quinta-feira, 15 de outubro de 2015

As incertezas do amor

Debruçado na sacada do apartamento, Eduardo via as luzes da Avenida Paulista se acenderem e o frenético corre-corre de pessoas e carros, provavelmente de volta para casa. Amava aquela avenida, com suas galerias, onde se podia achar todas as coisas, principalmente as inúteis. Amava aquele burburinho de gente apressada, no afã de resolver seus problemas, enquanto a vida passava, mais rápido, não lhes dando tempo de vivê-la. Quando desfizera seu terceiro casamento, decidira que iria morar ali, naquele prédio, quase da idade dele, mas que conservava o ‘’charme’’ de todos os tempos. Próximo aos 60, Eduardo tomara a decisão de não mais se ligar a outra mulher. Maria Clara, a primeira, fora paixão vulcânica. Conhecera-a numa choperia da moda, uma ‘’bier’’ não sei o que, lá em Moema. Três meses depois ela comunicou que estava grávida e daí foi só apressar o casamento. Tiveram uma filha, Maria Cristina, esta sim, a mulher definitiva de sua vida. Na festa de 15 anos da filha, ele com 40, conhecera Cíntia, loura, alta, olhos verdes e coxas estonteantes. Começaram a se encontrar, secretamente, até que um dia Maria Cristina revelou-lhe que o segredo já não era tão segredo assim, que ele não estava sendo digno com a mãe, que estava sendo humilhada, perante as amigas. Ele quis negar, que era apenas amizade, mas, pelo menos para a filha, não podia mentir. Na verdade, seu casamento já tinha caído na monotonia e o único elo com a esposa era a filha. Deixou o apto e a casa da praia para ela, alem de pensão alimentícia, que lhe permitia manter o mesmo padrão de vida. Foi morar com Cintia, primeiro, em um ‘’flat’’, na Alameda Lorena e depois, em um apartamento, nas Perdizes. Eduardo herdara do pai uma distribuidora de medicamentos, que ficava em Alphaville. O negocio andava sozinho, mas ele mantinha o habito de visitar clientes e fornecedores, o que lhe dava flexibilidade de horário. Cintia, por sua vez, era Procuradora do Município, cujo salário dava-lhe plena liberdade financeira. Viajavam muito. Levavam a vida como se esta fosse grande festa que, como toda festa, tem hora para acabar. E acabou, naquela tarde, em que ele conheceu Cecília, executiva de uma multinacional de medicamentos. Exuberante, no ser e no falar, seria parceira ideal nos negócios e na cama. Deixou para Cíntia o apartamento das Perdizes e foi morar com Cecília, em Alphaville, em um condomínio fechado. Cecília passou a ser a principal executiva de sua Empresa... e de seu dinheiro. Em pouco mais de dois anos, passaram a ter constantes e desgastantes discussões sobre negócios. Até que ele descobriu que ela estava desviando recursos da empresa, em atividade paralela. Demitiu-a da empresa e de sua vida. Todavia, Eduardo era obcecado por viajar, conhecer todos os lugares possíveis. Mas, viajar sozinho, sem ter alguém para trocar impressões, elogios e criticas? Nem pensar! Foi, então, que engendrou um plano inusitado: postou em seu facebook a seguinte mensagem: ‘’coroa, ainda na casa dos 50, com tudo em cima, procura companhia feminina, entre 30 e 40, para viagens nacionais e internacionais, despesas pagas, mas sem envolvimento sentimental. Marcar entrevista pelo telefone tal.’’ O telefone tal era de uma agencia de empregos, cujo proprietário, Inácio, era seu companheiro, nas ‘’peladas’’ do clube. Ele passou para o amigo as ‘’características básicas da sua eleita’’ – alta, bonita, coxas torneadas, educada, bem informada, não necessariamente culta. 15 dias depois do anuncio, Inácio ligou: - ‘’Cara, você não acredita; Recebemos mais de 100 ligações, entrevistamos, até agora 20 e, dessas, 05 merecem ser conhecidas por você, principalmente uma morena, sotaque carioca, 35 anos, corpo perfeito e papo pra lá de agradável. Solteiríssima, passou por algumas desilusões amorosas e, agora, só se interessa por aquilo que ela chama de ‘’relações efêmeras’’. E leva jeito que gosta do ‘’esporte’’. Ela só fez uma exigência: quer que você ligue, convidando-a para jantar. É mulher, bem resolvida, em todos os sentidos e não quer ser confundida com prostituta, ou coisa que o valha. Estou passando o nome e o telefone dela para seu e-mail’’. Dois dias depois, Eduardo resolveu ligar para a tal mulher, que se chamava Angélica. – ‘’Oi, Angélica, aqui o Eduardo, do anúncio. Como solicitado por você, estou ligando para marcarmos nosso jantar. Que tal amanhã, posso buscá-la em sua casa.’’ Do outro lado, uma voz quente e rouca respondeu: - ‘’melhor nos encontrarmos no restaurante. Você conhece o ‘’Tatine’’? Só pela escolha do restaurante, Eduardo concluiu que se tratava de mulher de bom nível socioeconômico. E, quando ela entrou no restaurante, quase meia hora após a marcada, só ao vê-la, sabia que não se enganara. Morena, cerca de 1,70, trajava vestido amarelo, um pouco acima do joelho e colado, apenas o suficiente para realçar-lhe as formas. Ao se aproximar, ela o presenteou com um sorriso generoso, que desenhava duas pequenas covas no rosto. E, antes que o jantar terminasse, Eduardo já sabia que, contra tudo o que decidira, iria para o quarto casamento. 

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