sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Considerações sobre mim mesmo

Ando, ultimamente, possuído pelo que Nelson Rodrigues chamou de “complexo de vira latas”. Para começar, afora trocar lâmpadas, sou absolutamente incapaz de realizar tarefas domésticas. Minha esposa é uma espécie de “faz tudo” dentro de casa: conserta aparelhos domésticos danificados, recompõe fiação elétrica, recupera móveis antigos, cujos componentes se romperam e até pinta paredes. Enquanto ela faz tudo isto, eu a contemplo com olhar bovino e nem ouso oferecer ajuda, porque serei olhado e afastado com profundo desprezo. Tenho amigos – alguns até já safenados – que ainda jogam tênis, montam a cavalo, voam de asa delta e eu, goleiro medíocre aposentado (o “medíocre”, aqui, é mera figura de linguagem, porque, na verdade, “eu era bom nisso”), limito-me a dar algumas voltas, no parque, aqui ao lado, assim mesmo em passos comedidos. Na área da informática, sou o mais retumbante desastre. Não navego na internet, ando de jangada. Outro dia, meu neto de 06 anos, desafiou-me para uma partida de futebol, no vídeo game. Sabe aquele Brasil e Alemanha, de melancólica lembrança? Pois é, eu fui Brasil. No campo intelectual, babo-me de inveja de meu irmão, morador do interior da Bahia e com quem travo porfias políticas. Ele vive citando autores, que desconheço e filósofos, cujas obras percorri, na longínqua juventude, mas cujo conteúdo esqueci, por completo. Outro dia, ele citou Epicuro. Eu já ouvi esse nome, só não recordo se era ponta direita ou meio campo, se jogava no Flamengo ou Fluminense. Ou estarei confundindo com Cafuringa, este, tenho certeza, foi filosofo grego, só não lembro o que ele filosofou. Tio – pergunta-me a sobrinha – você me ajuda a resolver essa equação de 2º grau? Lembro-me, vagamente (ou terá sido sonho-pesadelo?) que estudei isso, mas, hoje, sem a ajuda da maquininha de calcular, não realizaria nem mesmo as 04 operações (se ainda continuam sendo 04). No campo musical. Como diz minha mulher, ainda estou na “bossa nova” e, se a musica for clássica, acho tudo muito bonito, mas não sei se Rubinstein é pianista ou marca de piano. Chego, assim, à última idade, tendo esquecido tudo do pouco que aprendi e sem ter aprendido nada de novo. Outro dia, andando no parque, fiquei a me imaginar na Roma antiga, com os conhecimentos, que tenho hoje. Para começar, do latim só me recordo de algumas expressões, mas isto seria detalhe menor. O que eu poderia fazer para deixar estupefatos os romanos? Não fabricaria automóveis, não inventaria a luz elétrica, o telefone, o cinema. Enfim, pela minha absoluta ignorância e, como estrangeiro, incapaz até de se comunicar, seria atirado ao Coliseu, enquanto a turba ignara apontaria o polegar para baixo. 

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