sexta-feira, 28 de agosto de 2015

De muitas contradições o mundo vive

Com extrema acuidade, o filósofo contemporâneo, Luiz Felipe Pondé, afirma que vivemos a ‘’era do ressentimento’’, que consiste em repudiarmos, com maior ou menor agressividade, a depender de nossa ‘’coragem’’, diante do fato concreto, tudo que nos desagrada ou colide com nossa maneira de pensar e agir. Somos, sempre, os donos da verdade, por mais absurda que ela possa ser. Não compreendemos, por exemplo, como alguém possa torcer por um time de futebol, que não seja o nosso, o que, às vezes, geram conflitos animalescos, entre torcedores adversos. Agora mesmo o País está divido entre os que apóiam a presidente Dilma e os que ‘’querem sua cabeça’’ e, desde já, afirmo que me incluo entre estes últimos. Vejo, com muito prazer, pela TV Cultura, o sapientíssimo historiador, Marco Antonio Villa, com os olhos injetados de ira, chamar Lula de ‘’ladrão’’ e Dilma de ‘’mentirosa’’. Essa assertiva de que ‘’a verdade está no meio’’ sempre foi balela e um dos textos mais antigos da Bíblia já afirmava ‘’porque és morno, eu te vomitarei de minha boca’’. E tome Deus afogando os egípcios no Mar Vermelho, ou parando o tempo para Josué ganhar a batalha. Moisés comandou seu povo, durante 40 anos, atravessando desertos, passando privações e, quando chegou na ‘’porta de entrada’’, cansado, física e psicologicamente, só porque teve uma pequena dúvida, Deus mandou que ele passasse a ‘’chave da porta’’ para o sobrinho. Só uma releitura do ‘’livro sagrado’’, compreendido à luz da historia e das metáforas, permite-nos construir um Deus complacente e misericordioso. E o ressentimento sai do campo interpessoal e invade, de forma incompreensível, o campo universal. Poderia dar centenas de exemplo, mas me fixo no de ontem, com a Hungria exigindo da União Européia alguma coisa como 02 bilhões de euros para construir muros, que impeçam o ingresso de imigrantes. Por que não usar essa dinheirama toda para dar condições de vida dignas a esses miseráveis, que fogem da guerra ou da fome? Simplesmente porque o ódio, irmão mais forte do ressentimento, é muito mais poderoso do que o amor e a fraternidade. Aqui, no Brasil, em razão de legislação obsoleta – Código de 1940 – a maioridade penal foi fixada em 18 anos. Agora, 75 anos depois, com toda a evolução tecnológica, era obvio que essa maioridade fosse readequada, fixando-se novo marco inicial em 16 anos. Até aí tudo bem, mas o que se fez para reeducar o menor infrator? Nada, a não ser um Estatuto, que é verdadeira ‘’historia da carochinha’’, porque os menores são confinados nas Febens da vida, que não só não educam, mas também constituem verdadeiras ‘’escolas de crime’’. A redução era necessária? Claro que era! Mas, vai trazer resultados concretos? Claro que não, porque a sociedade, movida pelo medo e/ou ódio, busca solucionar a conseqüência – punir o menor infrator -, ao invés de combater a causa - a miséria, o analfabetismo, a promiscuidade.

E assim vamos, de ressentimento, em ressentimento, de ódio, em ódio, constituindo uma sociedade mais injusta, mais belicosa, onde substantivos como paz, harmonia, entendimento não entram. O homem, como nunca, continua sendo o lobo do homem. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário