quinta-feira, 29 de outubro de 2015

“Adeus às Armas”

“Adeus às Armas”
Tenho o privilégio de contar com a amizade de ilustre Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, amizade esta que nasceu, antes mesmo de ter ele ingressado na Magistratura, coisa de cerca de 30 anos atrás. Às vezes, batemos pernas no Jardim da Aclimação, em cujas imediações moramos, às vezes visito-o em seu Gabinete. Raramente falamos de processo, até porque temos assunto melhor: ambos somos escritores bissextos, ele, com muito mais saber e brilho, já teve livro prefaciado por Paulo Bonfim, o que, convenhamos, não é para qualquer mortal. Trabalhador compulsivo e responsável, tem sua mesa sempre ausente de processos, tal a celeridade que os despacha, sem perda de qualidade. Terça feira fui visitá-lo, necessitado que estava de um conselho, que me foi dado com a habitual atenção. E, antes que eu me pusesse, como de costume, a reclamar da morosidade do Poder Judiciário, ele me contou de um processo, do interesse da própria família, ele incluso, que está desde julho, na mesa de um Juiz de primeira instancia, aguardando uma simples assinatura. Sugeri-lhe uma “carteirada”, afinal, como nos ensina o brocardo, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Ele, com seus pruridos, recusa-se a fazê-lo e, como se fosse pobre mortal, prefere aguardar sua vez. Todavia, seu nome consta do processo e o Juiz, se for minimamente informado, sabe que se trata de um Desembargador e que o processo já comemorou aniversário de 10 anos. Saí de lá, chupando a bala, surrupiada do pote, que ele mantém sobre sua mesa e considerando a possibilidade real de abandonar a advocacia contenciosa. Conduzo processos que se arrastam há 20 ou mais anos e cujos honorários farão a felicidade de meus herdeiros, pois não tenho tão matusalém expectativa de vida. Se um Desembargador, do alto de sua excelência, depois de um processo, que tramitou por quase uma década, ainda espera, por meses, uma simples assinatura, para receber o que lhe é devido, o que dizer de humilde advogado que, como único título, carrega mais de 40 anos de militância profissional?
Já tinha pronto este texto, quando leio que o Supremo Tribunal Federal, estuprando o Estatuto da Advocacia e a própria Constituição Federal, da qual se diz guardião, quebra sigilo de advogados, que sequer figuram como investigados na operação “lava jato”, para identificar a origem de honorários recebidos de clientes. Nem no mais duro momento do regime militar – após a edição do AI-5- nossa classe foi vitima de tão vergonhoso arbítrio. Vejamos como a OAB vai reagir, se com dignidade ou com pusilanimidade.

Dentre tantos, este é mais um motivo para dar “adeus às armas”. Hemingway, espera, que eu também já vou!

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