- ‘’Alô, Eduardo, é
Dilma, tudo bem?’’
- ‘’Desculpe, Dilma, de
onde?’’
- ‘’Ora, Dilma a
Presidente?’’
- ‘’Desculpe, senhora
Presidente, não reconheci a voz. O que a senhora manda?’’
- Não mando nada!
Gostaria de conversar a sós com você, só nós dois. Você poderia jantar comigo
no Alvorada, lá pelas 10? Venha descontraído, até de bermuda, se quiser.
Beberemos um vinho e discutiremos nossos problemas. Tudo bem?’’
- ‘’Será uma honra e um
prazer, Presidente. Estarei no Alvorada às 10 da noite.’’
Eduardo desligou o telefone com um sorriso nos lábios. Era ‘’puta velha’’ e sabia que chegaria a
hora que a própria Presidente teria que negociar com ele, por isso deu pouca
atenção aos ‘’cachorrinhos’’ dela, gente de pouca credibilidade. Seu recurso ao
Supremo, quanto ao rito do processo do impeachment, foi a grande sacada para
que ela o procurasse. Faltavam 15 minutos para as 10 da noite, quando ele se
fez anunciar na segurança do Alvorada, sendo imediatamente levado ao grande
‘’living’’. Minutos depois, a Presidente surgiu, estendendo-lhe as mãos e
oferecendo-lhe generoso sorriso. Pegou-o pelo braço, como se fossem amigos de
longa data e o conduziu a uma sala intima, sofá, duas poltronas e uma mesa de
centro, sobre a qual repousava um balde com gelo, duas garrafas de vinho
branco, duas taças e canapés variados. A Presidente dispensou o garçom, com a
recomendação de que, em nenhuma hipótese, queria ser interrompida e que, em uma
hora, o jantar poderia ser servido. A Presidente vestia calça comprida branca e
uma blusa azul celeste. O cheiro de sabonete revelava que ela acabara de sair
do banho. Eduardo achou estratégico começar elogiando a Presidente, sua
elegância despojada, que emagrecer fizera muito bem para ela. Serviu-a do
vinho, falaram do calor e do tempo seco de Brasília, até que ela entrou no
assunto:
- ‘’Eduardo, para
facilitar nossa conversa, vamos nos livrar de nossos cargos e nos tratarmos
pelos nomes. Afinal, ambos somos presidentes. Quero saber se você vai me
ferrar, botando o impeachment pra frente’’.
- ‘’Eu, Presidente,
desculpe, Dilma? Só tenho dado demonstrações de boa vontade, resistindo a
pressão de todo lado. Esta consulta, por exemplo, que fiz ao Supremo, foi só
para ganhar tempo, empurrar a oposição com a barriga. Agora, eu quero saber o
que ganho segurando sua barra.’’
- ‘’Segurar a sua não é
fácil, Eduardo. Essa grana toda na Suíça, sua mulher gastando uma montanha de
dólares, só pra aprender jogar tênis!’’
- ‘’Essa grana ganhei
com muito esforço. Afinal, foram 40 anos construindo meu prestigio, tendo que
engolir sapo, sendo passado pra trás, principalmente pelos seus companheiros,
que tem garganta profunda. E quanto ao tênis da minha mulher, você queria o
que, que ela jogasse nas quadras do ‘’Aterro do Flamengo’’? E tem outra coisa,
se eu resolver abrir a boca, vão ter que arranjar gente para apagar as luzes da
Esplanada dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Congresso.’’
- ‘’Mas eu estou limpa,
não me envolve em maracutaias.’’
- ‘’Isto você está
dizendo, mas de onde saiu o dinheiro pra sua campanha? E, dos seus Ministros,
quem se salva? Não quero fazer chantagem, mas se eu cair, levo todo mundo
comigo, inclusive o País.’’
- ‘’E o que você propõe para resolvermos nossos problemas?’’
- ‘’Simples! Você
segura seus cães de fila, Janot, seus amigos do Supremo, que eu vou enfiando na
gaveta todos os pedidos de impeachment. Do Congresso, cuido eu, que a oposição
é um bando de ‘’bunda mole’’, desculpe a expressão, que só sabe fazer
discurso.’’
- ‘’E a Imprensa,
batendo em você e em meu Governo, quem segura?’’
- ‘’Ora, Dilma, a
Imprensa se resume à televisão e televisão se resume na Globo que sabe ser
maleável. Ou você acha que o povão lê essas revistas semanais, de tiragem cada
vez mais baixa? Revista é coisa da elite que também tem rabo preso, não resiste
a uma devassa pela Receita Federal. O povão ainda acredita em você no Lula. Por
que ninguém tem peito de prender ele? Porque têm medo das conseqüências! Vamos,
nos dois, resolver nossos problemas, seguro o impeachment, ajudo aprovar a CPMF
e vida que segue. Você chama o Janot,
seu time no Supremo, manda que eles me deixem em paz, esta é sua parte no
trato, tudo bem?’’
- ‘’Não garanto nada,
Eduardo, vou conversar com meu pessoal e depois te falo’’.
- ‘’Tudo bem, Dilma,
não quero te pressionar, mas tem que ser rápido, coisa de uma semana, porque já
estão incomodando meus filhos. E você sabe como é, quando mexe com filho, a
gente vira bicho e bicho bravo.’’
- ‘’Tá certo, Eduardo,
amanhã mesmo começarei a agir. Agora, vamos comer um salmão com salada e depois
dormir, que estou muito cansada.’’
Quando saíram para a sala de jantar, a Presidente à frente,
Eduardo, olhando-a por trás, comentou consigo mesmo que ela, com o regime,
ainda dava uma boa ‘’meia sola’’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário