sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Abaixo o formalismo jurídico




Meu caríssimo Claudio Lembo, com quem percorri jornadas jurídicas memoráveis, com seu formalismo constitucional, insurge-se contra a proposta de impeachment da Presidente Dilma, por não identificar ‘’qualquer acusação quanto à pratica de ato definido por lei como passível de impeachment.’’ Perto do ilustre Professor de Direito Constitucional do Mackenzie sou humilde rábula, envolvido nas miudezas do Direito Civil e do Direito Penal, este muito mais do que aquele. Também não me impressiono com estas tais pedaladas, até porque, tendo trabalhado, por uma década, no serviço publico, sei que, muitas vezes, tem que se fazer algumas ‘’mágicas’’ administrativas, para se atingir determinado objetivo relevante para o interesse publico. Levo a proposta para campo, onde o ilícito emerge, em profusão, a fundamentar o afastamento da Presidente. É que, em diversos depoimentos, colhidos pelo Juiz Sergio Moro, resta induvidoso que o dinheiro, que abasteceu a campanha da Presidente, teve origem espúria, ‘’arrancada’’ de fornecedores da Petrobrás, da Nuclebrás, da Eletrobrás etc. Trata-se de fato definitivamente provado, tanto assim o é que um tesoureiro do PT está preso, em Curitiba e outro, atual Chefe da Casa Civil da Presidente, está sob investigação, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. Como sabemos, a legislação eleitoral veda tal forma de captação de recursos e pune, com perda de mandato, o candidato eleito, às custas de tão repudiável comportamento. Por muito menos, Collor, depois absolvido pelo Supremo, foi apeado de sua cadeira presidencial e não é por outra razão que a prestação de contas de Dª. Dilma estão sendo auditada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Eis a acusação, prezado professor, a justificar o pedido de impeachment que, convém lembrar, não significa que ela, a presidente, será, em definitivo, afastada do cargo. Apenas instaura-se o devido processo legal, com direito ao contraditório e à ampla defesa, processo esse que terá, no comando, o Presidente do Supremo Tribunal Federal. Muito diferente de um ‘’golpe’’, onde o direito da força sobrepõe-se à força do direito. O que o Brasil não suporta é este clima de desconfiança, que mina o exercício do cargo, que afasta investidores estrangeiros, que faz reviver o fantasma da inflação e assusta, cada brasileiro, com o monstro do desemprego. O que o Brasil não suporta é que a Presidente, apenas para ganhar uma sobrevida, una-se à escoria da política nacional, que avilta o poder legislativo, tudo isto a enfraquecer a democracia. Segunda feira, no programa ‘’Roda Viva’’, Fernando Henrique Cardoso sugeriu que a Presidente, num gesto de grandeza, renuncie. A historia não registra tal gesto. Nixon, apenas por ter mentido ao povo norte-americano, foi obrigado a renunciar. Janio renunciou, porque, em seu devaneio etílico, imaginou voltar ditador, nos braços do povo. Por isso, na atual conjuntura brasileira, jogadas fora as filigranas jurídicas, sobrou o impeachment como salvação nacional. 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

“Adeus às Armas”

“Adeus às Armas”
Tenho o privilégio de contar com a amizade de ilustre Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, amizade esta que nasceu, antes mesmo de ter ele ingressado na Magistratura, coisa de cerca de 30 anos atrás. Às vezes, batemos pernas no Jardim da Aclimação, em cujas imediações moramos, às vezes visito-o em seu Gabinete. Raramente falamos de processo, até porque temos assunto melhor: ambos somos escritores bissextos, ele, com muito mais saber e brilho, já teve livro prefaciado por Paulo Bonfim, o que, convenhamos, não é para qualquer mortal. Trabalhador compulsivo e responsável, tem sua mesa sempre ausente de processos, tal a celeridade que os despacha, sem perda de qualidade. Terça feira fui visitá-lo, necessitado que estava de um conselho, que me foi dado com a habitual atenção. E, antes que eu me pusesse, como de costume, a reclamar da morosidade do Poder Judiciário, ele me contou de um processo, do interesse da própria família, ele incluso, que está desde julho, na mesa de um Juiz de primeira instancia, aguardando uma simples assinatura. Sugeri-lhe uma “carteirada”, afinal, como nos ensina o brocardo, “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Ele, com seus pruridos, recusa-se a fazê-lo e, como se fosse pobre mortal, prefere aguardar sua vez. Todavia, seu nome consta do processo e o Juiz, se for minimamente informado, sabe que se trata de um Desembargador e que o processo já comemorou aniversário de 10 anos. Saí de lá, chupando a bala, surrupiada do pote, que ele mantém sobre sua mesa e considerando a possibilidade real de abandonar a advocacia contenciosa. Conduzo processos que se arrastam há 20 ou mais anos e cujos honorários farão a felicidade de meus herdeiros, pois não tenho tão matusalém expectativa de vida. Se um Desembargador, do alto de sua excelência, depois de um processo, que tramitou por quase uma década, ainda espera, por meses, uma simples assinatura, para receber o que lhe é devido, o que dizer de humilde advogado que, como único título, carrega mais de 40 anos de militância profissional?
Já tinha pronto este texto, quando leio que o Supremo Tribunal Federal, estuprando o Estatuto da Advocacia e a própria Constituição Federal, da qual se diz guardião, quebra sigilo de advogados, que sequer figuram como investigados na operação “lava jato”, para identificar a origem de honorários recebidos de clientes. Nem no mais duro momento do regime militar – após a edição do AI-5- nossa classe foi vitima de tão vergonhoso arbítrio. Vejamos como a OAB vai reagir, se com dignidade ou com pusilanimidade.

Dentre tantos, este é mais um motivo para dar “adeus às armas”. Hemingway, espera, que eu também já vou!

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As mentiras internacionais da Presidente

Em entrevista a uma TV Americana, a (ainda) Presidente fez duas afirmações, que fizeram gargalhar o cachorro, que mastigava a ração, a meu lado. A primeira, chamou nossa democracia de ‘’adolescente’’. Como sabemos, foi ela restaurada em 1984 e, de lá até hoje, passaram nove presidências, tempo suficiente para ela, a democracia, ter se consolidado como robusta mulher, já na faixa dos 40. É verdade que, coitada, anda ela maltrapilha, desdentada, seios e bunda caídos, tanto foram os desgastes sofridos nestes anos de rapinagem petista. A segunda afirmação foi a de que ‘’a polarização política das eleições de 2014 continuou após sua vitoria, indicando falta de maturidade nas relações da oposição com o governo, com reflexos na economia do País’’. A nossa presidente, mentirosa contumaz, que faz menor o nariz de Pinóquio, tenta jogar no colo da oposição a responsabilidade pelo buraco na economia, que foi camuflado para que a megera ganhasse as eleições. E merece acrescentar que a oposição originaria (PSDB e DEM) não teria forças para segurar o ajuste fiscal, se não fosse reforçada por elementos da chamada ‘’base aliada’’. Hoje, a presidente – ainda – perambula pelo Alvorada, amparada por dois outros fantasmas, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, estes com a Polícia Federal nos respectivos calcanhares.

E tem mais: Dilma nunca lutou para restaurar a democracia. Os assaltos a bancos, dos quais participou, os assassinatos, com os quais colaborou tinham, como único objetivo, implantar um regime cubano, no Brasil, o que a faz aliada dessas figuras abjetas, chamadas Morales e Maduro. Mentindo sempre, com o despudor que a caracteriza, a mesma Dilma, que vetou o aumento dos aposentados, afirma que 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza e ascenderam à classe média. Não disse ela qual seu conceito de ‘’classe média’’, mas, ao que tudo indica, seja aquele trabalhador que sobrevive com ‘’uma média e um pão com manteiga’’. No meu circulo de relacionamento restavam duas pessoas, ainda simpatizantes do petismo: Guilherme que, por muitos anos, foi meu fiel e competente escudeiro; e meu irmão, lá do sul da Bahia, rompido comigo, porque eu falava mal do lulismo. Guilherme comunica-me, pelo telefone, que não dá mais para agüentar o PT e Dilma, o que me deixa eufórico, a ponto de convidá-lo para uma cerveja comemorativa. Quanto a meu irmão, soube-o doente. Também não há saúde que resista ao lulopetismo. Jacques Wagner, com aquela cara de quem tomou todas, declara que a busca e apreensão, realizada pela Polícia Federal nas empresas do filho do Lula, ‘’não preocupa o governo’’. Grande novidade! Como se este (des) governo se preocupasse com alguma coisa, que não fosse salvar a pele de Dª. Dilma! 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A gonorreia petista

É de se lamentar as agressões morais sofridas pelo ex-senador, Eduardo Suplicy, no ultimo sábado, às portas da Livraria Cultura. Suplicy sempre um político austero, coerente com suas idéias, um pouco ‘’Forest Gump’’, é verdade, mas contra quem é impossível atribuir qualquer conduta desabonadora. Todavia, o ilustre ex-senador paga o preço de continuar a pertencer ao PT, o partido que passou a simbolizar tudo que há de podre, na historia política do Brasil. É verdade que Suplicy sempre foi liderança isolada, vez que os lideres do petismo Lula, José Dirceu, et caterva -, com mal caratismo que lhes é peculiar, sempre procuraram boicotá-lo e até comemoraram sua ultima derrota eleitoral. Deveria ele, como vários estão fazendo, abandonar o PT, que não é digno de tê-lo em seus quadros e se filiar a outra agremiação, que coadune com suas idéias. O equivoco do probo senador foi aceitar cargo inexpressivo, na pífia administração municipal, também eivada de suspeitas de corrupção, por ter construído as ciclo faixas e ciclovias, cujo metro quadrado foi considerado o mais caro do mundo.

Fernando Morais – aquele biografo que, por um punhado de dólares, escreve biografia laudatória até de Hitler -, observou que essa critica, ampla, geral e irrestrita, que se faz aos petistas ‘’é uma doença, algo como uma super gonorréia’’. Todavia, esqueceu-se ele de dizer que foram exatamente os petistas que inocularam esse vírus na sociedade brasileira. Nos meus tempos de adolescente, ‘’gonorreia’’ tratava-se com ‘’benzetacil’’, antibiótico de efeito fulminante. Pois é desse medicamento decisivo que precisamos para nos livrar dessa doença maldita, chamada petismo, que jogou o Brasil na maior crise moral e econômica de sua historia. Vaiar petistas – mesmo Suplicy, a única flor desse lodaçal -, é o único – ainda – instrumento que a população adoecida possui. Enquanto isto, a revolta se alastra, na mesma proporção do desemprego, do crescimento da inflação e, não fosse um Congresso, também corrompido, a ‘’benzetacil’’ já teria sido aplicada. De qualquer maneira, em que pesem as nefastas maquinações palacianas, onde Lula, Dilma, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, tal qual bêbados trôpegos, que se seguram uns aos outros, para não caírem, espera-se que este bando de meliantes não consiga comer o peru do natal. Bezentacil, neles! 

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

De surpresa, o ano chega ao fim




Liga-me Luiz Claudio, amigo dileto, perguntando-me dos meus planos para o ‘’Reveillon’’. Respondo que ele deve estar maluco, pois ainda estamos muito distante de tal evento, a que ele retruca lembrando que estamos a menos de 70 dias para romper 2016.  Desligo o telefone, meditando sobre os dois fatos: que, em pouco tempo, o ano termina e que o próximo será 2016. Todos temos a sensação que os dias voaram, que ontem mesmo, era janeiro ou abril. É assim mesmo: a idade encurta o tempo e alonga as distancias. É que, envelhecidos, aproximamo-nos do fim do caminho, por onde vamos, abandonando, qual carga inútil, nossos projetos, que não sejam de curtíssimo prazo – coisa, no maximo, de 180 dias. Todavia, mais do que a celeridade do tempo, o que me fez enrugar a testa, foi constatar que chegaremos a 2016. Outro dia mesmo – para não ir muito longe – comemorávamos a ‘’virada do século’’. Não me recordo, onde estava, mas me recordo de toda a celeuma, que se levantou, que haveria pane geral nos computadores, que a terra sofreria transformações climáticas, tudo isto sem falar nos que profetizavam o final do mundo. Nada, absolutamente nada aconteceu de anormal e a manhã do primeiro ano de 2000 amanheceu exatamente igual à manhã do último dia do século anterior. E ainda houve os que Nelson Rodrigues denominava ‘’idiotas da objetividade’’, que torciam o nariz, afirmando que, na verdade, o século 21 só começaria em 1º de janeiro de 2001. Mas volto ao presente, para dar uma resposta a Luiz Claudio. O certo é que os últimos tempos têm me forçado a réveillons medíocres, sem os esplendor daqueles passados no Rio, tantos foram, alegrias repetidas, sob o brilho dos fogos de artifício. Com certeza, lá seria minha primeira opção, não fosse eu sócio minoritário desta coisa, às vezes perversa, chamada ‘’sociedade familiar’’. Terei que consultar as bases, antes de responder a Luiz Claudio que, perdido em excesso de liberdade de ir e vir, busca sugestão. Retorno a ligação e pergunto se ele vai só ou acompanhado e ele, reticente, esclarece que ainda não definiu, mas que isto é irrelevante. Esclareço que, acompanhado e em fase de amor chegante, ‘’Arraial D’Ajuda’’ seria o ideal, com a exuberância de suas praias, protegidas por falésias e a alegria de seus freqüentadores, afastados dos suores de Porto Seguro e não contaminados pela falsa sofisticação de Trancoso. Mas tem que ter, bem juntinho, corpo quente e voz quase rouca de mulher especial, caso contrario, mais do que solidão, virá a inveja do casal ao lado que se olha e se funde em um só corpo. Encerro a conversa com Luiz Claudio – ou a adio para outra data -, sugerindo que, se for apenas para mitigar a tristeza, sozinho ou em companhia insossa, embarque em um cruzeiro, cujo navio ancore, na noite do dia 31, ao largo da praia de Copacabana e fique esperando, em estado de semi-embriaguez, o balé fantástico dos fogos de artifício, bailando no céu. Se chorar, não tem importância, as pessoas entorno jamais saberão se será de tristeza ou alegria. 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O novo projeto de lei do desarmamento

Quando se analisa o novo ‘’Estatuto do Desarmamento’’, em discussão no Congresso Nacional, a pergunta central, a ser formulada, é se a legislação vigente diminuiu o índice de homicídio e latrocínio (roubo, seguido de morte), no País. Estatísticas da Secretária de Segurança Pública de São Paulo e do Rio de Janeiro indicam que o latrocínio aumentou, em média, 15% ao ano, no ultimo triênio, o que significa que, se nada for feito, em mais 03 anos, esse tipo de crime terá tido, um aumento da ordem de 100%. Estamos acostumados a ver, pela televisão, até com indiferença, assaltos nas ruas, na porta de bancos, em postos de gasolina, onde o assaltante, mesmo depois de imobilizar a vítima, executa-o, com absoluta frieza. Quando se realizou a campanha do desarmamento, organizada por românticos, distanciados da realidade objetiva, centenas ou milhares de cidadãos de bem, entregaram suas armas, na ingênua ilusão de que estariam protegido pelo aparelho policial. Por outro lado, os delinqüentes não só não se desfizeram das suas, mas passaram a adquirir armamento pesado e sofisticado, vindo de Israel, Rússia, Estados Unidos ou bastando atravessar a ‘’Ponte da Amizade’’. Hoje, nem o exército, nem a polícia militar, nem a polícia civil possui o nível de armamento da delinqüência. Mata-se, no Brasil, mais policial do que morre soldado americano no Afeganistão e nossa polícia, vivendo em estado de permanente perigo, ainda é considerada violenta. A famigerada ‘’campanha do desarmamento’’ despiu, de qualquer garantia e proteção, o frentista de posto de gasolina, o pequeno comerciante, que não pode contratar segurança privada, o cidadão, que sai e chega em casa, para ou do trabalho e, assim despidos, colocou-os a todos, nas mãos do assassino sanguinário, que mata, após roubar da vítima um mísero celular. Nosso Código Penal consagrou o principio que ‘’não há crime quando o agente pratica o fato em legitima defesa’’. E esclarece que ‘’entende-se por legitima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.’’ Se a lei,  por outro lado, proíbe que se tenha e se use arma de fogo, o que seriam esses ‘’meios necessários’’ que permitam evitar ser assaltado ou a um pai impedir que sua filha seja violentada, como vem sendo usual em invasões a domicílio? Notícia, ironicamente dada, afirma que, caso seja aprovado o novo projeto de lei do desarmamento, obter licença para comprar e portar arma, será tão simples como tirar uma CNH. Pois exatamente assim deve ser: se o cidadão provar que sabe atirar e tem capacitação física e psicológica para ter e usar arma de fogo, estará revestido do direito de possuir os ‘’meios necessários’’ para, legitimamente, defender-se a si e a terceiros, de injusta agressão. Fora dessa lógica, retirada do cotidiano, o que sobra é conversa mole, que só faz aumentar a estatística de crimes violentos que, em sua maioria, ficam impunes. 

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Entrará o Brasil em guerra?



1.     Lá pelo começo dos anos 60, o Brasil comprou o porta-aviões ‘’Minas Gerais’’, que, como não estávamos em iminência de estado de guerra, não teve qualquer utilidade, a não ser provocar litígio entre a Marinha e a Aeronáutica, cada qual reivindicando o direito de pilotar os aviões que de lá decolariam para enfrentar o ‘’inimigo’’. Como esse não veio, o porta-aviões deu algumas voltas e ficou ancorado no porto do Rio de Janeiro. Lá estive, no começo dos anos 80, então Diretor da Secretária de Segurança Pública do Rio, na posse de um Comandante da Marinha, tal era sua finalidade principal. Hoje, não sei onde está e para que serve, apenas afirmo que foi uma montanha de dólares, jogada ao mar. Agora, o fenômeno se repete: com o País precisando economizar até no uso de papel higiênico, nossa graciosa e diligente Presidente vai até a Suécia e faz pose em avião de caça, que integra compra da ordem de 3,5 bilhões de dólares, feita pelo Brasil. Vasculho o noticiário, para constatar se o Brasil vai à guerra. A não ser os conflitos internos (Planalto x Congresso x Supremo), reina a mais absoluta paz entre nosso País e o resto do mundo. Então, fica a pergunta: por que gastar, em momento de caixa-0, importância tão expressiva, comprando aviões de caça? Pode-se contra argumentar que tais aeronaves são necessárias ao patrulhamento de nossas fronteiras, por onde entram, principalmente, droga e armamento pesado. Não sei se os caças se adéquam a tais missões, mas, mesmo que o sejam, tal compra poderia ser transferida para momento, economicamente mais propício. Por falar em ‘’momento mais propicio’’, o que foi nossa sapientíssima presidente fazer na Escandinávia, Suécia e Finlândia? Importar frio para o Brasil já que o verão bate às portas?

2.     Leio que o Planalto recrutou a fina flor de juristas petistas para defender a Presidente do impeachment. Como conheço os 03 (Celso Antonio Bandeira de Mello, Dalmo de Abreu Dallari e Fabio Konder Comparato), reconhecendo-os como membros da elite jurídica brasileira, e sei que são profissionais caros, que não se levantam da cadeira, por menos de algumas centenas de milhares de dólares, cabe a pergunta: quem está pagando os honorários desses notáveis? Espero, em homenagem à historia dos mesmos, que grana tão polpuda não venha da petro-propina.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Entre o vinho e o jantar


- ‘’Alô, Eduardo, é Dilma, tudo bem?’’
- ‘’Desculpe, Dilma, de onde?’’
- ‘’Ora, Dilma a Presidente?’’
- ‘’Desculpe, senhora Presidente, não reconheci a voz. O que a senhora manda?’’
- Não mando nada! Gostaria de conversar a sós com você, só nós dois. Você poderia jantar comigo no Alvorada, lá pelas 10? Venha descontraído, até de bermuda, se quiser. Beberemos um vinho e discutiremos nossos problemas. Tudo bem?’’
- ‘’Será uma honra e um prazer, Presidente. Estarei no Alvorada às 10 da noite.’’
Eduardo desligou o telefone com um sorriso nos lábios. Era ‘’puta velha’’ e sabia que chegaria a hora que a própria Presidente teria que negociar com ele, por isso deu pouca atenção aos ‘’cachorrinhos’’ dela, gente de pouca credibilidade. Seu recurso ao Supremo, quanto ao rito do processo do impeachment, foi a grande sacada para que ela o procurasse. Faltavam 15 minutos para as 10 da noite, quando ele se fez anunciar na segurança do Alvorada, sendo imediatamente levado ao grande ‘’living’’. Minutos depois, a Presidente surgiu, estendendo-lhe as mãos e oferecendo-lhe generoso sorriso. Pegou-o pelo braço, como se fossem amigos de longa data e o conduziu a uma sala intima, sofá, duas poltronas e uma mesa de centro, sobre a qual repousava um balde com gelo, duas garrafas de vinho branco, duas taças e canapés variados. A Presidente dispensou o garçom, com a recomendação de que, em nenhuma hipótese, queria ser interrompida e que, em uma hora, o jantar poderia ser servido. A Presidente vestia calça comprida branca e uma blusa azul celeste. O cheiro de sabonete revelava que ela acabara de sair do banho. Eduardo achou estratégico começar elogiando a Presidente, sua elegância despojada, que emagrecer fizera muito bem para ela. Serviu-a do vinho, falaram do calor e do tempo seco de Brasília, até que ela entrou no assunto:
- ‘’Eduardo, para facilitar nossa conversa, vamos nos livrar de nossos cargos e nos tratarmos pelos nomes. Afinal, ambos somos presidentes. Quero saber se você vai me ferrar, botando o impeachment pra frente’’.
- ‘’Eu, Presidente, desculpe, Dilma? Só tenho dado demonstrações de boa vontade, resistindo a pressão de todo lado. Esta consulta, por exemplo, que fiz ao Supremo, foi só para ganhar tempo, empurrar a oposição com a barriga. Agora, eu quero saber o que ganho segurando sua barra.’’
- ‘’Segurar a sua não é fácil, Eduardo. Essa grana toda na Suíça, sua mulher gastando uma montanha de dólares, só pra aprender jogar tênis!’’
- ‘’Essa grana ganhei com muito esforço. Afinal, foram 40 anos construindo meu prestigio, tendo que engolir sapo, sendo passado pra trás, principalmente pelos seus companheiros, que tem garganta profunda. E quanto ao tênis da minha mulher, você queria o que, que ela jogasse nas quadras do ‘’Aterro do Flamengo’’? E tem outra coisa, se eu resolver abrir a boca, vão ter que arranjar gente para apagar as luzes da Esplanada dos Ministérios, do Palácio do Planalto e do Congresso.’’
- ‘’Mas eu estou limpa, não me envolve em maracutaias.’’
- ‘’Isto você está dizendo, mas de onde saiu o dinheiro pra sua campanha? E, dos seus Ministros, quem se salva? Não quero fazer chantagem, mas se eu cair, levo todo mundo comigo, inclusive o País.’’
- ‘’E o que você propõe para resolvermos nossos problemas?’’
- ‘’Simples! Você segura seus cães de fila, Janot, seus amigos do Supremo, que eu vou enfiando na gaveta todos os pedidos de impeachment. Do Congresso, cuido eu, que a oposição é um bando de ‘’bunda mole’’, desculpe a expressão, que só sabe fazer discurso.’’
- ‘’E a Imprensa, batendo em você e em meu Governo, quem segura?’’
- ‘’Ora, Dilma, a Imprensa se resume à televisão e televisão se resume na Globo que sabe ser maleável. Ou você acha que o povão lê essas revistas semanais, de tiragem cada vez mais baixa? Revista é coisa da elite que também tem rabo preso, não resiste a uma devassa pela Receita Federal. O povão ainda acredita em você no Lula. Por que ninguém tem peito de prender ele? Porque têm medo das conseqüências! Vamos, nos dois, resolver nossos problemas, seguro o impeachment, ajudo aprovar a CPMF e  vida que segue. Você chama o Janot, seu time no Supremo, manda que eles me deixem em paz, esta é sua parte no trato, tudo bem?’’
- ‘’Não garanto nada, Eduardo, vou conversar com meu pessoal e depois te falo’’.
- ‘’Tudo bem, Dilma, não quero te pressionar, mas tem que ser rápido, coisa de uma semana, porque já estão incomodando meus filhos. E você sabe como é, quando mexe com filho, a gente vira bicho e bicho bravo.’’
- ‘’Tá certo, Eduardo, amanhã mesmo começarei a agir. Agora, vamos comer um salmão com salada e depois dormir, que estou muito cansada.’’

Quando saíram para a sala de jantar, a Presidente à frente, Eduardo, olhando-a por trás, comentou consigo mesmo que ela, com o regime, ainda dava uma boa ‘’meia sola’’

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

As incertezas do amor

Debruçado na sacada do apartamento, Eduardo via as luzes da Avenida Paulista se acenderem e o frenético corre-corre de pessoas e carros, provavelmente de volta para casa. Amava aquela avenida, com suas galerias, onde se podia achar todas as coisas, principalmente as inúteis. Amava aquele burburinho de gente apressada, no afã de resolver seus problemas, enquanto a vida passava, mais rápido, não lhes dando tempo de vivê-la. Quando desfizera seu terceiro casamento, decidira que iria morar ali, naquele prédio, quase da idade dele, mas que conservava o ‘’charme’’ de todos os tempos. Próximo aos 60, Eduardo tomara a decisão de não mais se ligar a outra mulher. Maria Clara, a primeira, fora paixão vulcânica. Conhecera-a numa choperia da moda, uma ‘’bier’’ não sei o que, lá em Moema. Três meses depois ela comunicou que estava grávida e daí foi só apressar o casamento. Tiveram uma filha, Maria Cristina, esta sim, a mulher definitiva de sua vida. Na festa de 15 anos da filha, ele com 40, conhecera Cíntia, loura, alta, olhos verdes e coxas estonteantes. Começaram a se encontrar, secretamente, até que um dia Maria Cristina revelou-lhe que o segredo já não era tão segredo assim, que ele não estava sendo digno com a mãe, que estava sendo humilhada, perante as amigas. Ele quis negar, que era apenas amizade, mas, pelo menos para a filha, não podia mentir. Na verdade, seu casamento já tinha caído na monotonia e o único elo com a esposa era a filha. Deixou o apto e a casa da praia para ela, alem de pensão alimentícia, que lhe permitia manter o mesmo padrão de vida. Foi morar com Cintia, primeiro, em um ‘’flat’’, na Alameda Lorena e depois, em um apartamento, nas Perdizes. Eduardo herdara do pai uma distribuidora de medicamentos, que ficava em Alphaville. O negocio andava sozinho, mas ele mantinha o habito de visitar clientes e fornecedores, o que lhe dava flexibilidade de horário. Cintia, por sua vez, era Procuradora do Município, cujo salário dava-lhe plena liberdade financeira. Viajavam muito. Levavam a vida como se esta fosse grande festa que, como toda festa, tem hora para acabar. E acabou, naquela tarde, em que ele conheceu Cecília, executiva de uma multinacional de medicamentos. Exuberante, no ser e no falar, seria parceira ideal nos negócios e na cama. Deixou para Cíntia o apartamento das Perdizes e foi morar com Cecília, em Alphaville, em um condomínio fechado. Cecília passou a ser a principal executiva de sua Empresa... e de seu dinheiro. Em pouco mais de dois anos, passaram a ter constantes e desgastantes discussões sobre negócios. Até que ele descobriu que ela estava desviando recursos da empresa, em atividade paralela. Demitiu-a da empresa e de sua vida. Todavia, Eduardo era obcecado por viajar, conhecer todos os lugares possíveis. Mas, viajar sozinho, sem ter alguém para trocar impressões, elogios e criticas? Nem pensar! Foi, então, que engendrou um plano inusitado: postou em seu facebook a seguinte mensagem: ‘’coroa, ainda na casa dos 50, com tudo em cima, procura companhia feminina, entre 30 e 40, para viagens nacionais e internacionais, despesas pagas, mas sem envolvimento sentimental. Marcar entrevista pelo telefone tal.’’ O telefone tal era de uma agencia de empregos, cujo proprietário, Inácio, era seu companheiro, nas ‘’peladas’’ do clube. Ele passou para o amigo as ‘’características básicas da sua eleita’’ – alta, bonita, coxas torneadas, educada, bem informada, não necessariamente culta. 15 dias depois do anuncio, Inácio ligou: - ‘’Cara, você não acredita; Recebemos mais de 100 ligações, entrevistamos, até agora 20 e, dessas, 05 merecem ser conhecidas por você, principalmente uma morena, sotaque carioca, 35 anos, corpo perfeito e papo pra lá de agradável. Solteiríssima, passou por algumas desilusões amorosas e, agora, só se interessa por aquilo que ela chama de ‘’relações efêmeras’’. E leva jeito que gosta do ‘’esporte’’. Ela só fez uma exigência: quer que você ligue, convidando-a para jantar. É mulher, bem resolvida, em todos os sentidos e não quer ser confundida com prostituta, ou coisa que o valha. Estou passando o nome e o telefone dela para seu e-mail’’. Dois dias depois, Eduardo resolveu ligar para a tal mulher, que se chamava Angélica. – ‘’Oi, Angélica, aqui o Eduardo, do anúncio. Como solicitado por você, estou ligando para marcarmos nosso jantar. Que tal amanhã, posso buscá-la em sua casa.’’ Do outro lado, uma voz quente e rouca respondeu: - ‘’melhor nos encontrarmos no restaurante. Você conhece o ‘’Tatine’’? Só pela escolha do restaurante, Eduardo concluiu que se tratava de mulher de bom nível socioeconômico. E, quando ela entrou no restaurante, quase meia hora após a marcada, só ao vê-la, sabia que não se enganara. Morena, cerca de 1,70, trajava vestido amarelo, um pouco acima do joelho e colado, apenas o suficiente para realçar-lhe as formas. Ao se aproximar, ela o presenteou com um sorriso generoso, que desenhava duas pequenas covas no rosto. E, antes que o jantar terminasse, Eduardo já sabia que, contra tudo o que decidira, iria para o quarto casamento. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A ascensão e queda do teatro brasileiro

O programa ‘’Roda Viva’’, um dos melhores da televisão brasileira, brindou-nos, na ultima 2ª-feira, com saborosa e rica entrevista com o ator Antonio Fagundes, também produtor de peças teatrais. Falou ele, dentre vários temas, das dificuldades financeiras atuais para levar à cena uma peça, com mínimo de qualidade, até para ele, artista consagrado. Lembrou a época em que as sessões de teatro iam de 3ª a domingo, com direito a dois espetáculos, nos finais de semana. A progressiva escassez de publico reduziu o teatro para exibições, apenas aos sábados e domingos. Acho que, sem falsa modéstia, consigo explicar um pouco essa derrocada. Afinal, entre os anos 60 e até o começo dos anos 90, assisti à maioria dos espetáculos teatrais, no eixo Rio - São Paulo. Cito alguns, de memória, com a certeza de omitir outros importantes: Cacilda Becker e Valmor Chagas em ‘’Quem tem medo de Virginia Wolff’’; os mesmos em ‘’Esperando Godot’’, por sinal a ultima de Cacilda; Fernanda Montenegro em ‘’A volta ao lar’’; Juca de Oliveira, em ‘’A Cozinha’’ e o mesmo Juca em ‘’O Inimigo do Povo’’; Maria Fernanda, em ‘’Um Bonde Chamado Desejo’’; Fernando Torres em ‘’A Última Noite de Cristal’’; Tonia Carreiro, em ‘’As Pequenas Raposas’’; Paulo Gracindo, em ‘’A Procura do Senhor Green’’; Maria de La Costa, em ‘’Um Tiro no Escuro’’, Paulo Autran, em ‘’Hamlet’’; Stênio Garcia em ‘’Cemitério de Automóveis’’ e incontáveis outras, sempre com casa cheia, ingressos comprados com, pelo menos, uma semana de antecedência. Minha preferência era a segunda sessão dos sábados, o que permitia esticar para as casas noturnas da época, a ‘’Baiúca’’ e o ‘’Stardust’’, ambos funcionando, naqueles tempos, na Praça Roosevelt e, no Rio, o ‘’706’’, na Avenida Ataulfo de Paiva ou ‘’A Fossa’’, ali na Praça do Lido. E olha que, ainda na Faculdade, vivia com salário de professor e, depois, morando no Rio, como funcionário do Ministério da Fazenda, com um ‘’DAS2’’ que hoje deve corresponder, no maximo, a 10 mil reais. ‘’Viver a vida’’ não custava caro e o teatro era lazer barato. Hoje, qualquer espetáculo não fica por menos de 100 reais e, em sendo um casal – e sempre o era, – se se agregar a balada, não se gasta menos de 500 ‘’pratas’’, o que não é pra qualquer um. A outra causa é que o nível dos atores caiu muito, idem acontecendo com o público. Naquele tempo, sabia-se quem era Ibsen, Vianinha, Pinter, Gogol etc. Hoje, via de regra, vai-se ao teatro para ver, em carne e osso, o galã da novela das 8. Lembro-me da ultima vez que lá estive, quando entrou em cena um desses galãs, ouvia-se, da platéia, o grito de ‘’lindo’’, apesar da voz do dito cujo mal alcançar a décima fila. Aí reportei-me ao silencio sepulcral, que se fazia, quando Fernanda Montenegro, em ‘’O Homem do Principio ao Fim’’, recitou o monologo de Santa Terezinha. Nesse dia do ‘’lindo’’, concluí que minha carreira de espectador tinha terminado. E tem mais: os atores, ao inicio citados, todos eles foram forjados no teatro e, depois, foram enriquecer a televisão, como demonstrou o próprio Fagundes, em ‘’O Rei do Gado’’. Hoje – se podem ser considerados atores – nasceram e foram criados na televisão, o que lhes suprime técnicas básicas de interpretação. Conclusão: preços altos e atores ruins deixam as poltronas vazias.  

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Rememorando Cícero

Liga-me cliente-amigo, empresário de boa cepa, que gasta seu já escasso tempo, lendo minhas ‘’mal traçadas’’ e me pergunta o que significa ‘’catilinaria’’, expressão desusada – como eu -, que empreguei outro dia. Dei-lhe rápida explicação sobre seu sentido atual – não tão atual assim -, como sendo ‘’discurso acusatório inflamado e contundente’’. Quer ele saber mais: de onde tirei tal expressão. Falo, mui superficialmente, de Cícero, o maior orador de seu tempo, que, em discurso inflamado, no Senado Romano, desanca o também Senador Catilina, que tentara liderar um frustrado ‘’golpe de estado’’. O assunto mexeu com meu ‘’baú de recordações’’, remetendo-me ao Liceu Pasteur, onde fiz o curso clássico, que não mais existe (o curso, não o Liceu, que continua, impávido colosso) e, em cujas aulas de latim, ministradas pelo exigente Helio Pimentel, enfrentávamos Cícero, Ovídio e Virgilio. Lembro-me dos textos percorridos com meu querido amigo, o hoje laureado jornalista, José Paulo de Andrade, então residindo na Rua Santa Cruz e cuja mãe nos brindava com uma lasanha de comer ajoelhado. ‘’As Catilinarias’’, até onde me lembro, eram os discursos mais fáceis de serem traduzidos. Barra pesada mesmo, era o ‘’De Officiis’’, obra filosófica e as ‘’Éclogas’’ de Ovídio. Aí o jeito era consultar a ‘’burra’’, livro proibido, que continha o texto, em latim e, ao lado, a versão, em português. Em meu saudosismo, percorro meus livros, até localizar as ‘’Catilinarias’’, discurso pronunciado, no senado romano, por Marcos Túlio Cícero, no ano 63 A. C. Releio-o, com o auxilio de dicionário ‘’latim-português’’, já que o tempo longevo obscureceu-me os neurônios. De qualquer maneira, adapto, pela inequívoca co-relação, alguns trechos do discurso para os dias atuais, substituindo Catilina por Dilma:
‘’Afinal, até quando, ó Dilma, abusarás de nossa paciência? Por quanto tempo ainda estas tuas mentiras irão nos enganar? Qual a finalidade desta desmesurada sede de poder? Como é possível que nenhum receio ou apreensão te cansem, nem os que clamam contra ti, nem a união dos bons cidadãos, nem a indignação, que se vê estampada no rosto de todos que, nas praças publicas, exigem tua renuncia? Não percebes que teus intentos são manifestos? Pensas que alguém, dentre nós, ignora o que articulastes ou onde estivestes ou com quem te reunistes ou o que planejaste? Ó tempos! Ó costumes! Tais coisas o Congresso sabe, a oposição vê e, no entanto essa mulher sobrevive! Só sobrevive? Muito mais do que isso. Ela articula com a Câmara e o Senado, participa de reuniões ministeriais, observa e designa um e outro para cargos... Ó Dilma, que coisa ainda existe neste País para deleite teu? Aqui, além de tua turma, integrada por indivíduos corruptos, ninguém há que não te despreze ou odeie... Ora, se este Congresso resolver que é do agrado dele sua demissão, declara então que vai obedecê-lo e livra a República do medo de tua administração’’...
 E, em outro trecho, Cícero parece antecipar o Juiz Sergio Moro falando para Lula: ‘’Se agora, ó Lula, eu te mandasse prender, penso que todos os cidadãos honestos diriam ter eu agido tardiamente do que praticado qualquer ilegalidade.’’

Obs: Marco Túlio Cícero nasceu em janeiro de 108 a.C e morreu em maio de 45 a.C. Foi filósofo, político, mas, acima de tudo, o mais importante advogado da Roma antiga.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

De contradições a vida é feita

Outro dia, numa audiência, o advogado da parte contraria, dinossauro como eu, diante do comportamento arbitrário do juiz que, pela aparência, ainda não esquentara a cadeira, virou-se para mim, desolado: ‘’colega, ainda bem que estou chegando ao fim do caminho e não precisarei viver mais situações como esta’’. Sorri-lhe, em muda solidariedade, mas fiquei com a frase na cabeça. É verdade, o acumulo dos anos vividos nos faz conformados e até irônicos, diante dos absurdos do cotidiano, contra os quais não temos mais tempo e forças para nos debatermos. Concluímos – tardiamente – que o mundo, suas coisas e pessoas, é regido pela insensatez. Sempre foi e sempre será assim, de Adão e Eva, até o final dos tempos, que, com certeza, virá, porque nem Deus, ‘’penhor supremo do sumo bem’’, como ensinava o catecismo de minha infância, poderá suportar tantas contradições. Um dia ele perde a paciência e, do alto de sua onipotência, grita: - ‘’pra mim, chega! Vou destruir tudo e, se resolver recomeçar, será sem esta porcaria de ser humano. Pedro, abre todas as torneiras e faça soprar todos os ventos. Só me acorde, quando não restar pedra sobre pedra!’’ Por que estou a dizer tudo isto? Porque, nestas ultimas semanas, a mídia só falou no filete de água tóxica localizado em Marte. O DASA anunciou a retomada do programa espacial e, só pra inicio de conversa, vai investir 05 bilhões de dólares em tal programa. Já há fila de espera para viajar, a 200 mil dólares por cabeça, no ônibus espacial, com destino àquele planeta. Enquanto isto, por aqui, o câncer continua matando, a aids continua matando, a fome continua matando. Enquanto isto, por aqui, a Turquia recusa-se a receber os fugitivos da guerra, Israel quer exterminar os palestinos e esses querem afogar os israelenses no mar. Enquanto isto, por aqui, o Estado Islâmico destrói importantes sítios arqueológicos e corpo de bebê, em decomposição, é encontrado em ilha grega, atentados com carros-bomba matam dezenas de pessoas, no Iraque e tropas do Afeganistão bombardeiam hospital. Enquanto isso, por aqui, o governo mais corrupto da historia pátria negocia sua permanência no poder, com o Congresso mais corrupto da historia pátria. E, não bastasse tudo isto, a justificar a exterminação da espécie humana, o Botafogo, não satisfeito em me humilhar, estando na ‘’serie b’’, ainda cede empate ao ‘’Sampaio Correia’’, no ultimo minuto da prorrogação. Repito meu colega, do outro lado da mesa: -‘’ainda bem que não precisarei, por muito tempo mais, suportar estas indignações.’’

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O sonho realizado

Acácio vivia acabrunhado, quase depressivo. Chegara aos 70 com as mãos e os bolsos praticamente vazios e seu único patrimônio era o modesto apartamento das Perdizes e os carros, quase anciãos, dele e da esposa. Conseguira formar os filhos, mas, nesta casa, sabia que os frutos eram colhidos apenas por eles. Não podia reclamar: casara com uma mulher lindíssima, coxas longas e torneadas, com quem viveu intensamente, viajando pelo Brasil e pelo exterior, freqüentando os melhores restaurantes e casas noturnas do eixo São Paulo – Rio. Na cama, ela era um vulcão, sempre em erupção. Mas tudo isto ficou para trás, e o passado, como diz a canção, ‘’é uma roupa velha que não nos serve mais’’. O interesse da esposa por ele foi minguando e transformando-se em irremovível ressentimento, depois que uma pessoa da própria família, para se preservar das próprias lambanças, contara a ela que ele estivera envolvido com uma colega de trabalho. A esposa não aceitou suas explicações e resolveu transformar a vida dele num inferno. O tempo foi passando e ele, em silencio ensurdecedor, aprendeu a administrar aquele inferno: refugiava-se nos livros e no trabalho. Sempre se perguntou porque a mulher, se tinha convicção inabalável de sua canalhice, não o pusera para fora de casa. Talvez atormentá-lo, cotidianamente, imaginava ela ser vingança mais eficiente. Mas este era problema, que não mais o afligia. Aflição mesmo era constatar que chegara aos 70, tendo que trabalhar muito para manter medíocre padrão de vida. E, se morresse ou, pior, se ficasse gravemente doente, como sobreviveriam os dois? Preferia pular de um daqueles edifícios envidraçados da ‘’Faria Lima’’, a depender de filhos, cada qual enfrentando seus ‘’leões’’. Um dia, ou melhor, uma noite, Acácio sonhou com o pai. Sonho estranho: o pai apenas sorriu-lhe, com aquele sorriso contido (não se lembrava de vê-lo gargalhar) e lhe entregou um pedaço de papel, contendo alguns números e depois desapareceu, sem nada dizer. Esse sonho repetiu-se várias vezes, sempre do mesmo jeito, sempre os mesmos números, que Acácio até decorara. Qual o significado daquele sonho, se é que sonho tinha qualquer significado? Por que o pai, de quem ele raramente lembrava, aparecia-lhe com tanta freqüência? E aqueles cabalísticos números, o que indicariam? Os dias se passaram, o pai desapareceu dos sonhos e Acácio já o tinha esquecido, quando, um sábado, leu no jornal que a mega-sena estava acumulada em quase 60 milhões e a noticia, para aguçar o apetite, dizia o que se podia fazer com aquela dinheirama toda. Tudo conspirava para que Acácio jogasse, pela primeira vez: havia uma lotérica, no supermercado, onde, aos sábados, ele fazia as compras semanais da casa. Anotou, na cartela, os números, ditados por seu pai e guardou o comprovante, na carteira. Achou-se meio ridículo, com tudo aquilo, por isso preferiu guardar silencio. Os dias se passaram e ele, enfrentando uma guerra em casa e outra, na rua, esqueceu-se do jogo, que adormecia, em sua carteira. Passara quase um mês, quando, uma noite, como de habito, assistia ao ‘’Jornal da Bandeirantes’’, quando o Boechat deu a noticia: ‘’ainda não apareceu o ganhador do teste nº tal da mega-sena que pagou 62 milhões de reais.’’ Só então Acácio lembrou-se de seu jogo. No outro dia, antes de ir para o trabalho, passou por uma lotérica e, de posse do resultado, foi conferi-lo, em um café, ao lado. Suas mãos tremeram, seus olhos ficaram embaçados e a voz calou-se na garganta. Ganhara! Era ele o proprietário daquela fortuna. O que fazer? Tudo o que pretendia era conquistar a liberdade. Libertar-se daquela vida medíocre, feita de mesmismo. Libertar-se daquele casamento, chamuscado por um ressentimento que, muitas vezes, transformava-se em ódio, aquele ódio que faísca dos olhos, que grita, sem abrir a boca. O que fazer com 60 milhões, quando a vida se transforma em gosto amargo de fracasso? Viajar, para onde e com quem? Com a tranqüilidade de quem tem certeza do que faz, Acácio retirou o premio, em cheque administrativo, endossou-o, depositou na conta se suas esposa, colocou o recibo do deposito em envelope fechado, que deixou sobre o travesseiro dela e se dirigiu àquela praia, de cuja pedra gostava de apreciar o mar. Quando o sol começou a mergulhar nas águas, ele pulou da pedra e nadou em direção ao poente. Apenas ele, o mar e o sol findante. 

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A montanha pariu um rato

Depois de muita conversa e barganhas mil, a grande reforma, preconizada pela Presidente Dilma, resumiu-se a suprimir 9 ministérios que, somados, não representam 1 e promover uma redução de gastos da maquina publica que, por ser ínfima, constitui a chamada ‘’economia de papel higiênico’’.  Quanto à reforma ministerial, por favor, não cometam a injustiça de compará-la àquela, efetuava por Collor, na pré-cassação de seu mandato. O ultimo Ministério Collor era integrado pela elite do pensamento brasileiro, como, por exemplo, Célio Borja, jurista de vasta bagagem, que ocupou a Pasta da Justiça. O novo Ministério Dilma mudou para pior. Dou apenas dois exemplos, para que estas ‘’mal traçadas’’ não se transformem em verdadeira catilinaria. Para o Ministério da Educação, substituindo um especialista, na área, professor emérito, foi Mercadante, o queridinho de Dilma, mas inimigo do povo petista, em geral e de Lula, em particular. Para o Ministério da Defesa – incomensurável paradoxo – foi o comunista Aldo Rabelo. A propósito, almoçando com queridíssimo amigo, Coronel da reserva, observou ele, do alto de sua experiência: ‘’corto minha mão se um general, Almirante ou Brigadeiro aceite receber ordem de Ministro comunista’’. Isto sem falar no novo Ministro da Saúde, cuja experiência, na área, é ter sido Secretário da Agricultura... do Piauí. O Brasil é ou não é o país da piada pronta? Na verdade, ao promover tão atabalhoada reforma, Dª Dilma procurou – só não sei se conseguirá – livrar seu emprego, agora que Eduardo Cunha, furibundo com a divulgação de suas suíças contas, promete dar o troco, botando o pedido de impeachment para rolar. Dizia-me aquele mesmo Coronel: - ‘’nem que todo o povo saia às ruas implorando, os militares aceitarão o poder, de volta’’. E ele tem razão: à exceção de Michel Temer, que está lá pra isto, ninguém aceita o emprego de Presidente. O salário não é lá estas coisas, ficou difícil ‘’meter a mão’’ e ainda tem o PMDB, que exige indicar até o faxineiro–chefe. Repito Mussolini: governar o Brasil não é difícil, é inútil.



sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O crime quase perfeito



Recebo, com muito agrado, a visita de cliente, quase amigo, cujo divorcio fiz, já La vão 03 anos, bastante desgastante para todos, já que a mulher não queria a separação. Criou ela incontáveis empecilhos, mas ele, entrando nos 60, estava apaixonadíssimo por uma garota de 25. Eu, à época, cumprindo a obrigação de advogado e quase amigo, dei-lhe conselhos, alertei que paixão, como onda bravia, era estado passageiro e que, quando passasse, ele seria o grande perdedor, porque ficaria sozinho e afastado da perenidade que a estrutura familiar proporciona. Mas qual o que! O homem estava ensandecido, que a esposa ficara chata, implicava com a cueca, deixada no banheiro, com o toco de cigarro no cinzeiro, que ele roncava, enfim, tudo era pretexto para uma discussão que terminava, invariavelmente, com ela batendo a porta do quarto. Ele – dizia-me -  sofria a angustia da sexta-feira, sabendo que teria interminável fim-de-semana de duelo com a esposa. Se ele saísse, era porque não gostava de ficar em casa, se ficasse, estava sujando o sofá com o jornal, manchando a mesa com o copo de uísque, ouvindo musica, como se fosse surdo. Um dia, no hospital onde trabalhava – esqueci de dizer que era médico – conheceu uma residente, que fora lhe relatar um caso, pedindo orientação. Morena, olhos verdes, seios pulando da blusa. Encerrada a conversa, cada qual seguiu seu rumo. Na hora do almoço, no restaurante do hospital, ele procurou uma mesa, à janela, debruçada sobre a avenida. Gostava de ver o movimento, as pessoas apressadas, lá fora, ao contrário da vida arrastada, de dentro. Assustou-se quando ela, abrindo majestoso sorriso, perguntou-lhe se podia sentar com ele. Ali começou tudo: garota inteligente, alegre, despojada, um vulcão na cama. A principio, encontros escondidos, que foram ficando menos cuidadosos, até o dia que foram flagrados, por uma enfermeira, transando em uma vazia sala de cirurgia. Em pouco tempo, até o porteiro já sabia. Antes que, por outros bocas chegasse aos ouvidos da esposa, ele mesmo contou. Que não mais suportava aquela mesmice de casamento, ela implicante, por certo já o desprezava. Que ele conhecera outra pessoa,queria aproveitar o resto de vida, trabalhava feito ‘’burro de carga’’, achava que merecia. Primeiro, ela gritou, depois chorou, depois ameaçou: que nunca mais ele veria os netos, que na casa da praia ele não botava os pés com uma vagabunda. Ele simplesmente jogou algumas roupas numa valise de mão e se transferiu para um ‘’flat, ali na Alameda Lorena, para onde a garota também se mudou. Para deixar a ‘’poeira sentar’’, tiraram férias: Itália, França, Holanda e Alemanha. Tórrida lua-de-mel, apesar do gélido inverno europeu. Na volta, começou a guerra da separação. Foi quando ele contratou meus serviços. Sorte que o advogado dela era meu conhecido e conseguimos conduzir o barco em águas revoltas, até chegarmos ao porto seguro do acordo amigável. Todavia, no dia da audiência final, era visível o ódio que ela destilava contra ele. Depois disto, nunca mais o vira, cada qual envolvido por vidas tão diferentes. Nos natais, sabendo-me apreciador de vinho, ele sempre me mandava uma caixa e eu retribuía com um livro. Então, falávamos, por telefone, aquelas palavras de sempre. Era quando sabia que o novo casamento ia as mil maravilhas, ele amando e sendo amado, como nunca. Marcávamos um encontro, na base do ‘’precisamos nos ver’’ e, é claro, esse encontro jamais acontecia. Assim, quando ele marcou entrevista comigo, imaginei algum negocio, compra de algum hospital, créditos a receber de plano de saúde, ou coisa que o valha. Quando ele entrou em minha sala, pelo seu semblante soturno, vi que o assunto era grave. Sem preliminares foi logo ao principal: -‘’meu caro, estou com problema sério, vivendo verdadeiro inferno, preciso de sua orientação. Desde o divorcio, minha ‘’ex’’ não parou de me perseguir. Falou mal de mim aos amigos comuns, que eu chegava bêbado, a agredia, dava em cima das empregadas. Até meus filhos viraram a cara para mim. Culminou com ela postando, no facebook, uma foto de minha atual, dizendo que era garota de programa, que eu tirava do ‘’Bamboa’’. Achei que aquilo tinha que ter um fim. Como sei que ela toma remédio para dormir e eu ainda tenho a chave do apartamento, no mês passado entrei lá, apliquei nela uma injeção letal, que aparenta sinais de parada cardíaca. No dia seguinte, a empregada encontrou-a morta, ligou para os filhos, que ligaram para mim, um amigo, cardiologista de renome, atestou o óbito. Desde então ando atormentado, sem saber o que fazer. Vou a polícia, confesso o crime e destruo minha vida? Tenho pensado até em me matar. O que faço?’’

Eu, apanhado pelo inusitado da consulta, não achava resposta. Confessar o crime – caminho juridicamente mais adequado – seria o fim da vida daquele homem honesto, profissional competente. Se fosse a julgamento, nem o melhor criminalista do mundo conseguiria absolve-lo e, mesmo que o conseguisse, não o livraria daquela culpa, que o atormentava. Por certo, entendia eu que o problema situava-se fora do mundo jurídico, por isso, mais do que orientação, dei-lhe uma opinião: - ‘’meu caro, o estrago já está feito e não há como recuperá-lo. Solto ou preso, você continuará sufocado pela sua consciência. Vou invadir sua seara: imaginemos que você seja portador de doença, pelo menos por enquanto, tida como incurável. Você terá que conviver com essa doença, na esperança de que um dia se encontre cura para ela, ou, então se matar, por não ser capaz de conviver com essa angustia de esperar. Acho – apenas acho – que essa possível cura está no divã do psiquiatra. Se você tem algum, de sua absoluta confiança, converse com ele. De nós, de mim, e dele, você está resguardado pelo sigilo profissional.’’ Como ele estava transtornado, retive-o, em meu escritório e, aproveitando o cair da tarde, abri um vinho que sempre ‘’alegra o coração dos homens.’’