Com extrema acuidade, o filósofo contemporâneo, Luiz Felipe
Pondé, afirma que vivemos a ‘’era do
ressentimento’’, que consiste em repudiarmos, com maior ou menor
agressividade, a depender de nossa ‘’coragem’’,
diante do fato concreto, tudo que nos desagrada ou colide com nossa maneira de
pensar e agir. Somos, sempre, os donos da verdade, por mais absurda que ela
possa ser. Não compreendemos, por exemplo, como alguém possa torcer por um time
de futebol, que não seja o nosso, o que, às vezes, geram conflitos animalescos,
entre torcedores adversos. Agora mesmo o País está divido entre os que apóiam a
presidente Dilma e os que ‘’querem sua
cabeça’’ e, desde já, afirmo que me incluo entre estes últimos. Vejo, com muito
prazer, pela TV Cultura, o sapientíssimo historiador, Marco Antonio Villa, com
os olhos injetados de ira, chamar Lula de ‘’ladrão’’
e Dilma de ‘’mentirosa’’. Essa
assertiva de que ‘’a verdade está no
meio’’ sempre foi balela e um dos textos mais antigos da Bíblia já afirmava
‘’porque és morno, eu te vomitarei de
minha boca’’. E tome Deus afogando os egípcios no Mar Vermelho, ou parando
o tempo para Josué ganhar a batalha. Moisés comandou seu povo, durante 40 anos,
atravessando desertos, passando privações e, quando chegou na ‘’porta de entrada’’, cansado, física e
psicologicamente, só porque teve uma pequena dúvida, Deus mandou que ele
passasse a ‘’chave da porta’’ para o
sobrinho. Só uma releitura do ‘’livro
sagrado’’, compreendido à luz da historia e das metáforas, permite-nos
construir um Deus complacente e misericordioso. E o ressentimento sai do campo
interpessoal e invade, de forma incompreensível, o campo universal. Poderia dar
centenas de exemplo, mas me fixo no de ontem, com a Hungria exigindo da União
Européia alguma coisa como 02 bilhões de euros para construir muros, que
impeçam o ingresso de imigrantes. Por que não usar essa dinheirama toda para
dar condições de vida dignas a esses miseráveis, que fogem da guerra ou da
fome? Simplesmente porque o ódio, irmão mais forte do ressentimento, é muito
mais poderoso do que o amor e a fraternidade. Aqui, no Brasil, em razão de
legislação obsoleta – Código de 1940 – a maioridade penal foi fixada em 18
anos. Agora, 75 anos depois, com toda a evolução tecnológica, era obvio que
essa maioridade fosse readequada, fixando-se novo marco inicial em 16 anos. Até
aí tudo bem, mas o que se fez para reeducar o menor infrator? Nada, a não ser
um Estatuto, que é verdadeira ‘’historia
da carochinha’’, porque os menores são confinados nas Febens da vida, que
não só não educam, mas também constituem verdadeiras ‘’escolas de crime’’. A redução era necessária? Claro que era! Mas,
vai trazer resultados concretos? Claro que não, porque a sociedade, movida pelo
medo e/ou ódio, busca solucionar a conseqüência – punir o menor infrator -, ao
invés de combater a causa - a miséria, o analfabetismo, a promiscuidade.
E assim vamos, de ressentimento, em ressentimento, de ódio,
em ódio, constituindo uma sociedade mais injusta, mais belicosa, onde
substantivos como paz, harmonia, entendimento não entram. O homem, como nunca,
continua sendo o lobo do homem.
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