O programa ‘’Roda
Viva’’, um dos melhores da televisão brasileira, brindou-nos, na ultima
2ª-feira, com saborosa e rica entrevista com o ator Antonio Fagundes, também
produtor de peças teatrais. Falou ele, dentre vários temas, das dificuldades
financeiras atuais para levar à cena uma peça, com mínimo de qualidade, até
para ele, artista consagrado. Lembrou a época em que as sessões de teatro iam
de 3ª a domingo, com direito a dois espetáculos, nos finais de semana. A
progressiva escassez de publico reduziu o teatro para exibições, apenas aos sábados
e domingos. Acho que, sem falsa modéstia, consigo explicar um pouco essa
derrocada. Afinal, entre os anos 60 e até o começo dos anos 90, assisti à
maioria dos espetáculos teatrais, no eixo Rio - São Paulo. Cito alguns, de
memória, com a certeza de omitir outros importantes: Cacilda Becker e Valmor
Chagas em ‘’Quem tem medo de Virginia
Wolff’’; os mesmos em ‘’Esperando Godot’’, por sinal a ultima de Cacilda;
Fernanda Montenegro em ‘’A volta ao lar’’;
Juca de Oliveira, em ‘’A Cozinha’’ e o mesmo Juca em ‘’O Inimigo do Povo’’; Maria Fernanda, em ‘’Um Bonde Chamado Desejo’’; Fernando Torres em ‘’A Última Noite de
Cristal’’; Tonia Carreiro, em ‘’As
Pequenas Raposas’’; Paulo Gracindo, em ‘’A Procura do Senhor Green’’; Maria
de La Costa, em ‘’Um Tiro no Escuro’’,
Paulo Autran, em ‘’Hamlet’’; Stênio
Garcia em ‘’Cemitério de Automóveis’’
e incontáveis outras, sempre com casa cheia, ingressos comprados com, pelo
menos, uma semana de antecedência. Minha preferência era a segunda sessão dos
sábados, o que permitia esticar para as casas noturnas da época, a ‘’Baiúca’’ e o ‘’Stardust’’, ambos funcionando, naqueles tempos, na Praça Roosevelt
e, no Rio, o ‘’706’’, na Avenida
Ataulfo de Paiva ou ‘’A Fossa’’, ali
na Praça do Lido. E olha que, ainda na Faculdade, vivia com salário de
professor e, depois, morando no Rio, como funcionário do Ministério da Fazenda,
com um ‘’DAS2’’ que hoje deve
corresponder, no maximo, a 10 mil reais. ‘’Viver
a vida’’ não custava caro e o teatro era lazer barato. Hoje, qualquer
espetáculo não fica por menos de 100 reais e, em sendo um casal – e sempre o
era, – se se agregar a balada, não se gasta menos de 500 ‘’pratas’’, o que não é pra qualquer um. A outra causa é que o
nível dos atores caiu muito, idem acontecendo com o público. Naquele tempo,
sabia-se quem era Ibsen, Vianinha, Pinter, Gogol etc. Hoje, via de regra,
vai-se ao teatro para ver, em carne e osso, o galã da novela das 8. Lembro-me
da ultima vez que lá estive, quando entrou em cena um desses galãs, ouvia-se,
da platéia, o grito de ‘’lindo’’,
apesar da voz do dito cujo mal alcançar a décima fila. Aí reportei-me ao
silencio sepulcral, que se fazia, quando Fernanda Montenegro, em ‘’O Homem do Principio ao Fim’’, recitou o
monologo de Santa Terezinha. Nesse dia do ‘’lindo’’, concluí que minha carreira
de espectador tinha terminado. E tem mais: os atores, ao inicio citados, todos
eles foram forjados no teatro e, depois, foram enriquecer a televisão, como
demonstrou o próprio Fagundes, em ‘’O Rei
do Gado’’. Hoje – se podem ser considerados atores – nasceram e foram
criados na televisão, o que lhes suprime técnicas básicas de interpretação.
Conclusão: preços altos e atores ruins deixam as poltronas vazias.
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