecer meus serviços. Afinal, por quase 10 anos, em outra Paróquia, fui Ministro Extraordinário da Eucaristia, palestrante em “curso de noivos”, tendo elaborado apostila sobre o tema e coordenei a equipe de liturgia. Além de tudo isto, sou leitor diário da Bíblia e voraz devorador de livros sobre religião, de modo geral. Assim, em primeiro momento, pretensiosamente, julguei-me capacitado para tão relevante tarefa que, inclusive, serviria para “fortalecer minha fé”. O domingo transcorreu com sua habitual mansidão, permitindo-me melhor refletir sobre a decisão a tomar. Será que ainda sei conversar com jovens? foi a primeira pergunta que me fiz. Lá pelos anos 60, eu também jovem, (acreditem, já o fui!) lecionei, por cerca de 10 anos, Português e Literatura, para alunos do 2º grau. Os tempos eram outros, os jovens tinham diferente postura, em relação aos professores. Seria eu capaz de me comunicar com eles?. Lembrei da crítica de meu filho, também advogado, cuja opinião  solicitei, após júri realizado. Disse-me ele:- “você foi bem, só que fala “velho”. Exatamente por ter atingido a idade provecta, não sei falar “modernoso”. Ainda me preocupo com os pronomes, em seus devidos lugares e com a harmonia que deve haver entre os elementos da oração. E será que os conceitos teológicos ainda se mantêm? Continua Deus tendo feito o céu, a terra, mares, rios, montanhas,  seres vivos, tudo isto em 6 dias, descansando no 7º? Está mantida a sentença que decretou o despejo de Adão e Eva do Paraíso? E o Mar Vermelho continua aberto, permitindo a fuga dos judeus? Estão mantidos os milagres de Jesus, desde a transformação da água em vinho, até a cura do cego, do mudo, do paralítico? E quanto aos exorcismos, por ele realizados, à luz do dia, diante de multidões embasbacadas? Não faz muito tempo, em uma homilia, sacerdote, por quem tenho grande admiração, afirmou que céu e inferno, como espaço físico não existem, constituído simples metáfora. Quase caí do banco, até porque tal assertiva contraria várias passagens dos Evangelhos, inclusive a “Profissão de Fé”, que rezamos, exatamente após a homilia e onde está gravado que Jesus Cristo “subiu aos céus”. E no Evangelho de Marcos (9,41-50), Cristo assevera que “se sua mão te leva à queda, corta-a! É muito melhor  entrares na vida tendo uma só das mãos do que, tendo as duas, ires para o inferno, para o fogo, que nunca se apaga”. Segundo meu parco entendimento, a clareza do texto não condiz com simples metáfora. Ao final de tantas divagações, concluí ser inadequado para tão responsável missão: além de “falar velho”, como asseverou meu próprio filho, meus conhecimentos teológicos e bíblicos, que os tinha como firmes, são, na verdade, vacilantes e estão desatualizados. Assim, para felicidade de todos, desisti da empreitada, antes de promover estragos.

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