sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ascensão e queda do teatro brasileiro

O programa ‘’Roda Viva’’, um dos melhores da televisão brasileira, brindou-nos, na ultima 2ª-feira, com saborosa e rica entrevista com o ator Antonio Fagundes, também produtor de peças teatrais. Falou ele, dentre vários temas, das dificuldades financeiras atuais para levar à cena uma peça, com mínimo de qualidade, até para ele, artista consagrado. Lembrou a época em que as sessões de teatro iam de 3ª a domingo, com direito a dois espetáculos, nos finais de semana. A progressiva escassez de publico reduziu o teatro para exibições, apenas aos sábados e domingos. Acho que, sem falsa modéstia, consigo explicar um pouco essa derrocada. Afinal, entre os anos 60 e até o começo dos anos 90, assisti à maioria dos espetáculos teatrais, no eixo Rio - São Paulo. Cito alguns, de memória, com a certeza de omitir outros importantes: Cacilda Becker e Valmor Chagas em ‘’Quem tem medo de Virginia Wolff’’; os mesmos em ‘’Esperando Godot’’, por sinal a ultima de Cacilda; Fernanda Montenegro em ‘’A volta ao lar’’; Juca de Oliveira, em ‘’A Cozinha’’ e o mesmo Juca em ‘’O Inimigo do Povo’’; Maria Fernanda, em ‘’Um Bonde Chamado Desejo’’; Fernando Torres em ‘’A Última Noite de Cristal’’; Tonia Carreiro, em ‘’As Pequenas Raposas’’; Paulo Gracindo, em ‘’A Procura do Senhor Green’’; Maria de La Costa, em ‘’Um Tiro no Escuro’’, Paulo Autran, em ‘’Hamlet’’; Stênio Garcia em ‘’Cemitério de Automóveis’’ e incontáveis outras, sempre com casa cheia, ingressos comprados com, pelo menos, uma semana de antecedência. Minha preferência era a segunda sessão dos sábados, o que permitia esticar para as casas noturnas da época, a ‘’Baiúca’’ e o ‘’Stardust’’, ambos funcionando, naqueles tempos, na Praça Roosevelt e, no Rio, o ‘’706’’, na Avenida Ataulfo de Paiva ou ‘’A Fossa’’, ali na Praça do Lido. E olha que, ainda na Faculdade, vivia com salário de professor e, depois, morando no Rio, como funcionário do Ministério da Fazenda, com um ‘’DAS2’’ que hoje deve corresponder, no maximo, a 10 mil reais. ‘’Viver a vida’’ não custava caro e o teatro era lazer barato. Hoje, qualquer espetáculo não fica por menos de 100 reais e, em sendo um casal – e sempre o era, – se se agregar a balada, não se gasta menos de 500 ‘’pratas’’, o que não é pra qualquer um. A outra causa é que o nível dos atores caiu muito, idem acontecendo com o público. Naquele tempo, sabia-se quem era Ibsen, Vianinha, Pinter, Gogol etc. Hoje, via de regra, vai-se ao teatro para ver, em carne e osso, o galã da novela das 8. Lembro-me da ultima vez que lá estive, quando entrou em cena um desses galãs, ouvia-se, da platéia, o grito de ‘’lindo’’, apesar da voz do dito cujo mal alcançar a décima fila. Aí reportei-me ao silencio sepulcral, que se fazia, quando Fernanda Montenegro, em ‘’O Homem do Principio ao Fim’’, recitou o monologo de Santa Terezinha. Nesse dia do ‘’lindo’’, concluí que minha carreira de espectador tinha terminado. E tem mais: os atores, ao inicio citados, todos eles foram forjados no teatro e, depois, foram enriquecer a televisão, como demonstrou o próprio Fagundes, em ‘’O Rei do Gado’’. Hoje – se podem ser considerados atores – nasceram e foram criados na televisão, o que lhes suprime técnicas básicas de interpretação. Conclusão: preços altos e atores ruins deixam as poltronas vazias.  

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