sexta-feira, 29 de julho de 2016

Porque é tempo de informática

Toca o interfone, é da portaria do prédio, avisando-me que está lá um portador, trazendo encomenda de grande porte, para mim. Considerando não ser época de natal e que não me recordo ter feito encomenda alguma, autorizei a subida do portador, mas sem a encomenda.
- “De que se trata?”, perguntei ao rapaz, fardado de azul, tão logo adentrou à sala de espera.
- “Vim trazer a televisão que o senhor comprou pela internet. Pode fazer o cheque de 15 mil reais nominal à empresa”, e estendeu-me a nota fiscal.
Conferi o nome – era o meu – e o endereço, idem, só que eu não tinha comprado televisão alguma, ainda mais por 15 mil reais, coisa de milionário distraído. E, pela internet, jamais! Primeiro, gosto de ver o que compro e, depois, não confio nestas modernidades. Outro dia, indo viajar, fiz o “check in” pela internet. Tinha certeza que não ia embarcar. Embarquei, mas não vou abusar da sorte. De qualquer maneira, aquela compra eu não fizera e deixei isto claro ao rapaz que, estático, esperava o cheque e a autorização para subir a TV. Com lógica ilógica, retrucava:
- “O nome não é do senhor e então?”
- “O nome é o meu, o endereço é o meu, mas reafirmo que não comprei nada, por isso o senhor pode levar a mercadoria de volta. Afinal, quem mandou o senhor trazer a TV?”
- “Quem mandou, não sei. Trabalho numa firma de entrega de mercadorias e recebi ordem de deixar ela aqui e levar o cheque.”
- “Com certeza, está havendo algum engano. Acho melhor você telefonar para sua empresa.”
O rapaz ligou o celular, balbuciou algumas palavras e depois desligou, voltando a falar:
- “Disseram que é aqui mesmo. É só o senhor assinar o canhoto da nota e me entregar o cheque. Vou lá embaixo, buscar a televisão” – e saiu, sem me dar tempo de começar tudo de novo. Liguei para a portaria, dei ordem para não deixar, nem o rapaz, nem a TV subirem e pedi a minha secretária que levasse até ele a nota fiscal. O jovem escafedera-se e, na portaria, restava uma TV, que não comprara, não pagara e uma nota fiscal, dizendo que ela era minha. Ligo para a empresa, cujo nome consta do impresso da nota fiscal e depois de ser transferido de ramal em ramal, por uma gravação monocórdica, repetindo “sua ligação é muito importante para nós”, chego à seção de “reclamações”, onde, séculos depois, sou informado que “não há registro de entrega efetuada em nome do senhor.” Desligo o telefone e recosto na cadeira: tenho uma televisão, que não me foi entregue, acompanhada de uma nota fiscal que, apesar de conter meu nome, não me diz respeito. O que fazer, ou melhor, o que não fazer?

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Getulio e Dilma, distantes, no mesmo agosto

Quem viveu tempos idos ou gosta de história, não terá dúvida em estabelecer relação entre a “carta testamento”, deixada pelo Presidente Getulio Vargas e esta, agora enviada à Comissão de Impeachment, sob forma de defesa, pela “Presidenta” afastada, Dilma Rousseff. Getulio, além de apregoar sua honestidade – fato incontestavelmente verdadeiro – atribuiu as pressões, que o levariam ao suicídio, a interesses obscuros, contrários aos verdadeiros e legítimos interesses do povo. Dilma assevera que “exerceu o mandato de forma digna e honesta e de ser servidora pública dedicada e uma lutadora de causas justas.” E acrescenta, ao se referir ao processo de impeachment: “sou alvo desta farsa porque, como presidenta, nunca me submeti a chantagens. Não aceitei concessões e conciliações escusas...”

Lendo os dois documentos não nos parece encontrar similitude entre os dois presidentes? Na verdade, nenhuma! Getulio foi um estadista, na acepção verdadeira do termo e nem os seus mais ferrenhos adversários apontaram um dedo, enodoando sua honra. Deixou ele um legado, a favor da classe trabalhadora e, com a hidroelétrica de Paulo Afonso e com Volta Redonda tirou o Brasil da era agrícola, introduzindo-o na era industrial. Tendo governado, por 15 anos, sob regime ditatorial, foi vitima de seu jejum, em democracia. Mesmo sendo lacerdista histórico, por tudo que li, ouvi e vivi, tenho convicção formada de que Getulio nada teve a ver com o crime da Rua Toneleros, que selou sua derrocada. E quanto a Dilma? Nada que se disse sobre Getulio pode-se atribuir a ela. Tinha ele luz própria, que brilhou, mesmo após sua morte. Dilma surgiu, estrela obscura, pelas mãos de Lula, que pretendia fazer dela mero trampolim para voltar ao Poder. Dilma, honesta? Desde 2010 seus governos, com as campanhas eleitorais, estiveram cobertos pelo manto de diversos matises de ilicitudes, que vão emergindo, à medida que afloram delações premiadas dos que a rodeavam. Por tudo que lemos e ouvimos, de Pasadena e outros desvios da Petrobrás, até chegar à confissão de seu marqueteiro, temos o direito de duvidar de sua honestidade pessoal. Dilma afirma que “o destino sempre me reservou grandes desafios. Alguns pareciam intransponíveis, mas eu consegui vencê-los.” Quanta falácia! As dificuldades, por ela enfrentadas e que ela a todas sucumbiu, advieram de sua incapacidade gerencial e da corrupção que, com dolo ou culpa, permitiu que, qual erva daninha, se espalhasse pelo seu governo. O legado de Getulio foi o alicerce da indústria, ligação, que mudou a face do Brasil. O legado de Dilma foi o aviltamento de todos os segmentos econômicos, que gerou 12 milhões de desempregados. Getulio “saiu da vida para entrar na historia” e, em 24 de agosto, mais uma vez, será reverenciado por isto. Talvez, no próximo 24 de agosto, Dilma sairá da historia para morrer, sem gloria e nós nos rejubilaremos por isto.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Um não processo de separação

Já era a quarta ou quinta vez que Duarte (claro que este não é seu nome verdadeiro!) me procurava para falar da separação:
- “Doutor, o senhor pode me explicar, outra vez, este negócio de pensão alimentícia?”
-  “Claro, Duarte, mas você já conversou com a sua esposa?”
- “Ainda não! Ameaço falar, mas na hora me dá um negócio, mudo de assunto, que que eu faço, doutor?”
- “Meu caro, esta é decisão sua, ou melhor, sua e dela. Afinal, vocês querem se separar?”
- “Ela, eu não sei, eu, acho que quero. Afinal, são quase 30 anos juntos, nosso único filho casou, mudou para a Espanha. Fica aquela coisa chata, sem assunto, sexo, só muito de vez em quando, quase obrigação. Sinto que está ruim para mim e para ela.”
- “Mas casamento é assim mesmo, Duarte, depois de um certo tempo cai na monotonia, fica o compromisso, a amizade. Me diz uma coisa, tem outra mulher no pedaço?”
- “Que é isto, doutor? Nunca traí minha mulher, só tem, desculpe a expressão, que estou de saco cheio desta monotonia que o senhor falou. Doutor, posso trazer minha mulher, aí a gente conversa juntos e resolvemos tudo de uma vez?”
Ontem, uma semana depois, aparece Duarte, acompanhado da esposa, alguma coisa entre 55 e 60, elegante e ainda em boa forma. Digamos que se chamasse Neusa. Sentamos os três na mesa de reunião, ela pediu permissão para acender um cigarro e foi logo falando:
- “Doutor, o senhor me desculpe, mas até agora não sei o que vim fazer aqui. O Duarte apenas disse que era muito importante. Acho que ele não anda bom da cabeça. Tem quase um ano que, volta e meia, ele chega em casa, senta no sofá e, com ar solene, diz que tem uma coisa importante para dizer, eu fico esperando a novidade e ele diz que a camisa sumiu, que o liquidificador não funciona, que o carro está com um barulho esquisito. Isto é lá coisa importante? E o pior é que a camisa está pendurada no armário, o liquidificador está ótimo e o carro não tem barulho algum. Agora, veio com esta historia de advogado. O que está acontecendo, doutor, ele está com alguma doença grave e não quer me contar?”
Do outro lado da mesa, cabeça baixa, estalando os dedos, Duarte permanecia em silencio. Resolvi entrar no assunto:
- “E aí, Duarte, fala você ou falo eu?”
Ele, vermelho, gaguejando, liquidou a conversa:
- “Sabe, querida, é que eu estou comprando um apartamento novo para nós, e o doutor está cuidando da papelada.”
Tomei um susto, quando a esposa deu um tapa na mesa, contrariada:
- “Mas precisava me trazer até aqui só para dizer isto? Não falei, doutor, que ele não está bom da cabeça?”
Olhei para o Duarte e apenas sorri, dizendo, em cumplicidade?
- “É que ele queria fazer surpresa para a senhora. Afinal, é um magnífico apartamento, 04 dormitórios, com o que há de mais moderno, em um dos melhores bairros da cidade.”
- “E onde ele arranjou dinheiro para comprar esse apartamento?”
- “Ah, minha senhora, isto, depois, a senhora pergunta para ele.”

Despedi-me do casal, Duarte, mudo, mão suada, apenas fez um movimento de cabeça, provavelmente imaginando qual historia teria que contar.

terça-feira, 26 de julho de 2016

Os Santos de Hoje

A hagiografia registra ser hoje, 26, dia dedicado a São Joaquim e Sant’Ana, pais de Nossa Senhora e avós maternos de Jesus. Deles sabemos que viviam muito bem de vida, mas amargavam a tristeza de não terem filho, e, por isso, Joaquim chegou a ser impedido de apresentar sua oferta no templo – suprema humilhação. Retirou-se para o deserto e orou, durante 40 dias e 40 noites, depois dos quais ele e Ana tiveram a revelação de um anjo, de que suas preces tinham sido atendidas e Ana deu a luz a uma menina, a quem chamou Maria. São eles padroeiros dos avós. Lembro-me de que, quando nasceu meu primeiro neto, passada a emoção, eu tive a exata noção do significado da palavra “imortalidade”. Nele estava a continuação de um ciclo, cuja origem remonta a meu primeiro ancestral e terá nele minha continuidade, por todo o sempre. Depois, vieram mais 3 netos e, em todos eles haverá uma centelha, por mais tenue que seja, de meu ser. Por certo, algum tempo após minha partida, serei apenas apagada lembrança, mas, mesmo que eles não percebam, um pouco de mim estará neles e nos filhos deles e, assim, sucessivamente, gerando o eterno mistério da imortalidade. Não tive o privilégio de ver meus avós, que se foram antes de minha chegada, mas sei e sinto que algum traço deles ficou em mim. Por isso, dedico este dia de hoje a meus netos, a quem quis proporcionar tudo, a quem quis proteger dos “maus humores” dos pais, a quem ensinei que minha casa, mais que minha, era deles, por isso podiam jogar bola na sala, pular na cama, praticar, enfim, deslavada liberdade e todos estes atos marejam-me os olhos de alegria. Deus, em sua incomensurável bondade, permitiu-me ficar por aqui, para vê-los nascer, crescer e conhecer o mundo. Para eles, repito trecho do Evangelho de hoje (Mateus, 13, 16-17):

“Felizes são vossos olhos, porque veem e vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que estou vendo, e não viram; desejaram ouvir o que estais ouvindo, e não ouviram.” 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Por falar em loucura

Acho que já passou pela cabeça de todo mundo a possibilidade de ficar doido, não doido normal, porque isto todos nós somos, com maior ou menor intensidade. Quem já não perdeu o controle de si, em circunstancias especificas – no transito, em discussões, no trabalho e em casa -, quando fazemos ou dizemos coisas impensadas? O ser humano, principalmente o que vive em cidades neuróticas, como São Paulo, está sempre em estado de violenta emoção. Também não falo do doido ocasional, aquele cuja demência pontual não compromete seu convívio em sociedade. Eu, por exemplo, tenho o habito de falar sozinho, trocar ideias comigo mesmo, além de conversar muito com meus cachorros, que me ouvem atentamente. Às vezes, dou uma pausa, para estabelecer o dialogo com eles, o que nunca aconteceu. Provavelmente julgam minhas ideias superficiais ou inadequadas e preferem ficar em silencio. Confesso, para minha decepção, que ainda não identifiquei tema que lhes interessasse. Mas voltando a falar de “doido varrido”, aquele que, tendo perdido a consciência de si mesmo, vive em mundo imaginário, que tipo de lunático o amigo gostaria de ser? Ao longo da vida, já deparei com alguns, entre cômicos e dramáticos. Da minha infância extraio um que, de cima da ponte, atirava pedras no rio e dava gargalhadas, quando acertava alvo – seria peixe? – que só ele via. E havia outro que, sentado na calçada, chorava copiosamente, sempre que olhava para um amarelado retrato, tirado do bolso. Nos dias atuais, dois malucos chamam-me a atenção: um, que, microfone na mão, canta e dança, na praça, defronte ao fórum João Mendes, imaginando-se, por certo, em palco de teatro, aplaudido por extasiado público. O outro é um, ainda jovem que tranquilamente sentado em um dos bancos do Parque da Aclimação, comunica-se, através de ancestral celular, com personagens nacionais e internacionais, de Dilma a Obama, dando-lhes conselhos ou cobrando-lhes soluções. Fico a matutar: se definitivamente doido ficasse, de que espécie preferiria ser? Quando eu era criança – contava minha mãe -, passava longo tempo, debaixo do chuveiro, irradiando imagináveis partidas de futebol, sempre do Botafogo massacrando seus adversários. Acho que aí está minha vocação de doido: nas escadarias do Municipal, voz empostada e tome gol do Botafogo. Se me virem assim, por favor, não me interrompam, posso estar narrando momento crucial do jogo.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Considerações sobre a ‘’Escola Sem Partido’’

Ilustre colega, Procurador da República, que me honra com a leitura de meu blog, manda-me notícia de uma Professora de Sociologia de Curitiba, que teria sido afastada de suas funções, por fazer proselitismo político, em sala de aula, a favor do marxismo. Seus alunos até compuseram um ‘’funk’’, denominado ‘’baile na favela’’, cuja letra, bastante sintomática, canta: ‘’os burgueses não moram na favela/ Estão nas empresas explorando a galera/ E os proletários, o salário é uma miséria/ Essa é a mais valia, vamos acabar com ela’’. Expressões como ‘’burgueses’’, ‘’mais valia’’ e ‘’proletários’’, indicam que a Professora ainda está nos anos 60. Foi ela afastada da escola por promover doutrinação marxista e seus alunos se insurgiram contra seu afastamento, o que se justifica, vez que, como sabemos, os professores de esquerda são mais simpáticos e benevolentes com seus discípulos.

Segundo o historiador e Professor, Marco Antonio Villa, nos últimos 13 anos, 90% dos livros didáticos de Historia, comprados e distribuídos pelo Ministério da Educação, tendenciosamente, deturpavam fatos históricos, a favor da esquerda. Nos dias atuais, promove-se intenso debate sobre a ‘’Escola Sem Partido’’, objeto do projeto de lei nº 1411/15, de autoria do Deputado Rogério Marinho (PSDB/RN) e que proíbe, sob pena da caracterização de ilícito penal, a professores fazerem pregação ideológica, em sala-de-aula. O projeto é bom, extirpados alguns excessos como, por exemplo, a extensão da pena aos autores dos livros, o que, a meu modesto juízo, estupra a liberdade de expressão. Se o livro é tendencioso, para um lado ou para outro, basta a Escola não adotá-lo. A ‘’Escola Sem Partido’’ propõe, em sua essência, que o Professor, principalmente de Historia e disciplinas afins, emita, tão somente, juízo de realidade, sobre o conteúdo da matéria lecionada. Isto não quer dizer, por exemplo, que o Professor de Historia não possa discorrer sobre as causas e conseqüências da Revolução Francesa ou da 2ª Guerra Mundial. Poderá, inclusive, promover debates, entre seus alunos, sobre tais temas. O que não poderá é, através de seu juízo pessoal, induzir o jovem a construir suas convicções em função das convicções dele, professor. O ensino sempre funcionou assim, produzindo importantes personalidades, à esquerda e à direita. Lembro-me de que, no Curso Clássico, tive um Professor de Português e Literatura, Candido de Oliveira, excelente por sinal, que apenas vim a sabê-lo comunista histórico, muito tempo depois, vez que, em sala de aula, mantinha-se distante de suas convicções políticas. Em tempos mais modernos, meu filho, então cursando a Faculdade de Direito da PUC, foi aluno do ex-ministro, José Eduardo Martins Cardoso e o considerava excelente Professor, que jamais introduziu política em seu magistério. E olha que meu filho é mais anti-petista do que eu. Assim, a ‘’Escola Sem Partido’’ vem recolocar o ensino brasileiro nos trilhos, permitindo ao jovem construir suas convicções, a partir de sua própria análise dos fatos, aprendidos e vividos. 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

A Esperança que surge



Na última segunda-feira, tive a satisfação de, no programa ‘’Roda Viva’’, da TV Cultura, assistir à entrevista do Deputado Rodrigo Maia, recém-eleito Presidente da Câmara Federal. Jovem, com 46 anos e já no seu quinto mandato, demonstrou conhecimento dos agudos problemas, legados ao País, pela irresponsabilidade lulopetista, propondo-se a colocar, na pauta daquela Casa, relevantes temas, como o ajuste fiscal, o acordo entre a União e os Estados e as reformas política e da previdência. É agenda ousada para 7 meses de mandato, dentro dos quais teremos as malfadadas Olimpíadas e o pleito Municipal. Na eleição para Presidente da Câmara, Rodrigo Maia ‘’correu por fora’’, uniu desiguais e, no segundo turno, teve quase o dobro de votos de seu adversário. Porisso, parece ter condições de cumprir tão ousada pauta. Todavia, o que impressionou, naquela entrevista, foi a coragem do deputado em se declarar ‘’de direita’’, em um País que, de larga data, ser ‘’de esquerda’’ é considerado politicamente correto. E Rodrigo Maia pontuou, com rara precisão, os argumentos ‘’da direita’’, a que pertence: o fim do Estado-Empresário, fonte inesgotável de corrupção e incúria administrativa; o Estado, voltado para atividades sociais, como educação e moradia; o fim de programas, cuja finalidade é predominantemente eleitoreira, como o ‘’bolsa família’’, o qual, além de exigir reciprocidade do beneficiado, deve ter duração limitada, para não ser, como o é hoje, fator de incentivo a se manter desocupado, às custas dos tributos, recolhidos da maioria trabalhadora. Rodrigo Maia propõe reforma política, através de clausulas de barreira, que reduzam o número de partidos políticos dos atuais 25, para, no máximo, 10, o que, se não é o ideal, é ótimo começo. Propõe-se, ainda, estreitar relações com o Senado, objetivando aprovar o projeto da terceirização, que será importante avanço, na flexibilização das relações do trabalho. Precisa, sua visão da rígida observância do equilíbrio fiscal, indispensável ao desenvolvimento econômico e a conseqüente geração de empregos. Vivemos tempos bicudos, com a população enfastiada pela política, protagonizada por velhas raposas felpudas, que fazem da política não um ‘’munus’’ público, mas forma de auferir vantagens indevidas. Lula, no fogaréu da ‘’lava jato’’, tem o desplante de pousar em Caruaru, a bordo de luxuoso jato particular, pertencente, não se sabe a quem, ou pago por quem menos se conhece. A última pesquisa, para prefeito de nossa Capital, revelou que votos em branco empatam com o primeiro colocado. Pois dentro deste cenário desolador, emerge um político jovem, mas já experiente, como Rodrigo Maia, a esperança de novos tempos para o Brasil. Com certeza, se cumprir os objetivos delineados, teremos excelente nome para a Presidência da República, em 2018.

Além dos atributos, acima identificados, helás! Rodrigo Maia é Botafoguense.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Por causa de livros e desenganos


Aquela era Maria Clara, intransigente em suas decisões, quaisquer que fossem. Com o tempo, Luiz Claudio compreendeu que discussões eram inúteis. A vontade dela sempre prevalecia, mesmo quando a obviedade dizia o contrario. Mas tudo começou mesmo por causa dos livros de Luiz Claudio que, segundo ela, eram inúteis e ocupavam espaço. – ‘’se você já os leu, por que não doá-los a terceiros?’’, repetia ela, quase como mantra. Difícil para ela entender que livros, adquiridos ao longo do tempo, não são meros objetos de decoração, mas a própria historia de sua vida e, afora os filhos, fôra o único tesouro que conseguira acumular. Mas, como sempre, ela venceu e os livros foram removidos para um corredor, fora da ordem, que ele dispusera, trabalho que lhe custara uma hérnia de disco. Depois veio a historia do quarto de hóspede, que ele utilizava como local para ver televisão e ler e que, de repente, ela resolvera transformar em mais um quarto de empregada. Foi aí que lhe caiu a ficha: Maria Clara estabelecera a estratégia de, espaço a espaço, colocá-lo para fora, privando-o de seus prazeres. De larga data, criticava seu gosto musical, irritava-se com seus cantores preferidos, principalmente Elis Regina, ícone de sua geração e a quem ela se referia de forma pejorativa. Nessas ocasiões, limitava-se ele a desligar o som e se esconder atrás do jornal. Talvez Maria Clara não o quisesse definitivamente fora, mas tão somente, privando-o de seus prazeres, deixar registrado que quem mandava era ela, apesar de ele jamais contestar isto. Finalmente, a solução chegou, quando um colega de trabalho comentou que queria se desfazer do pequeno apto – quarto e sala – que possuía, ali, perto da empresa. Com o bônus recebido, comprou o dito e para lá levou seus livros, ocupando todo o quarto de dormir, com novas estantes, pré-moldadas. O espaço pertenceria exclusivamente aos livros, nenhuma mesa, nenhuma cadeira. Era forma de homenageá-los e se redimir por não ter lutado por eles. Na exígua sala, instalou um sofá, que poderia servir de cama, um abajur de pé e um carrinho de chá, sobre o qual colocou algumas poucas garrafas. Na cozinha, apenas pequena geladeira e um micro-ondas. No local do fogão – peça que seria inútil, pois não sabia nem mesmo fritar um ovo – colocou uma minúscula mesinha de fórmica e uma banqueta. Detalhe: ninguém, principalmente Maria Clara, saberia daquele que seu esconderijo. Quando ela perguntou pelos livros, disse-lhe que, precisando de dinheiro, vendeu-os a um sebo. Ela acreditou ou fingiu acreditar, o que dava no mesmo. Num primeiro momento, passou a chegar tarde, em casa. Fazia escala no apartamento, assistia ao jornal, lia um pouco. Maria Clara reclamou, não porque quisesse sua presença, mas porque comprometia o horário do jantar. – ‘’Estamos com excesso de trabalho, por um tempo vai ser assim, melhor não me esperar, como qualquer coisa, na rua’’ justificou ele e, a partir de então, passou a armazenar comida congelada, no apartamento. Nos finais de semana, quando jogava seu time, arranjava uma desculpa e corria para o apartamento, onde, deitado no sofá, assistia ao jogo, na TV pregada à parede. Encantou-se com seu refugio e passou a criar viagens inexistentes, apenas para ter uma noite, só para si, ler, ouvir música, desfrutar daquela esfuziante solidão que, pela primeira vez, fazia com que ele se sentisse proprietário de si mesmo. Fora numa noite assim. Dissera que iria a Brasília e correu para seu esconderijo. Preparou generosa dose de uísque, que bebeu, vagarosamente, enquanto tomava banho. Depois, descongelou uma comida qualquer e, como se fosse uma despedida, passeou os olhos pelos livros, folheando alguns e tentando se lembrar de quando e onde os adquirira. Já passava das 10 da noite, quando a campainha tocou. Como não conhecia ninguém – evitava, até, cumprimentar os vizinhos – só poderia ser Adilson, o porteiro, de quem se tornara quase amigo. Displicentemente abriu a porta e imediatamente foi empurrado para dentro por um mulato enorme, arma na mão, exigindo dinheiro. Entregou-lhe as únicas notas, que tinha na carteira, duas de cinqüenta e uma de 20. O homem, furioso, investiu sobre a estante, derrubando livros, à procura de inexistente cofre. Foi neste momento que Luiz Claudio avançou sobre o assaltante. Desta vez, não permitiria que seus livros fossem violados. Levou dois tiros e caiu, vendo seu sangue e sua vida se misturarem aos volumes-esparramados, no chão.
Enfim, tivera uma morte gloriosa. 

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Terapia


Roberta era mulher atormentada: passara dos 40 e apesar de razoavelmente bonita e bem feita de corpo – seu forte eram as coxas torneadas – não conseguia arranjar namorado. Ou melhor, não é que não conseguia, o problema era conservá-los por muito tempo. Chegou a ir ao dentista, podia ser problema de mau hálito, o que afasta qualquer mortal. Não era! Afora uma cárie, ainda superficial, seus dentes eram perfeitos e suas gengivas não apresentavam qualquer anomalia. Sabia conversar, estava por dentro de todos os assuntos da moda, menos política, que era coisa de uns poucos, metidos a besta. Sabia que estava em idade difícil, velha para os jovens e não se dispunha – ainda – a se lançar nos braços de velho babão, que só funcionava na base de ‘’comprimido azul’’. Mas o tempo ia passando e ela, ali, fim-de-semana em casa, ou em barzinho, com grupo de mulheres, não amadas como ela. Até a Ana Lucia, baixinha, pouco cabelo, arranjara namorado, estava de casamento marcado e ela, empacada. Resolveu se abrir com uma amiga, a Solange, que depois de muito batalhar, conheceu Guilherme e já moravam juntos, há mais de um ano. Não era grande coisa – o Guilherme -, mas melhor do que ficar vendo filme velho, sábado à noite. Solange foi definitiva: - ‘’Você é complicada, Roberta. Esse negócio de muito papo, ficar no beijinho, homem não quer saber. Não digo que você tem que transar logo no primeiro dia, mas, depois do terceiro encontro, tem que ir para os ‘’finalmente’’. Lembra o Ricardo, aquele coroa que lhe apresentei? Veio reclamar comigo que você estava se fazendo de difícil e que ia botar a fila pra andar, porque a oferta era maior do que a procura. Quer um conselho? Você precisa fazer terapia, romper essas barreiras. Se você quiser, te indico um, ótimo psicanalista e não cobra caro.’’
Sobriamente vestida, quase sem pintura, sapato baixo, tudo para não aparentar perua, entrou cautelosamente no edifício, onde se situava o consultório do Dr. Edgar, o psicanalista que Solange lhe recomendara. Quando tocou a campainha, a porta foi aberta por homem bonito, 1.90, por volta de 50 anos, que lhe estendeu largo sorriso: - ‘’Já a esperava. Entre naquela sala, coloque-se à vontade e deite no divã, que eu já volto.’’ Roberta se impressionou com a sala de atendimento, finamente decorada, e, no canto, perto da janela, um enorme divã, em camurça verde-petróleo, com uma poltrona de espaldar alto, ao lado. De algum lugar vinha suave música, própria para relaxar. Ela tirou os sapatos, afrouxou o cinto do vestido, que lhe apertava a cintura, deitou-se no divã, fechou os olhos e deixou seus pensamentos viajarem, sem destino. De repente, ela sentiu um corpo deitar a seu lado, beijar-lhe o rosto e passar as mãos sobre suas coxas. Ela as segurou, afastando-as, pulou do sofá, recompondo-se:
- ‘’Pensei que o senhor fosse um psicanalista.’’
 – Correto. Eu sou’’.
- Mas a Solange não me explicou seus métodos.’’
- ‘’A senhora disse Solange? Mil perdões, eu havia entendido Fernanda.’’
Abriu a cortina, que estava fechada, apanhou um bloco de papel, caneta e começou a fazer perguntas.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Do direito de não ir



Quase em pânico, recebo convite para casamento, com direito à recepção, de filha de cliente especial. Explico o quase pânico: tenho um amigo – longeva amizade -,ilustre jornalista, com quem comungo do mesmo trauma: convite para participação em eventos sociais. Confessa-me ele que, recebido o convite, começa a sofrer, com antecedência, engendrando  desculpa para não ir. Eu, menos educado, simplesmente não vou, sem qualquer justificativa e tantos faltei que, hoje, não sou mais convidado, o que me dá enorme alivio. Lembro-me dos sufocos passados em jantares idos e vividos. Se o jantar for ‘’à americana’’, o desconforto é total: sair, equilibrando prato, talheres e copo, em busca de lugar para se apoiar, quem há de? Fui, certa feita, a casamento de bacana, recepção no Jóquei, prá lá de 500 pessoas. Sentado em almofadão, conquistado graças à ‘’pior idade’’, lutei, inutilmente, com os frutos do mar, que sambavam no prato. Ao longo do tempo, desenvolvi uma estratégia em jantares ‘’à americana’’: só coloco no prato o que posso espetar com o garfo, desprezo total pela faca. E quando o jantar é ‘’à francesa’’, com lugares marcados? Você senta em uma mesa, em companhia de desconhecidos, ou quase, correndo o risco de ferir susceptibilidades dos circunvizinhos, ou ficar naquela conversa vazia, que dura alguns minutos e, de repente, faz-se estrondoso silencio. Sei lá se, à esquerda, está sentado petista histórico e eu começo a desancar Lula? Não foi o caso da então Ministra Katia Abreu que jogou um copo d’água no rosto do Senador José Serra? Alguns anos atrás fui convidado para jantar, com lugar marcado, no ‘’Clube Paineiras’’. Aniversário de colega ilustre, com bom trânsito no Poder Judiciário. Colocaram-me numa mesa, ao lado de Desembargador de uma das Câmaras Criminais de nosso Tribunal de Justiça. No começo, tudo bem, apesar da chatice de S.Excia., a falar da influencia do direito penal alemão no direito brasileiro. Só que lá pelas tantas, depois do dito cujo ter entornado seguidas e generosas doses de uísque, passou ele a contar piadas picantes e, como todo chato bêbado que se preza, ao final da piada, gargalhava, cuspia e dava tapa nos ombros vizinhos, eu um deles. Na primeira brecha, chamei minha esposa para dançar e, da pista, tomamos o rumo de casa, deixando nossos lugares vagos, na mesa. E comemorações de aniversário de formatura, pode haver coisa mais tétrica? Meu amigo jornalista chama-as ‘’circo dos horrores’’. E não é? ‘’Quem é aquela senhora, apoiada na bengala?’’, pergunta um, ao que o outro, mais enturmado, responde: ‘’é fulana, aquela gostosa, que esnobava todo mundo, você não se lembra?’’ E o pensamento viaja no tempo, querendo estabelecer relação entre a velha caquética de hoje e a ‘’gostosa’’ de milênios atrás. E, aí, é inevitável você se perguntar: ‘’será que eu também estou tão derrubado, assim?’’ É claro que está, apesar dos colegas, em auto-proteção, afirmarem ‘’você está ótimo, não mudou nada’’. Como é mesmo aquele verso de Fernando Pessoa? ‘’Eu me verei em teus olhos e tu te verás nos meus’’. Dura realidade.

É por estas e outras que repudio convites para eventos de qualquer natureza. Prefiro a segurança de minha casa e a companhia de meus cachorros que, de mim, só esperam mesmo um afago e que me retribuem com latidos de alegria. Mas, o que fazer com o convite que repousa, desafiador sobre a mesa? E o pior é que tem ‘’RSVP’’, o que significa jantar de lugar marcado. Talvez um infarto, até lá, resolva esta angustia!  

quarta-feira, 13 de julho de 2016

A história de Sabrina


Esta quem me contou foi a moça que trabalha como, digamos, ‘’recepcionista’’, no estabelecimento comercial, aqui, ao lado, onde, em letras discretas, lê-se ‘’clínica de massoterapia’’. Advogo para o proprietário da casa e minha obrigação é mantê-la funcionando e atender as “atendentes”, em seus problemas pessoais, via de regra, ligados a direito de família. Não vem com esse sorriso irônico, pois, como se diz ‘’onde se ganha o pão, não se come a carne’’, apesar de achar esse ditado meio babaca, porque nada como carne no pão, mas esta é outra historia, porque quero mesmo é contar a historia de Sabrina e é claro que esse é seu ‘’nome social’’. Falsa loura, olhos verdes (será lente de contato?), pernas e coxas estonteantes, 27 anos, declarados, um filho de 05... e casada, desde os 22, quando engravidou. Completara o 2º grau e seu sonho era estudar biologia marítima. Esqueci de dizer que nascera e vivera, até os 20 anos, em Ilhéus, quando, com os pais, veio para São Paulo. Há cerca de 02 anos, o marido, que era almoxarife, foi despedido e a corda começou a apertar, aluguel atrasado, condomínio nem pensar e até o leite da criança racionado. O marido, cansado de procurar emprego, passava as manhãs com Ana Maria Braga e às tardes com a sessão idem. Ela, Sabrina, guiada por amiga, um dia chegou aqui ao lado. Foi aprovada na seleção. Dissera ao marido que arranjara emprego de recepcionista e a carteira profissional provava isto. O problema é que, registrada com salário mínimo, nunca chegava em casa com  menos de 500 reais. Aluguel em dia, condomínio em dia, geladeira cheia, inclusive com a cerveja preferida dele. Até que uma noite ela comunicou que comprara um carro, nada de luxo, um ‘’Palio’’ usado. Isto foi numa segunda, depois de ela ter passado o fim-de-semana fora, trabalhando, segundo ela, em convenção de executivos da área de informática. Ele, calado, escutou a historia, meio desconfiado, mas, alegre com o carro, calado ficou. Um mês depois, ele ainda desempregado, ela chega com prospectos de um prédio de apartamentos, em final de construção. Coisa simples, 02 dormitórios, 60m², mas com área de lazer, boa para o filhinho brincar. Apertando o cinto, dava para encarar a prestação do financiamento. O dinheiro para a entrada, ela tinha economizado. Com a pulga atrás da orelha, ele a seguiu, no outro dia. Por que ela nunca dissera onde trabalhava? Depois que ela passou pela porta de vidro, ele perguntou ao manobrista que empresa era aquela... e ouviu a resposta que já sabia. Voltou para casa, cabeça a mil: matá-la?; matar-se? O dia arrastou-se e ele, mais calmo, pensou no carro, no apartamento novo, na geladeira cheia. Ela chegou, como de hábito, por volta das 11 da noite, trazendo uma pizza, rescendendo a mussarela, que comprara, na esquina. Já no terceiro pedaço, ele perguntou: ‘’você sente prazer no que faz?’’ Ao que ela respondeu: ‘’é claro que não, é apenas negócio, prazer só com você.’’

 Agora, todos os dias, por volta das 13 horas, um Palio deixa Sabrina, aqui, ao lado e a busca, por volta das 22 horas. Ele ao volante. 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Quem quer pizza?


A ‘’pizzaria’’, quando envolve a cúpula do Poder, funciona aqui e além-mar. Lula, apesar de eloqüentes indícios de seu envolvimento direto na petropropina (já o era, no ‘’mensalão’’) continua leve e solto, fazendo articulações contra o ‘’impeachment’’ da falecida, trombeteando contra a lava-jato e até pretendendo influenciar na escolha do próximo presidente da Câmara. O Supremo colocou-o sob sua toga protetora e de lá ele não sai. Vejo, às segundas, o historiador, Marco Antonio Villa, esbugalhar os olhos de ódio, clamando pela prisão do dito cujo, mas, não adianta, meu caro. Ao final, concluir-se-á (olha a mesóclise aí, gente!) que o triplex do Guarujá não é dele, que o sítio do Guarujá não é dele, que toda a grana - e põe grana nisto! - que recebeu veio das palestras proferidas, onde, mercê de sua cultura invulgar, debateu assuntos relevantíssimos, como a influência do aguardente de cana na economia. De igual sorte, o Presidente do Senado, Renan Calheiros, citado, quase por unanimidade, nas incontáveis delações premiadas, já teve um dos inquéritos, movidos contra ele, arquivado pelo Supremo Tribunal Federal e, por certo, os outros seguirão o mesmo caminho. E o Paulo Bernardo, aquele que surrupiou 100 milhões dos velhinhos aposentados? Pois não é que, menos de 48 horas da decretação de sua prisão, o inefável Toffoli (aquele que, malgrado ter sido reprovado em concurso para Juiz, virou Ministro do Supremo) colocou-o em liberdade? Lembram-se do ‘’mensalão’’? Apenas os operadores, Marcos Valério e os diretores do Banco Rural estão presos, enquanto a tropa petista resta liberta, Deus sabe fazendo o que. Todavia, conformemos, pois a ‘’pizzaria’’ também funciona nos Estados Unidos. Não é que a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, enquanto Secretaria de Estado do Governo Obama, utilizou seu e-mail pessoal para enviar informações oficiais consideradas secretas? A quem tais informações foram enviadas e com que objetivo? Por que Hillary não se valeu do e-mail ‘’.gov’’? A meio das investigações, o FBI sugeriu que o caso fosse arquivado. A Imprensa norte-americana ‘’caiu de pau’’ e o Departamento de Estado declarou que fará uma ‘’investigação interna’’, mas o cheiro de ‘’pizza’’ já inunda o ambiente. Lá, também, os tempos são outros! Lembro-me de que, décadas atrás, o então Presidente Nixon mandou dar uma espiada nos escritórios do Partido Democrata. Dois jornalistas publicaram a noticia e a repercussão foi tão violenta que Nixon, um dos mais importantes presidentes norte-americanos, que teve a coragem de terminar com a vexatória Guerra do Vietnã, que reatara relações diplomáticas com a China, apesar de tudo isto, só em razão daquela indevida espiada, foi obrigado a renunciar.

Tempos e costumes outros! 

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Considerações sobre uma rápida viagem



Ontem, fiz um ‘’bate-volta’’ ao Rio. Cheguei às 9h20 para uma primeira reunião ali na rua Santa Luzia, menos de 1.000 metros do aeroporto. Manhã esplendorosa de quase verão, fui a pé, pelo viaduto que cobre o Aterro do Flamengo. Chego aquela rua (sem ser abordado por nenhum ‘’trombadinha’’) que começa na Igreja do mesmo nome. Santa Luzia, mesmo tendo tido seus olhos furados e arrancados, seguiu professando sua fé em Deus. Porisso é considerada a ‘’protetora da visão’’. Como ainda tinha 15 minutos e estava a menos de cinco do meu destino, entrei. Igreja pequena, simples, com aquele estilo ‘’rococó’’, que caracteriza os templos do começo do século 20 para trás. Incrível pensar que, tendo trabalhado, por quase uma década, no quarteirão seguinte, nunca tenha, até por curiosidade, entrado naquela Igreja. Justifica-se: era eu ainda jovem, o que nos dá quase a certeza da imortalidade e do poder absoluto de guiar a vida. Terminada a reunião, segui para outra, na Avenida Rio Branco, onde cheguei, pela Cinelândia. Agrada-me aquelas construções neo-clássicas, trazidas da arquitetura francesa: o Teatro Municipal, a Escola de Belas Artes, a antiga sede do Supremo, a Biblioteca Nacional, cujo prédio está sendo recuperado. No tapume, que cobre sua fachada, há um ‘’apelo’’, cujo autor seria Ziraldo, onde sê lê: ‘’Entre! Ler é mais importante que estudar.’’ Pensamento prá lá de imbecil. A biblioteca pública ou particular, mesmo em tempo de internet, é excelente centro de pesquisa e sua qualidade é fator de credenciamento de Universidades. Lembro-me, quando estudante, das incontáveis horas, passadas na Biblioteca Municipal, que ficava na Praça Dom José Gaspar, lendo e estudando, atividades que se entrelaçam. O estudo, hoje mais do que nunca, é o único caminho aberto, para a independência. No avião, que me levou, li reportagem sobre uma jovem negra, moradora de favela, estudante de escola pública que, com muita dedicação, 10 horas por dia, mergulhada nos livros, classificou-se a participar de Olimpíada de Neurociência, a ser realizada em Copenhague, onde estarão adolescentes de 52 países. Eis porque afirmar que ‘’ler é mais importante que estudar’’, chega a ser um desserviço a juventude e até mesmo uma heresia. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Comentário sobre livros, especialmente sobre “a Ditadura Acabada”



Conversando, via e-mail, com amiga querida (que, na longínqua juventude foi muito mais que amiga), disse-me ela se sentir perplexa ao constatar que, dos romancistas contemporâneos, desconhece a todos. Outro dia, meu irmão, lá do sul da Bahia, que mantém comigo uma relação de ‘’bate e assopra’’, desancou-me, porque, na mesma linha de minha amiga, eu dissera que desconhecia qualquer autor brasileiro atual, que valesse a pena. Citou ele dois: João Ubaldo, que não é tão contemporâneo assim e um outro, Mario Ribeiro que, para mim, é apenas nome de Rua, no Guarujá. Como já disse e redisse, tenho ancestral hábito de percorrer livrarias, em busca de novidades. Acabei de ler o livro sobre a derrocada do ex presidente Fernando Collor de Mello, do competente historiador, Marco Antonio Villa e o último de Elio Gaspari, ‘’A Ditadura Acabada’’. Gaspari é sempre preciso, identificando suas fontes e revelando fatos, desconhecidos por mim, apesar de ter vivido aquele período de nossa historia e ter percorrido dezenas de livros, à esquerda e à direita, sobre o tema. Apesar de Gaspari colocar-se mais à esquerda, o livro é imperdível para quem gosta do tema, até porque completa a série sobre os governos militares. O livro, especialmente para quem viveu aqueles dias, derruba a falaciosa tese de que a redemocratização do País foi conquista do povo, especialmente, a partir do movimento ‘’diretas, já’’. Na verdade, o processo de redemocratização começara, ainda no Governo Geisel, com a anistia e a extinção do AI-5. Tancredo teve, como principal cabo eleitoral, o General Leônidas Pires Gonçalves, egresso do ‘’núcleo de informações’’ e que aproximou o político mineiro dos Presidentes Geisel e Figueiredo. Na Convenção do PDS, Andreazza era candidato do Planalto, mas não o era do ‘’Sistema Militar’’ e o Presidente Figueiredo, naquela altura, simpatizante da candidatura Tancredo, nada fez para ajudá-lo, batido por Paulo Maluf, esse hostilizado pelo Planalto e pelo sistema militar e, assim, facilmente derrotado no Colégio Eleitoral. Com a morte de Tancredo, assumiu Sarney, cria da Revolução, como o foram, na sequencia, Collor e Itamar. Fernando Henrique, um ‘’auto-exilado’’, fez dois governos dentro dos princípios que guiaram o regime militar, princípios esses que foram rompidos com o lulopetismo e contra os quais, como no pré-64, o povo veio às ruas, desemborcando no impeachment de Dilma. Em 64, as Forças Armadas, galvanizando o anseio popular, demitiram o governo Jango, que não tinha marcas de corrupção, mas que pretendia transformar o Brasil numa ‘’República Sindical’’. Hoje, a população, mais politizada, mas embuída do mesmo espírito de ontem, repudia a corrupção e a má gestão da coisa pública, estas, sim, marcas, ou melhor, manchas do lulopetismo, que todos queremos apagar. Assim, as ‘’obras completas’’ de Elio Gaspari, sobre duas décadas (1964-1984) da história do Brasil, constituem leitura obrigatória para que, sem ter vivido aquele período, quer entender, com clareza, os dias atuais, e, também, para nós, que lá estivemos e, com juízo crítico mais apurado, melhor podemos avaliar a importância do trabalho desse importante jornalista. 

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Delcídio Amaral e a lava jato

Leio, na última edição da revista ‘’Piauí’’, bombástica entrevista com o ex Senador, Delcídio Amaral, onde ele, ‘’escancarando de vez’’, revela todo o conteúdo de sua delação premiada e os fatos a ela correlatos, como interferências sofridas para que não o fizesse, vindas, principalmente do Senado. Abandonado pelo Governo, do qual era líder, pelo PT, que sempre o considerou um ‘’estranho no ninho’’ e, até, pelos colegas de Senado, a quem fizera incontáveis favores, procurou salvar a própria pele. Ficou preso em condições sub-humanas e relata que, quando faltava luz no prédio da PF e o gerador era ligado, fumaça inundava a cela improvisada, onde estava recluso, asfixiando-o. Ficou cerca de 90 dias preso e somente foi libertado, por ordem do Ministro Teori Zavaski, quando a Polícia Federal e o Ministério Público deram-se por satisfeitos com seus relatos. Sua condição física e psicológica, no plano estritamente jurídico, compromete sua delação e nos preocupa, a nós, que imaginávamos viver em um Estado de Direito, onde o ordenamento jurídico repudia o principio, segundo o qual ‘’os fins justificam os meios’’. É claro que todos, que queremos um País passado tão a limpo, quanto possível, não podemos ser contra a ‘’lava jato’’ que, hoje, entra em sua 31ª fase, sempre correndo atrás de empresários e funcionários de baixo escalão. Delcídio, em sua entrevista- reproduzindo o conteúdo de sua delação -, detalha, de forma minudente, suas conversas com Lula, no Instituto que leva o nome do mesmo, com a ex-presidente Dilma, com os ex Ministros Mercadante e José Eduardo Cardoso, além do sempre Renan Calheiros, todos imbuídos da missão de salvar o ex-presidente e seus filhos, Bumlai e Cerveró. Os detalhes permitem concluir que, se confirmada a veracidade dos fatos narrados, confirmada estará a existência de fortes indícios da prática de crimes, onde o de ‘’obstrução da justiça’’ é o mais brando. Em que pesem tais indícios, até o momento, nenhuma daquelas personalidades foi incomodada. Enquanto isto, Marcelo Odebrecht comemora 01 ano de prisão, apesar de desaparecidos todos os requisitos, estabelecidos pelo Código de Processo Penal, para decretação ou manutenção daquela custódia. Fica claro, até para o leigo, a confirmação de que a libertação daquele empresário está condicionada, não aos ditames da lei, mas à delação que se lhe é exigida.

Conta a história que, certa feita, um cidadão romano, vítima de arbítrio, foi preso. Dirigindo-se a seu algoz, lançou o vaticínio ‘’hodie, mihi, cras tibi’’, que, em canhestra tradução, significa: hoje, sou eu, amanhã, será você’’.