quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O passado e o presente se encontram

Eu pretendia falar do meu espanto-alegria, por este majestoso agosto que, esquecendo-se de que ainda é inverno, enfeita as árvores de flores, como se primavera fora e aquece os corpos, fazendo-nos sentir o gosto-lembrança-espectativa do verão, que está logo ali, a nos esperar, de sorriso e braços abertos. Todavia, lembrei-me de um texto de Brecht, que introduz a ‘’ópera dos 3 Vinténs’’ e que, ‘’mutatis mutandi’’, adapta-se aos dias, hoje vividos pelo Brasil: ‘’que tempo é este, em que falar de flores é quase crime, pois importa em calar sobre tantos horrores’’. Brecht falava dos horrores da guerra e eu invoco os horrores políticos, que nos assolam, invadindo este ensolarado agosto. Meus poucos conhecimentos de historia fazem-me lembrar que agosto é mês fatídico para a política brasileira. Nem falo da renuncia de Janio – 25 de agosto -, que pretendeu ser um Peron brasileiro, encharcado em vinho do porto. Falo do suicídio de Vargas – 24 de agosto -, cujo sangue lavou seus 15 anos de sanguinária ditadura e de um governo de apadrinhados, marcado pela corrupção. Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getulio, era o canal das grandes negociatas daquele governo e ficou milionário. Alguma semelhança com personagem atual? Getulio, aparentemente constrangido, alegou nada saber sobre o ‘’mar de lama’’ que corria sob o Palácio do Catete. Mais semelhança? Após propagadas as denuncias de corrupção, agravadas pelo atentado a Carlos Lacerda e que resultou na morte do Major Vaz, Getulio perdeu, inteiramente, condição de governar o País e sua renuncia passou a ser exigida por todos os segmentos da sociedade. Não é muita coincidência com os fatos atuais? Sem alternativa, Getulio se matou e se transformou em mártir. Por óbvio, ninguém almeja que a Presidente se imole, apenas se espera que ela percorra os livros de historia da época e deles retire a lição definitiva de que sua presença, na Presidência da República, é nefasta ao País. Ninguém – à exceção dos banqueiros – suporta sua incompetência. Os trabalhadores, desempregados, ou em vias de, não mais suportam. Os comerciantes, com suas lojas às moscas, não mais suportam. Os industriais, com suas máquinas paradas ou subutilizadas, não mais suportam. Os sindicatos laborais, por não terem como se justificar, perante seus associados, não mais suportam. Os aposentados, cujo pífio reajuste a senhora vetou, não mais suportam. A dona de casa que vê o carrinho de feira diminuir de quantidade, não mais suporta. Seus aliados, os presos e os (ainda) soltos não mais suportam. É hora, Presidente, de buscar a porta de saída. É agosto, aproveite o mês, que é propicio para retiradas. 

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