Ao longo de nossa vida de casados – 45 anos – eu e minha
esposa nunca tivemos problemas em contratar empregados ‘’gays’’, isto numa época em que o preconceito corria solto. São eles
dedicados, responsáveis e respeitadores. Recém-casados, fomos morar no Rio e ‘’nosso’’ primeiro gay foi ‘’Seu Luiz’’ que, ao passar roupa,
borrifava-a com alfazema e, na cozinha, esmerava-se, fazendo, inclusive um ‘’sonho’’, recheado de goiabada, de comer
ajoelhado. Já morando em São Paulo, filhos – todos homens àquela época –
entrando na adolescência, tivemos vários e seguidos empregados ‘’gays’’, em razão dos quais destaco dois
– dentre tantos – episódios: o primeiro empregado tinha sido cozinheiro no
navio ‘’Rosa da Fonseca’’, que era o
‘’top’’ da época. Foi despedido e,
por caminhos que não me recordo, foi bater em nossa casa. Como disse lá atrás,
naquela época o preconceito era forte e, por certo, ele encontrava restrições
para se inserir, no mercado de trabalho. Nós o contratamos e ele superou nossas
expectativas. O único problema é que, talvez em função de ter sido cozinheiro
em sofisticado navio, elaborava pratos requintados, com molhos especiais... mas
que não caiam no paladar dos meus filhos. Um dia, para resolver o impasse,
minha mulher chamou-o para uma conversa: - ‘’fulano,
sua comida é maravilhosa, mas os meninos estão em uma idade em que preferem
arroz, feijão, bife e batata-frita’’. O nosso empregado engoliu seco e,
visivelmente contrariado, refugiou-se em seu quarto. No outro dia, preparou o
almoço, colocou a mesa e, constrangido, mas altivo, disse a minha mulher: - ‘’Desculpe, Dª Renata, não sei se a comida
está como a senhora quer, mas, pior do que isto não sei fazer.’’ O segundo
fato foi, sem duvida, mais impactante: certa madrugada, acordo e vou à copa beber
água. Eis que me deparo com ‘’uma jovem
mulher’’, vestida de branco, salto alto, maquiada, que me cumprimenta,
educadamente. Volto para o quarto, atônito. Estaria em estado de sonambulismo?
Acordo minha mulher, sussurrando-lhe: ‘’acho que não estou bem. Imagine que vi
uma moça, bem vestida, na copa e que ate me cumprimentou.’’ – ‘’Não se preocupe
– esclareceu minha esposa – é fulana, que, em finais de semana, dubla a Madona,
numa boate gay, na praça da República’’. Pelo menos, 30 anos são passados dos
fatos, aqui narrados. Lentamente, os homossexuais vão deixando de ser pessoas
marginalizadas, ocupando espaços, em segmentos econômicos, sem precisar se
esconderem ‘’dentro do armário’’. Os transexuais já podem usar
seus respectivos ‘’nomes sociais’’,
aqueles que escolheram para se auto-nominarem. E o Direito, como ciência social,
vai lhes concedendo prerrogativas, por maiores que sejam o preconceito ainda
existente. Realmente, ‘’o tempo é o
senhor da razão’’.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
Para falar em idoso
Agenda não é coisa que compro, porque sempre as ganho, até em
demasia. Por isso, enquanto elas não chegam, vou marcando meus compromissos,
para o próximo ano, na última pagina da agenda atual, já caindo em desuso.
Assusto-me com audiência designada para 08 de fevereiro, um dia após meu
aniversario. Assusto-me pela idade que vou completar (e que não revelo nem sob
tortura) e assusto-me pelo tempo que estou nesta lida, ainda com disposição
para os enfrentamentos, tantos os são. Já me cedem lugar no metrô, tenho acesso
a guichês preferenciais, paro em vagas de idosos. Privilégios concedidos, que,
em um primeiro momento, relutei em usá-los. Depois, cheguei à conclusão óbvia
que, usando-os ou não, eu continuava a ser, material e juridicamente falando,
um idoso. Viajo no tempo e constato a relatividade de tão incômodo objetivo.
Quando estava no curso clássico (extinto, em nome da generalização do ensino)
meus professores deveriam estar na faixa dos 40 e nós, seus alunos, os
considerávamos ‘’idosos’’. O chamado
temor reverencial, mantido em relação a eles, advinha não só da majestade da
função – ser professor -, mas, principalmente, da idade ‘’provecta’’ dos
mesmos. Fico a imaginar com que olhos meus netos me vêem. Com certeza, como
aquele velhinho, com quem tem que se tomar cuidado e cuja opinião se ouve, com
aquele olhar ausente, próprio dos jovens. Convivo com colegas, ainda não
chegados aos 60 e que se consideram exauridos pela profissão, a sonhar com o
premio da ‘’mega’’, a remeter-lhes
mundo afora, ou a uma confortável casa de campo, onde poderão ouvir ‘’muitos rocks rurais’’. Pois eu não
almejo ‘’casa no campo’’ (até porque
sou bicho do mar, embora tenho nascido muito longe dele) e muito menos bater
perna pelo mundo, com esses malucos explodindo e matando, em nome de Alá.
Relembro meu saudosíssimo amigo, o Ministro Abelardo Jurema, uma das melhores
figuras humanas, com que tive o privilegio de conviver, que, no exterior, ao
ser convidado a visitar museu, recusava-se, porque, dizia, ‘’prefiro ver a vida bulindo’’. Também
esse é meu sentir: o que nos mantém vivos, fazendo a carga dos anos menos
pesada, é a vida ‘’bulindo’’,
agitada, sem tempo para fazer todas as coisas, o barulho dos carros, a fumaça
que cobre a cidade, como espessa nuvem, as coxas torneadas que passam,
apressadas, o sufoco para ‘’ganhar o pão
com o suor do próprio rosto’’. Ao dizer isto a Adão, equivocam-se os que
entendem ter sido uma maldição de Deus. Na verdade, foi um voto de confiança,
dado a um ser que Ele criou a sua imagem e semelhança. Para mim, nada mais
melancólico do que idosos, no frenesi de um dia útil, sentados em praças e
parques, jogando dama ou cartas. Na verdade, aguardam, inertes, a chegada da
morte, enquanto, na avenida ao lado, a vida segue, em todo o seu esplendor.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
Um dia para esquecer
O dia amanheceu cinzento sobre meu escritório e sobre todos
os escritórios de advocacia de nossa cidade e, por certo, de todos os do País,
mesmo onde haja sol. Ontem, ocorreu mais um golpe de Estado, em nosso
desafortunado País, o pior dos golpes, porque, com a força da caneta, o Supremo
Tribunal Federal rasgou a Constituição Federal, do qual é guardião e subjugou o
Senado da República. Todos que me honram, acompanhando meus quebrados escritos,
sabem de minha aversão ao PT, a seus membros e a seu ideário. Todavia, acima
dessa aversão, instalo minha subserviência ao Direito, campo de onde tiro meu
sustento há quase meio século, Direito, sem o qual o homem seria equiparado às
brutas feras. Portanto que não se veja nestas palavras defesa a Delcídio do
Amaral, figura abjeta, que maculou o já tão aviltado Senado da República e que
deve ser exemplarmente punido porisso. O que repudio é que, agindo com o fígado
ou para afastar suspeitas injuriosas, o Supremo se apequenou e apagou todo o
conteúdo do §1° do art.53 de nossa Lei Maior que determina ‘’desde a expedição
do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em
flagrante de crimes inafiançáveis.’’ Ora, quem acompanhou o noticiário, teve a
exata percepção que as condutas ilícitas, perpetradas pelo nefasto Senador, já
estavam consumadas. Outras adviriam, se o abominável projeto não tivesse sido
abortado, mas esses ‘’futuros crimes’’ estavam na fase da ‘’cogitação’’, que,
na sistemática de nosso ordenamento jurídico, não se pune. Não há um mínimo de
sustentação fática para se argumentar que se caracterizou o ‘’flagrante’’ ou
mesmo o ‘’quase flagrante’’. O primeiro ocorre quando há absoluta concomitância
entre a ação delitiva e a prisão do agente; o segundo, quando a prisão ocorre
logo após o crime e o agente ainda se encontra na esfera de vigilância da
Autoridade Policial, situações que não ocorreram, no caso do Senador, preso,
quando já estava instalado, em sua casa. Justificar a prisão em flagrante, como
o fez o Ministro Teori Zavaski, sustentando que, no caso, tratava-se de ‘’crime
permanente’’ é mero sofisma jurídico, que não honra a inteligência do insigne
Ministro. Em simplificado conceito, ‘’crime permanente’’ é aquele cujos efeitos
prosseguem mesmo após sua consumação, como acontece, por exemplo, no sequestro,
enquanto a vítima ainda estiver em poder do sequestrador. No caso do Senador Delcídio,
o crime de ‘’obstrução à justiça’’, nem mesmo se consumou, vez ter sido tal consumação
abortada, com a entrega da gravação à Polícia. Por ainda grave, pela violação à
mencionada norma constitucional, é desconhecer que, na hipótese, não há que se
falar em crime inafiançável, pois a lei, de forma a não permitir interpretação
extensiva, especifica quais são os crimes inafiançáveis, dentre os quais não figura
o imputado ao Senador Delcídio. O Supremo quis confirmar sua imagem de independência
e lisura, que, pelo menos por enquanto, ninguém questiona. E o Senado, ao
coonestar tal excrescência jurídica, colocou-se de joelhos, diante do Supremo,
deixando a nítida impressão que, preocupado com os deslizes de muitos de seus
membros, acovardou-se, temendo o confronto com a Corte Suprema. Que o ‘’sol da liberdade em raios fúlgidos’’
volte a brilhar sobre a cabeça de todos os brasileiros, o que só acontecerá
quando a lei for obrigação imposta a todos, com maior razão, aos Ministros do
Supremo Tribunal Federal.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
A nova Argentina e o velho Brasil
É claro que ainda é prematura qualquer avaliação sobre a
vitória de Mauricio Macri, na Argentina, pondo fim a 12 anos da nefasta ‘’Era
Kirchner’’ que, com seu populismo demagógico, quebrou a economia daquele País,
gerando falta de produtos básicos, astronômico débito fiscal e uma inflação que
passa dos 30%. Isto sem falar na truculência de reprimir a Imprensa e o próprio
Poder Judiciário, envolvendo-se no assassinato de um Procurador de Justiça.
Macri está sendo apresentado como representante da ‘’centro direita’’, porque
seu projeto é inserir a Argentina no mundo ocidental, através de acordos
bilaterais que tragam investidores para seu País. Já acena ele em firmar tais
acordos com o Brasil, virando as costas para o MERCOSUL, vez que não dá para se
envolver com gentalha, como Morales e Maduro, ambos envolvidos com o
narcotráfico. A Argentina recupera sua credibilidade com a vitoria de Macri,
essa mesma credibilidade, perdida por Dilma, que se elegeu às custas da mentira
e da corrupção. Se Dilma conseguir sobreviver, de crise em crise, até o final
de seu mandato, com certeza, a Argentina, esta nova Argentina, que agora emerge
das urnas, será a grande líder da America Latina. Slogan, adotado por Macri,
‘’Cambiemos’’, significa abandonar o intervencionismo do Estado, tão a gosto do
petismo local, e caminhar na adoção de um liberalismo, deixando que as regras
do mercado conduzam a economia e tragam progresso real para o povo argentino. É
exemplo a ser seguido. Todavia, sabemos, Dilma parou no tempo, ainda considerando
os Estados Unidos como grandes exploradores. O PT estabeleceu sua meta: abdicar
qualquer projeto de governo e se fixar na idéia de se manter nele, a qualquer
custo, principalmente transferindo esse custo para o povo brasileiro. Esperamos
que os bons ventos, que começarão a soprar na Argentina, após a posse de
Mauricio Macri, refrigerem corações e mentes de nossa melancólica classe
política.
terça-feira, 24 de novembro de 2015
Por uma urgente reforma trabalhista
Durante muitos anos, advoguei na Justiça do Trabalho,
defendendo Empresas que, figuravam como reclamadas em diferentes Ações
trabalhistas. A Justiça do Trabalho foi forjada para proteger o trabalhador,
ainda, neste século, considerado como vilipendiado em seus direitos pelo
empresário, considerado usurpador desses mesmos direitos. Lá, ao contrário do
que ocorre no cível, no tributário ou até mesmo no criminal, inverte-se o ônus
da prova que, ‘’in casu’’, pertence
ao Reclamado. Exemplo: se o trabalhador afirma que trabalhava em condições
insalubres, cabe ao empregador provar que assim não o era. Outra excrescência,
a violar o principio constitucional da isonomia: se a reclamatória é julgada,
no todo ou em parte, improcedente, o reclamante está isento de custas
recursais; na hipótese inversa, a empresa reclamada é compelida a recolher R$
8.184,00. O advogado do reclamante é verdadeiro mágico, em direito e
matemática. O último caso que, unicamente por amizade, representei um modesto
estabelecimento comercial, acionado por um garçom, que lá trabalhara pouco mais
de 6 meses, a verba pleiteada quase chegava aos 20 mil. O resultado dessa visão
caolha do direito, exige que o empresário agregue ao custo de seu produto o ‘’custo trabalhista’’, sob pena de a
conta não fechar. O crescente processo de automação, com conseqüentes
demissões, tem, como uma das causas, essa visão tortuosa da relação empresa –
empregado. As lojas ‘’Marisa’’
anunciaram o fechamento de todas as suas unidades, passando a operar,
exclusivamente, com venda ‘’online’’.
As ‘’Lojas Americanas’’ seguirão o
mesmo caminho, o que significa que cerca de 15 mil postos de trabalho serão
fechados. O excesso de protecionismo ao empregado vai, assim, transformando-se
em verdadeiro ‘’tiro no próprio pé’’.
A solução seria promover uma reforma trabalhista que, sem violar importantes
direitos conquistados, já esculpidos na Constituição Federal, remetesse para as
convenções coletivas questões de menor relevância. O Brasil vive momento de
grave crise econômica, com retração de investimentos. Seria o momento de se
refletir até que ponto uma flexibilização nas relações de trabalho não
contribuiria para, pelo menos, minimizar a crescente onda de desemprego, que
agrava a crise e avilta o ser humano, porque, sem trabalho, vê-se ele despido
de sua dignidade.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
As idas e vindas do amor
Isa, minha jovem secretária, entra esbaforida em minha sala:
- ‘’doutor, o senhor Felix está na
portaria, muito nervoso, não marcou hora, mas disse que precisa falar com o
senhor, com muita urgência’’. ‘’Mande
subir e o traga direto a minha sala.’’ Felix era meu cliente há quase 5
anos. ‘’Herdara-o’’ do pai, que
enriquecera, comprando imóveis semi-destruídos, a preço de banana,
recuperando-os e, depois, alugando. Para o velho Alcebíades patrimônio era o
que ‘’se pode pisar, andar em cima’’, como costumava dizer. Felix continuou o
negocio do velho e devia ter mais de cem imóveis, espalhados por toda São
Paulo. Tinha não mais do que 50 anos, cultura quase nenhuma, mas muito hábil em
seu negocio. Apesar de rico, tinha hábitos espartanos: carro comum, que só trocava
de tempo, em tempo, sempre de calça jeans e camiseta. Seu único luxo era a casa
de praia, no litoral sul, onde reunia os poucos amigos para um churrasco. Era
casado, ou melhor, mantinha união estável com Leila, 20 anos mais jovem e que
ele conhecera e tirara de uma ‘’casa de
massagem’’. Felix tinha estranho hobby: gostava de ler livros de direito
penal e assistir a filmes americanos, onde havia grandes julgamentos. Era
calmo, no falar e, nestes 05 anos, jamais o ouvi dizer um palavrão ou se
exaltar, porisso estranhei, quando ele entrou em minha sala, agitado e logo
dizendo, sem nem mesmo me dizer bom-dia:
- ‘’vou matar aquela
desgraçada e o senhor vai me defender, alegando legitima defesa da honra’’.
A secretária trouxe água e café, esperei que ele se acomodasse na poltrona,
para só então começar a conversa, que prometia longa e difícil:
- ‘’meu caro Felix,
primeiro me conte o que aconteceu, mas desde já devo dizer-lhe que, depois que
inventaram produtos de limpeza, detergente, sabão em pó, essas coisas, lavar a
honra com sangue não pega como argumento de defesa. Além do mais, existe uma
campanha internacional, combatendo violência contra a mulher. Até um tapinha,
na hora da transa, que ajudava a ‘’esquentar’’ o clima, tá proibido, vira
indenização. Mas, vamos lá, abre seu peito’’.
- ‘’É o seguinte: minha
mulher, aquela infeliz que eu tirei do puteiro, que dei conforto, carinho,
aquela filha daquilo que o senhor sabe o que é, anda me traindo e eu vou
enchê-la de bala, e daí é que vou precisar de sua ajuda.’’
- ‘’Ajudar a matá-la,
não posso, Felix. Talvez resolver o problema, uma separação...’’
- ‘’Só isso, doutor?
Ela me bota chifre, me humilha, a gente separa e minha honra, como é que
fica?’’
- ‘’Melhor do que ficar
vingado, mas preso, estragar sua vida. Você ainda é jovem, pode arranjar outra
mulher que lhe dê amor, que envelheça com você...’’
- ‘’Pelo menos
processá-la por adultério, pra que ela passe uns tempos na cadeia...’’
- ‘’Desculpe, Felix,
mas, no Brasil, adultério não é mais crime, mas, mesmo quando era, a pena,
branda, não levava à prisão.’’
- ‘’Mas que droga de
País é esse, Doutor? Vem uma puta, mancha sua honra e fica por isso mesmo?
Porisso que essa droga não vai pra frente, é esta esculhambação toda, dignidade
não tem valor, ninguém respeita nada.’’
- ‘’Meu querido Felix,
você sabe como eu gosto de você, tanto quanto gostava de seu pai. Porisso me
responda, com sinceridade: você sempre foi fiel a sua esposa, nunca saiu com
outras mulheres?’’
- ‘’Pô, doutor, mas
homem é diferente. Essas beliscadas, que damos por aí, não envolvem sentimento,
o senhor não acha?’’
- ‘’Não acho nada,
Felix, ate porque o que eu acho ou deixo de achar, não interfere em seu
problema. Mas, me diga uma coisa: você tem ‘’comparecido?’’
- ‘’Muito de vez em
quando, minha vida é um corre-corre, chego cansado e bato direto na cama, às
vezes nem janto!’’
- ‘’Pois é isto, meu
caro, sua mulher é jovem, precisa de assistência e, se você não dá, ela vai
procurar quem dê. Me diga uma coisa: você ainda gosta dela?’’
- ‘’O senhor deve tá
brincando! Não sou homem de lustrar chifre. Quero mais é que ela volte de onde
veio! Veja quanto essa vagabunda quer para sumir de minha vida, prepara a
papelada, enquanto isto, vou morar em um flat, porque se me encontrar com ela,
faço uma besteira’’.
Dois dias depois, ela, atendendo a meu chamado, veio a meu
escritório. Humilde, olhos para o chão, nitidamente constrangida, revelou: ‘’gosto do Felix, doutor, devo tudo a ele, me
tirou da vida, mas, nos últimos tempos esqueceu que sou mulher. Só faz reclamar,
que a roupa está mal passada, a comida sem gosto. Faz mais de um ano que não
vamos a um cinema, a um restaurante. Deixa uma merreca para as compras e, se
vou ao cabeleireiro, fica histérico. Sou tratada pior do que empregada
domestica’’. Apesar de vestida de forma simples, saia e blusas surradas,
Leila era uma bela morena, coxas torneadas, bunda firme. Ainda estava longe dos
40. Desprezada e humilhada, era presa fácil. E foi! Um implante levou-a ao
dentista que com ela se encantou. Deliberadamente o tratamento foi prolongado,
ate que ele implantou nela outra coisa. A relação entre os dois já estava
chegando ao fim. Tinham combinado uma despedida, em grande estilo, no motel de
sempre. Para azar dela, o carro deles cruzou com o de Felix, que os seguiu e o
resto foi um bate-boca que ela, para não apanhar, trancou-se, no banheiro de
onde só saiu, quando ouviu o carro dele dar a partida. Acertamos um valor a ser
pago a ela, redigi, na hora, um ‘’termo
de rescisão de união estável’’, com o qual ela concordou e, no dia
seguinte, fomos a Cartório assinar a rescisão. Ela recebeu o cheque, no valor
combinado, Felix dirigiu-lhe algumas ofensas, que ela ouviu, calada e fomos
embora, eu e ele para um lado, ela para outro. Cerca de um ano depois ela
telefona, marcando uma hora. Precisava de meus serviços profissionais. Chegou,
elegantemente vestida, as mesmas coxas torneadas. Abrira uma casa de massagem,
em imóvel alugado e agora queria comprá-lo. Com um sorriso largo, contou-me:
- ‘’O negócio vai bem,
tenho 20 meninas, rigorosamente selecionadas, com uma freqüência predominante
de orientais, que não tem dó de meter a
mão no bolso, às vezes pagando em dólar. Sabe quem, toda semana, passa por lá?
Exatamente, o Felix! O problema é que ele só quer ficar comigo, pode?’’
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Estranho, em ninho alheio
Ontem, 18, eleição para a nova Diretoria da Ordem dos
Advogados. Voto na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde votam
os “dinossauros” da profissão:
senhores de cabelos brancos – quando os têm – e pele enrugada. Minha seção fica
no 3º andar. Ainda bem que o elevador está funcionando, porque seria duro subir
tantos lances de escada. Um senhor, provavelmente irmão de Matusalém, abre um
sorriso em minha direção, achega-se, em passos miúdos, abraça-me forte,
visivelmente emocionado: - “como vai, há
quanto tempo, você está ótimo.” Não tenho a menor ideia de quem seja, mas
pode ser qualquer um de nós, afinal velho é como recém nascido, somos todos
mais ou menos iguais. Ele me arrasta, até o elevador, falando dos bons tempos
das arcadas. Descemos no 3º andar e ele não se contem: “lembra-se, nesta sala tínhamos aula de Direito do Trabalho, com
Cesarino Jr!” É claro que eu não me lembrava, nem podia me lembrar. Estudara
na PUC e, quanto a Cesarino Jr, só o conhecia de nome, mas tinha eu o direito
de ofuscar o brilho das lembranças que o majestoso casarão emocionavam o velho
colega? Votamos em salas contiguas e ele pediu que o esperasse. Em menos de um
minuto exerci meu direito e me postei à espera do “dileto colega”, que fez questão de cumprimentar e conversar,
demoradamente, com os mesários, advogados ancestrais, como nós. Ele me tomou
pelo braço, percorrendo todo o andar, parando em casa sala, dividindo comigo
memórias, que eram só deles. Evocou o nome de colegas de turma, perguntou-me do
paradeiro de alguns e eu apenas sorria, intrometendo-me naquele sonho alheio. Na
saída, abraçou-me, mais emocionado ainda, combinando um almoço, “naquele restaurante dos bons tempos” que
eu não sabia qual era. Por sorte, ele não perguntou meu nome e eu, por
precaução, não perguntei o dele. Apenas dois velhos, perdidos na neblina do
tempo.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
Recordações improdutivas
Cheguei a São Paulo, vindo do interior de Minas e aqui
completei o curso colegial, fiz Faculdade e comecei a trabalhar. No começo dos
anos 70, mudei-me par o Rio, onde morei até o começo dos anos 80, quando
retornei a “Sampa”. Sou, portanto,
mistura de 03 culturas diferentes , principalmente com suas “expressões idiomáticas”
características. Às vezes embolo o meio campo, como, por exemplo, chamar
semáforo de “farol”, no Rio e de “sinal”, em São Paulo. A adaptação ao
Rio não trouxe maiores dificuldades, até porque aquela Cidade é a mais
cosmopolita do País. Talvez seja mais fácil encontrar um mineiro, por lá, do
que um carioca autêntico. Dificuldade mesmo foi me adaptar a São Paulo, vindo
do interior de Minas. Para começo de conversa, até hoje não sei porque, fui
estudar em um colégio, mantido pelo consulado francês, onde todo mundo parecia
falar francês, o que me deu vontade de sair correndo. Andar pelos lugares
nobres da cidade, então, era insuperável sacrifício. Nos cinemas melhores só se
entrava de terno e gravata e eu era possuidor de um único, que brilhava à
distancia, de tanto uso. No “cine
Marrocos”, ali nas bandas da São João, orquestra tocava música clássica,
antes de começar o filme. Sabe lá o que é isto, para um interiorano, onde o
único cinema tinha poltronas de madeira? E as comidas então? Certa feita, recém
chegado, vou com meu cunhado a um restaurante giratório – apenas a mesa girava
-, especializado em massas. Olho o cardápio e pergunto baixinho: - “o que é “gronque”. Meu cunhado olha
espantado e depois, entre risadas, explica-me que se fala “nhoque”, o que, em minha terra, em minerês, chamávamos “tufin”, que nada mais era do que um
macarrão, em tamanho menor e “estufado”,
daí a expressão “tufin”, que é a
forma apocopada de “tufinho”, neologismo
puro. Expressões como “a La carbonara”,
“gratinado”, soavam-me como sânscrito
e me faziam suar frio. Fiquei amigo (amizade que conservo, até hoje, com muito
orgulho) de colega de família para lá de quatrocentona. Certa feita, ela me
convidou para jantar e eu tive a irresponsabilidade de aceitar. Eis que me vejo
diante de copos e talheres enfileirados, como soldados marchando para a guerra.
Por onde começar? Pânico total! O pai, socialista convicto (fato que, por
óbvio, ignorava) e eu, querendo me mostrar, a elogiar e citar Carlos Lacerda,
meu ídolo de sempre. O silencio absoluto, em torno da mesa, deu-me a certeza
que brilhara. Após saber a verdade, fiquei muito tempo sem passar por lá. E ir
ao banheiro? Preferível bexiga estourando do que dar descarga. Não entendo
porque não inventaram descarga silenciosa. E por que o lavabo precisa ficar
colado à sala de estar? Eram terríveis os perigos, para quem, como eu, vinha do
interior, onde ervilha chamava-se “petit
pois”, cinto chamava-se “currião”, cadarço
chamava-se “atecador” e se cobrir com
cobertor, chamava-se “rebuçar”. Os
anos passaram, “civilizei-me”, mas os
neologismos ficaram impregnados em minha memória, como sinais de um tempo em
que ainda tinha tempo para pensar em futuro.
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Por uma 3ª guerra mundial
Quando Bush, pai, invadiu o Iraque, sob o argumento que ali
se formava perigosa célula terrorista, que poderia comprometer a segurança
internacional, a esquerda uivou de indignação, alegando que se tratava de
intromissão norte americana nos assuntos internos daquele País. Depois, veio o
11 de setembro, e Bush, filho foi à guerra, sob as mesmas críticas da esquerda rançosa.
Quando se formou o Estado Islâmico, fanáticos enfurecidos que pretendiam tomar
o poder na Síria, apenas a Rússia adotou posição bélica efetiva contra tais
degenerados. A mesma esquerda, que elegeu Hollande, na França, posicionou-se ao
lado dos rebeldes e até a desastrada Presidente Dilma afirmou, à época, que o
Brasil era contra atacar o Estado Islâmico. Barack Obama, ele mesmo com raízes
nessa esquerda carcomida, assiste, timidamente, às barbáries cometidas “em nome de Alá”. Nesta segunda feira, o
mundo ocidental ainda vive sob o pesadelo que assolou Paris, na última sexta
feira. E esse pesadelo, feito realidade, continua a ameaçar a Europa e os
Estados Unidos. Hollande, tardiamente, declarou “estado de guerra”. Mas, esse “estado
de guerra” não pode se limitar a bombardeios aéreos, deflagrados por esse
ou aquele País. Não é necessário ser um “expert”
em conflitos, para se saber que só se vence uma guerra, quando se ocupa todo o território
inimigo. Repetindo Churchill, há que se lutar nos céus, nos mares e na terra,
dizimando-se esses monstros, onde quer que eles estejam. E essa guerra não é só
da França ou da Rússia. Aprendamos com a história: se Hitler tivesse sido contido,
em 1936, quando invadiu a Renania, talvez o mundo não tivesse vivido os
horrores da 2ª Grande Guerra, que vitimou 50 milhões de pessoas. E, voltando à
história: Hitler somente foi destruído, quando se formou formidável arco de
aliança entres os principais países do mundo. Esse “arco de aliança” precisa, com urgência, ser retomado, antes que os
atentados de Paris se espalhem por outras cidades. Equivoca-se o Presidente
Hollande, quando afirma que “a França
está em guerra”. Na verdade, o mundo civilizado está em guerra, porque o
maldito Estado Islâmico precisa ser destruído.
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
A lavanderia Brasil marca sua inauguração
Finalmente, como era de se esperar nesta República de segunda
categoria, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei, vindo do executivo,
repatriando ativos financeiros, ilicitamente enviados ao exterior, por pessoas
físicas ou jurídicas. O projeto segue, agora, para o Senado, onde, por certo,
também será aprovado, sem maiores resistências. Aqueles que aceitarem a
repatriação não serão processados por crimes tributários (sonegação fiscal,
descaminho, lavagem de dinheiro e evasão de divisas). Mesmo aqueles com
processo em andamento, pelos mesmos crimes, serão beneficiados, face ao
principio constitucional da retroatividade da lei mais benigna. O projeto, de
forma juridicamente esdrúxula, exclui políticos e pessoas, físicas e jurídicas,
cuja propriedade desses bens, sejam posteriores a 31 de dezembro de 2014. Digo “juridicamente esdrúxula”, porque deve
haver congressistas e membros do Poder Executivo que mandaram dinheiro para o
exterior, sem que decorra, necessariamente, de atos ilícitos. Muitos os há que são
empresários, de todo o gênero e que jamais se envolveram em atos de corrupção. Por
isso, a “exceção” viola o principio
da isonomia, o que, por isto só, justifica bater às portas do Supremo Tribunal
Federal. O segundo equívoco é a fixação do prazo final – 31.12.2014 – para se
beneficiar com a regularização. Isto, em síntese, quer dizer que estão a
descoberto quem enviar recursos ao exterior, a partir de 1º de janeiro de 2015.
A questão central, todavia, está na conceituação do que seriam “recursos obtidos de forma licita”. Sabemos
que muitos países – os chamados “paraísos
fiscais” – recepcionam ativos financeiros, vindos do exterior, sem
questionar a “origem” dos mesmos e
até utilizando-se de “mecanismos”
para “limpar” tal origem. Assim, a
expressão “recursos obtidos de forma
licita”, pode se transformar em letra morta. Por certo, se o proprietário desses
ativos, no momento da repatriação, tiver que comprovar a “origem licita do dinheiro”, a projeção do governo, em arrecadar
100 bilhões, cairá por certo. Tudo indica, pelo prazo final fixado, que o
projeto visa beneficiar as empresas e empresários, envolvidos na “lava jato”. Conheço caso especifico de
uma grande Construtora que, pelo menos desde o final dos anos 80, possui (ou possuía)
conta em Banco Suíço, não declarada no Brasil, e de onde “extraia” recursos para remunerar figurões da política brasileira. Continuo
achando esse projeto de lei uma nódoa na dignidade nacional, mas, como diz o
ditado popular “para um dálmata, qual a importância
de uma pinta a mais?”.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Dialogo inútil
Volto ao médico, levando a última bateria de exames. Quase preciso
de um carrinho de mão para transportá-los. O médico olha-os, sem pressa e dá
seu parecer: “- é, para sua idade, até
que você esta bem”. Tenho vontade de perguntar o que significa a expressão “pra sua idade”. Significa que tivesse eu
10 anos a menos, poderia preparar o velório? Resolvi me manter em silencio,
porque explicação de médico é sempre complicada. Quando me preparava para me
levantar e ir embora, ele atacou:
- “você sabe que nestes
05 anos que é um paciente, você engordou 15 quilos?”
- “tá bom – respondi eu
– uma média de 03 quilos por ano é bastante razoável “pra minha idade”.
Ele voltou ao ataque: “não
está nada bom! Experimente carregar um saco de 15 quilos de arroz, 24 horas por
dia”.
Não deixei barato: “a
troco de que eu sairia por aí, o dia inteiro, sem dormir, carregando um saco,
contendo 15 quilos de arroz?”
Ele riu, ficou sério e seguiu em frente: “você precisa perder, pelo menos, 10 quilos.
Quais são seus hábitos alimentares?”
- Os melhores possíveis: amo de paixão uma picanha, ao ponto
pra bem, regada na cebola, acompanhada de feijão tropeiro, recheado de bacon.
- “E bebida?”
Perguntou ele
- “Todas, sem
preconceito entre destiladas e fermentadas, de preferência vinho no inverno,
cerveja, no verão e uísque em qualquer época do ano.”
- “E doce, você gosta?”,
arrematou
- “Todos, à exceção de
doce de laranja, mas de preferência doce de padaria, doce de leite, pé de
moleque, paçoca e leite condensado é de tomar de colher. Chocolate, todos, mas,
em especial, os recheados com licor. Sorvete é ótimo, especialmente os de
fruta, mas, ficam no ponto certo quando se lhes adiciona uma colher de sopa de açúcar.”
Ele me olhou, ligeiramente espantado, fez aquele ar solene de
quem vai dar péssima noticia e arrematou:
“Péssimos hábitos os
seus, que precisam ser mudados. Você gosta de salada?”
“Abomino – respondi eu –
tem gosto do molho ou do azeite colocado. Quanto ao azeite, tudo bem, desde
que, em se lhe ajuntando sal e alcaparra, possamos chuchá-lo no pão italiano”.
- “E peixe, você gosta?”
Perguntou ele.
- “Também detesto, só
vale pelo molho. Prefiro carne de porco, assada, frita, cosida com mandioca, então,
é de comer ajoelhado.”
- “Você faz exercícios?”,
quis saber ele.
- “Já corri e andei
muito, mas como não achei nada, além de dores nas costas, hoje prefiro ler.
Aliás, meu caro doutor, o senhor quer que eu perca 10 quilos e o que eu vou
ganhar com isto?”
- “Melhor condição de
vida, é claro!”.
- “Então abro mão de
tudo que gosto e passo a fazer tudo que detesto e o senhor ainda chama isto de
melhor condição de vida?”
- “Você não precisa se
privar de todas estas coisas, apenas consumi-las, com moderação. Por exemplo, a
invés de beber uma garrafa de vinho, tome apenas uma taça. Em lugar de uma
caixa de chocolate, coma apenas um”.
- “Meu querido médico, o
que o senhor me propõe é mais ou menos o seguinte: vou pra cama com uma mulher
linda, ardente, escultural, dispo-a e, quando ela está totalmente disponível e
eu “naquele ponto”, dou-lhe um beijo, viro pro canto e durmo. O senhor acha que
isto faz algum sentido?”
Ele se despede de mim, em silencio. Perdera a batalha e eu
prometo voltar, daqui a um ano, provavelmente com mais 03 quilos da verdadeira “qualidade de vida”.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
A inútil festa das Olimpíadas
Vou abordar assunto desagradável. E, com todo direito, podem
me chamar de inoportuno, reacionário, pessimista e outros adjetivos nada
qualificativos. Quando se decidiu pelo Brasil, para sediar a Copa de 2014,
argumentou-se que o momento não era propício para tão gigantesco investimento e
que o retorno, em infraestrutura, seria pequeno, em relação aos gastos exigidos
pelo famoso “padrão FIFA”. E olha que
a crise econômica ainda estava escondida sob o tapete de Dª Dilma. E, para
justificar o evento, tinha-se como certa a vitória do Brasil, que faria
camuflar todas as mazelas. A vitória não veio e os estádios construídos, em
locais onde nunca houve futebol de verdade – Brasília, Manaus, Mato Grosso –
estão se deteriorando, por falta de uso e manutenção. Agora, vai se gastar a
módica quantia de 40 bilhões de reais, para, no próximo ano, termos as Olimpíadas
no Rio de Janeiro, cidade onde os bairros de periferia não possuem rede de esgoto,
cerca da metade da população vive em favelas e o índice de violência é um dos
maiores do mundo. Por outro lado, estima-se que o Brasil deve ganhar 40
medalhas de ouro, o que, em rasteira aritmética, dá 01 bilhão de reais por
medalha, o que, convenhamos, é um pouco desproporcional, na relação
custo-benefício. Já de larga data, o povo não mais se satisfaz com “pão e circo”. O Rio de Janeiro – cidade
que amo de paixão e em cujo mar do Leme quero que sejam atiradas minhas cinzas,
envoltas na camisa do Botafogo – carece de políticas públicas efetivas,
principalmente nas áreas de saúde e habitação. Logo logo, chegarão as chuvas de
verão e, com elas, os desabamentos e mortes, de todos os anos, sem que nada se
tenha feito, preventivamente, para evitar tais desastres. Por certo, toda esta
dinheirama, gasta com as Olimpíadas, melhor seria se investida nas carências da
população do Rio. Todavia, o “prejuízo”
já está consolidado e a “festa dos
esfarrapados” será revestida da habitual pompa e circunstancia, cumprindo
suas finalidades políticas. Resta o “jus
esperniandi” que, afinal, é o que se permite a este Brasil sem esperança.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
Para falar de fé e razão
Talvez por falta de assunto para completar a edição, a ‘’Veja’’ do ultimo fim-de-semana, traz
pretensiosa e quase hilariante matéria, sob o titulo ‘’Qual é a origem da fé’’.
Conclusões, despidas de qualquer substancia, como afirmar que ‘’novos estudos de psicologia desvendam os
mecanismos que levam algumas pessoas a crer mais que outras. Os intuitivos
costumam ser mais religiosos que os reflexivos’’. E, para distinguir os
primeiros dos segundos, propõe-se um teste, absolutamente ridículo que qualquer
imbecil, com um mínimo de capacidade de raciocínio, resolve em poucos segundos.
Quem acerta é reflexivo e pouco dado à credulidade. Quem erra é intuitivo e,
via de conseqüência, propenso a crer. Demorei menos de um minuto para, sem
fazer qualquer conta, ‘’matar’’ as
questões propostas e olha que sempre péssimo aluno de matemática e ciências
afins. No entanto, considero-me xiitamente crédulo. Vejo a presença de Deus em
todas as coisas, oro, ao sair de casa, no trajeto para o escritório, quando
chego e saio dele e antes de dormir. Até que me provem o contrário, Deus fez o
céu e a terra e fez gerar Adão e Eva, dotando-os de livre arbítrio e foi aí que
a coisa desandou. É claro que questiono minha fé e, sempre que o faço, ela se
solidifica. Por que creio? Melhor, por que se crê? Porque temos o conhecimento
– intuitivo ou reflexivo – de nossa ‘’miserável
condição humana’’, repleta de ‘’pecados’’ materiais, tangíveis, como o
egoísmo, que impede de se estender a mão ao necessitado; como a inveja pelo que
não nos esforçamos para conquistar e outros conquistaram; como a soberba,
rainha-mãe de todos os preconceitos. Sabemos onde está o mal, mas, por
interesses escusos, não o evitamos e, quando somos punidos por nossa própria
culpa, precisamos pedir socorro a alguém, muito superior, para mim, Deus, Jesus
Cristo e os Santos que elegi como meus protetores. Cremos porque somos fracos e
essa fraqueza, a qualquer momento de nossa vida, vai aflorar e nós vamos buscar
apoio em um cajado invisível e, ao que nos conduz a ele, dá-se o nome de fé. Já
disse alguém que o dom da fé não passa pelo dom da razão. Não pode haver – e
não há – antagonismo entre a religião e a ciência, exatamente porque não há
antagonismo entre a fé e a razão. Os médicos são quase unânimes em afirmar que
os pacientes crédulos recuperam-se melhor do que os incrédulos. Por que assim o
é? Porque os primeiros possuem, dentro de si, a fé, aquele cajado que apóia,
que ajuda a sobrepor os obstáculos. Particularmente, como crédulo xiita, tenho
pena da ignorância dos incrédulos, pela incapacidade de enxergaram a obviedade
da presença de Deus. Tenho pena delas, porque, na hora da queda – que sempre
vem – falta-lhes o apoio do ‘’cajado’’.
Fala-se no ‘’big bang’’, como a
origem do mundo. A ciência desenvolve milhares de teses, escrevem-se milhares
de livros, mas a verdade, simples, transparente, está debaixo de nosso nariz: o
‘’Big Bang’’ é Deus.
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Considerações sobre o aborto
O Congresso Nacional, com tanto assunto relevante a debater –
reforma política, administrativa, trabalhista, previdenciária tributária -,
todavia perde tempo, em discussões inúteis, porque infrutíferas, sobre temas
que se acham perfeitamente disciplinados por legislação, de longa data, em
vigor. Digo isto a respeito do projeto-de-lei, sobre o aborto. Tal matéria, com
bastante clareza e profundidade, encontra-se registrada nos artigos 124 a 128
do nosso Código Penal, inserido no capitulo que versa ‘’dos crimes contra a vida’’. Conceituado como ‘’interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção’’, o
aborto é punido por nossa legislação, a menos que: a) seja necessário para
salvar a vida da gestante ou b) se a gravidez resultar de estupro. No primeiro
caso, adequadamente chamado ‘’aborto terapêutico’’, a lei, de forma ampla,
transfere para o medico o poder e a responsabilidade de decidir pela
interrupção da gravidez. A evolução da medicina, apoiada por exames de ultima
geração, dá perfeita segurança ao médico de precisar, a qualquer fase da
gestação, se esta coloca em risco a vida da gestante, sendo ele, médico, o
único autorizado a realizar o aborto. No
segundo caso, admite-se o aborto, cuja gravidez resultou de coação, com ou sem violência
física, pelos traumas físicos e psicológicos resultantes de ato sexual não
permitido. Vê-se, assim, que, em ambos os casos, nossa lei penal preservou a
mulher gestante, de gravidez perigosa, física e psicologicamente. Neste tema, a
jurisprudência evoluiu, admitindo a pratica abortiva, nos casos em que se
comprovou que a criança nasceria com anomalias graves ou fatais (anencefalia,
por exemplo). É o chamado ‘’aborto eugênico’’.
O que nossa lei proíbe e pune é o aborto sem causa, que pode ser equiparado ao
homicídio premeditado. Os métodos anticonceptivos são tantos e tão ao alcance
de todos, que nada justifica a legalização do aborto. Dizer, como o fazem os
adeptos dessa nefasta tese, que a mulher deve ser livre, para dispor de seu corpo,
como bem o entender, extrapola o campo da religião e da moral e se ingressa no
campo do Direito, porque, no aborto sem causa, a mulher não esta dispondo de si
mesma, mas de uma terceira pessoa, que começou a existir desde o momento da
fecundação. E tanto assim o é que nossa lei civil ‘’assegura o direito do nascituro’’ (Código Civil, art. 2º)
Vê-se, pois, que a matéria – aborto – já se encontra
perfeitamente disciplinada em nosso ordenamento jurídico e vai sendo,
gradualmente, aperfeiçoada pelos Tribunais, sempre que as condições sociais a
exijam. Raciocinar ao contrario é involuir, é transformar a vida em atos sem
regras, o que, por certo, leva à barbárie.
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Por causa de uma amizade perene
Amigo muito querido, de quase meio século, fez aniversario,
ontem. Juntos, passamos por dificuldades financeiras, ultrapassamos águas
revoltas, até alcançar mar tranquilo. Juntos, com nossas esposas, pastoreamos a
noite carioca e os dias, memoráveis dias, paraibanos. Nossos filhos cresceram,
lado a lado e, para meu orgulho, herdaram nossa amizade. Por tudo isto – e
muito mais – quis cumprimentá-lo e ele, sempre arredio a esta data,
simplesmente desapareceu. Tem tanto horror à velhice, que a denomina ‘’a pior
idade’’. Até concordo com ele, mas, como é fato definitivo, conformo-me, sem
maiores traumas, apesar das dores nas articulações, da pressão, que precisa ser
cuidada e da cirurgia, que precisa ser realizada. Mas, nos momentos de
depressão fugidia, fica a pergunta: o que fiz de minha vida? Ele é guerreiro
indomável. Filho de Ministro de João Goulart, a Revolução de 1964, apanhou-o,
gozando as delicias do outono italiano. Desceu do céu ao inferno, em poucos
dias. Como o pai era homem honrado (outros tempos!), tornou-se o guia, material
e moral, de uma família de incontáveis irmãos e segurou a onda, como surfista
invulgar. Perseguido pelo regime militar, teve a coragem de jogar, pela janela,
cargo publico vitalício e se lançar na iniciativa privada, enfrentando e
vencendo as dificuldades de uma área – mineração -, na qual nunca cavara. Mas a
política borbulhava em seu sangue e o convocou para árduas e inconstantes
batalhas, em sua terra natal, onde foi tudo, municipal, estadual e federalmente
falando. Jamais transigiu com a subserviência e com a corrupção, mesmo que essa
intransigência lhe trouxesse inimizades... de pouca duração, porque sua
altivez, aliada a sua exuberância, destruíam qualquer inimizade efêmera.
Ficamos e somos amigos, apesar de nossas divergências políticas e de ser ele
Fluminense e eu Botafogo, ambos fanáticos.
Ficamos velhos, cada dia mais, meu queridíssimo Osvaldo
Jurema, mas escrevemos uma historia de lutas e conquistas e o simples fato de
ainda estarmos aqui, para contá-la, já é motivo para comemorarmos.
Que Deus continue guiando seus passos!
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Minhas fartas fontes de inspiração
Encontro dileto amigo, que me honra, seguindo estas ‘’mal traçadas’’, formula imerecidos
elogios pelas ditas cujas e se diz surpreso por não saber onde acho assunto,
para escrever com tanta constancia. A resposta é simples: no cotidiano. Em
primeiro lugar, pontuo o (des) governo Dilma, sempre a nos brindar com fato
novo que, ou causa irritação patriótica, ou provoca hilariedade. Agora mesmo o
Poder Executivo encaminhou projeto de lei ao Congresso, propondo a repatriação
de ativos financeiros, remetidos, ilicitamente ao exterior e que voltariam, sem
que o dono da grana tivesse que justificar a origem da mesma. Basta pagar 30%
do valor repatriado (15% de I.R e 15% de multa), e estará extinta a sonegação
fiscal e o crime de ‘’lavagem’’ ou ocultação de bens, direitos e valores, atos
ilícitos, a que a leia 9.613, de 03 de março de 1998 prevê ‘’pena de reclusão
de três a dez anos e multa’’! Maravilha! O projeto de lei, em questão, cria a ‘’Lavanderia Brasil’’, cuja gerentona
atende pelo nome de Dª Dilma. O cachorro, que, a meu lado assistia ao debate do
projeto, na Câmara, retirou-se, abanando o rabo de indignação, quando o líder
do PT afirmou que só seria repatriado o ‘’dinheiro
licito’’. A esta altura, o outro cachorro, que assistia pela janela,
exclamou, surpreso: ‘’mas se o dinheiro
saiu ilicitamente, como pode ter se tornado licito?’’. Atirei-lhe um
biscoito e mandei que ele se retirasse. Muito novo para entender essas coisas
de política brasileira. O projeto foi retirado de pauta para se adequar a
redação de relatório. Adequar como, não se sabe, uma vez que, como bem observou
meu cachorro, não há fórmula jurídica que faça com que um ato ilícito adquira
licitude. A partir do momento em que o detentor dos ativos financeiros,
transferiu-os para o exterior, sem informar à Receita Federal e à revelia do
Banco Central, estão consumados os crimes descritos na lei 9.613/98. Este
(des)governo, no afã de cobrir seu ‘’buraco de caixa’’, chega, agora, ao
desvario de se unir a traficantes e corruptos, de todo o gênero, que escondem
dinheiro no exterior.
Eis aí, caro amigo, como são fartas as ‘’fontes de inspiração’’ deste pobre escriba.
Assinar:
Postagens (Atom)