sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Por um coração Botafoguense


Como hoje é sexta-feira, dia de amenidades, vou falar com o coração, já que falo do Botafogo, que completa 110 anos, dos quais, pelo menos 60, passei a seu lado. Foram muitos anos, alegrias e tristezas, mas, como dizia Vinicius, poeta botafoguense, ‘’um renovar de esperanças’’. Sempre! Lembro-me das tardes ensolaradas, ou das noites estreladas, ou das nuvens cinzentas, ou do frio pouco, ou do calor muito, todas elas vividas, intensamente, enquanto a Estrela Solitária percorria os gramados, eu, o grito parado na garganta, ou gritado a plenos pulmões. Casei, tive filhos, vieram os cabelos brancos, foram muitos deles, mudei três vezes de pouso, mas o Botafogo ficou, constante, em sua inconstância, paixão ardente que esmaece, mas jamais se extingue, como eu, tantas vezes inconstante, tantas vezes esmaecido, mas vivo, presente. Acho que, também, daí, dessa similitude, vem esse meu amor ao Glorioso. A ele e a mim soem acontecer sumidouros de depressão, dos quais irrompemos, eventualmente, para a euforia. O Botafogo às vezes se maltrata, como eu; o Botafogo é meio inconseqüente, como eu e, como eu, tem os pés esquecidos em Minas Gerais e, por isso, como eu, alterna o fervor com a indolência. Fernando Pessoa, com certeza, era Botafoguense e só por essa razão escreveu o seu ‘’Poema em Linha Reta’’. Dostoievski, com seus personagens alucinantes, sem dúvida, era Botafoguense, porque somente um Botafoguense poderia ser desvairado. Por isso já tivemos Amarildo, o Possesso, como já tivemos Nilton Santos, o doce Nilton, que tocava a e na bola como se regesse uma sinfonia Bachiana. Por isso tivemos Heleno de Freitas, que morreu louco em Barbacena, porque o Botafogo é, acima de tudo, loucura.

Era um sábado estranhamente paradoxal, de um maio de 1977. Minha alma alvinegra agitava-se: morrera Carlos Lacerda, meu guia intelectual, meu mentor político por quem eu vibrava, desde meus 13 anos. E, no mesmo dia, jogava o Botafogo, no Maracanã. Os mesmos olhos que se avermelharam diante do ídolo morto acenderam-se vendo os ídolos vivos percorrerem o gramado. Porque o Botafogo é isso: vida e morte ao mesmo tempo. 

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