Eu pretendia falar do meu espanto-alegria, por este majestoso
agosto que, esquecendo-se de que ainda é inverno, enfeita as árvores de flores,
como se primavera fora e aquece os corpos, fazendo-nos sentir o
gosto-lembrança-espectativa do verão, que está logo ali, a nos esperar, de
sorriso e braços abertos. Todavia, lembrei-me de um texto de Brecht, que
introduz a ‘’ópera dos 3 Vinténs’’ e
que, ‘’mutatis mutandi’’, adapta-se aos dias, hoje vividos pelo Brasil: ‘’que tempo é este, em que falar de flores é
quase crime, pois importa em calar sobre tantos horrores’’. Brecht falava
dos horrores da guerra e eu invoco os horrores políticos, que nos assolam,
invadindo este ensolarado agosto. Meus poucos conhecimentos de historia
fazem-me lembrar que agosto é mês fatídico para a política brasileira. Nem falo
da renuncia de Janio – 25 de agosto -, que pretendeu ser um Peron brasileiro,
encharcado em vinho do porto. Falo do suicídio de Vargas – 24 de agosto -, cujo
sangue lavou seus 15 anos de sanguinária ditadura e de um governo de
apadrinhados, marcado pela corrupção. Gregório Fortunato, chefe da guarda
pessoal de Getulio, era o canal das grandes negociatas daquele governo e ficou
milionário. Alguma semelhança com personagem atual? Getulio, aparentemente
constrangido, alegou nada saber sobre o ‘’mar
de lama’’ que corria sob o Palácio do Catete. Mais semelhança? Após
propagadas as denuncias de corrupção, agravadas pelo atentado a Carlos Lacerda
e que resultou na morte do Major Vaz, Getulio perdeu, inteiramente, condição de
governar o País e sua renuncia passou a ser exigida por todos os segmentos da
sociedade. Não é muita coincidência com os fatos atuais? Sem alternativa,
Getulio se matou e se transformou em mártir. Por óbvio, ninguém almeja que a
Presidente se imole, apenas se espera que ela percorra os livros de historia da
época e deles retire a lição definitiva de que sua presença, na Presidência da
República, é nefasta ao País. Ninguém – à exceção dos banqueiros – suporta sua
incompetência. Os trabalhadores, desempregados, ou em vias de, não mais
suportam. Os comerciantes, com suas lojas às moscas, não mais suportam. Os
industriais, com suas máquinas paradas ou subutilizadas, não mais suportam. Os
sindicatos laborais, por não terem como se justificar, perante seus associados,
não mais suportam. Os aposentados, cujo pífio reajuste a senhora vetou, não
mais suportam. A dona de casa que vê o carrinho de feira diminuir de
quantidade, não mais suporta. Seus aliados, os presos e os (ainda) soltos não
mais suportam. É hora, Presidente, de buscar a porta de saída. É agosto,
aproveite o mês, que é propicio para retiradas.
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