O final de semana não podia ter sido melhor e até apagou o
amargor da última quarta-feira, expresso, no texto publicado, ontem. No sábado,
recebemos a visita de casal, amigos de uma vida inteira, vindo das terras
paraibanas. Amamo-nos, com incontido ardor, a falar do passado e do presente,
de filhos e netos e, como ninguém é de ferro, eu e ele “secamos” um litro de
“Royal Salute”, que pousava em meu bar, desde os anos 80. Ele – o uísque –
integra modesta coleção que eu projetava ver aberta, em meu velório. Como mudei
de ideia – quero-me, transformado em cinzas, atiradas ao mar, lá no canto do
Leme -, resolvi consumir aqueles especiais uísques, em especiais ocasiões, como
o da noite do sábado. Não quero me gabar, mas Osvaldo Jurema e sua, sempre bela Maria Zélia,
não é amizade pra qualquer um. E bota diferença, entre mim e ele, que é
torcedor fanático do Fluminense e comeu o pão, que o diabo amassou, em 1964,
quando seu pai, o ex Ministro Abelardo Jurema, teve que se exilar no Peru. Ele,
então, com 21 anos, virou arrimo de enorme família. Correu mundos e perigos,
até que, em 1972, pousou no Ministério da Fazenda e logo a meu lado. Em um
primeiro momento, rosnamos, um para o outro e, em um segundo momento,
transformamos nossas diferenças em amizade infungível, transmitida aos filhos.
Por tudo isto, a noite/madrugada de sábado foi memorável. Aí veio o domingo e o
Botafogo, esta paixão tresloucada, derrota o Flamengo. É claro que Rodolfo, meu
politizado pastor alemão, assistiu a meu contentamento e, quando fui lhe dar “boa noite”, ele me pediu cinco minutos
de papo, queria esclarecer dúvidas, que podiam perturbar-lhe o sono.
Acomodei-me no primeiro degrau da escada e ele não perdeu tempo:
Ele: “você viu a foto do Janot, em um
bar, confraternizando com o advogado da JBS? Não é estranho, principalmente se
considerarmos que o encontro se deu na noite do pedido de prisão do Joesley?”
Eu: “você, Rodolfo, para variar, como dizia minha falecida mãe, está vendo
“chifre em cabeça de cavalo”. Com certeza, os dois se encontraram,
acidentalmente, e resolveram tomar uma cerveja, falando de coisas banais. Ou
você está achando que o Janot foi se justificar, por ter pedido a prisão do
Joesley?”
Ele: “não sei não, mas é muito estranho esse encontro. Afinal, eles nem são
amigos! É como esta história da mega-sena. As capitais são responsáveis por 80%
dos jogos e o prêmio só sai para uma cidadezinha, que você nem encontra no
mapa. Tanta coincidência traz forte cheiro de “mutreta”, você não acha?”
Eu: “quem sou eu para achar ou deixar de achar. Quero, neste final de noite,
esquecido de macabros problemas, curtir esse excelente feriado prolongado, as
delícias vividas e agradecer a Deus o privilégio de tê-las vivido. Amanhã,
segunda-feira, ninguém sabe, novas amarguras poderão surgir. E, antes que eu
esqueça: surgiu linda fêmea, pastora de fino trato, que quer conhecê-lo, no
sentido bíblico do termo.”
Rodolfo abriu largo sorriso, lambeu-me o rosto e desceu a
escada, em passos cadenciados. Com certeza terá bons sonhos!
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