O jornal da noite começou, mostrando as malas de dinheiro,
espalhadas na sala do apartamento. Ao invés de vomitar, estiquei o braço e
alcancei o aperitivo ao jantar. Depois, vieram os trechos da entrevista do
ex-Ministro, então todo poderoso membro de seu
partido. Depois, vieram as gravações do “grande empresário”, tratando a Procuradoria Geral da República e o Supremo
Tribunal Federal, como se fossem propriedades sua. O jornal acabou e fui
jantar, como se nada daquilo fosse comigo, não atingisse as pessoas, que
conheço e milhões de anônimos, que se espremem, duas vezes ao dia, em ônibus,
metrô, trem, para ganharem salário, que não chega ao próximo pagamento. A
televisão, na sequência, mostra estádio de futebol repleto de torcedores – uns 60 mil -, eufóricos a pular e a cantar.
Aqueles problemas, as malas, o depoimento do ex-Ministro, a gravação do
empresário, nada disto é com eles. Amanhã, o dia surgirá luminoso e as pessoas
continuarão a se espremerem, demandando ao trabalho, alheios, ou pior,
indiferentes ao fato, de que a maior parte desse trabalho foi desviado para
aquelas malas de dinheiro (e quantas centenas de outras não haverá), para
contas secretas das pessoas citadas pelo ex-Ministro e que ajudou a formar o
obsurdo patrimônio daquele impossível empresário. Se o problema não é nosso,
que nem mesmo vomitamos, de nojo, ao tomar conhecimento deles, de quem será?
Recebo mensagem de querido companheiro, de 50 ou mais anos, que lutou lutas
dilacerantes, para vencer em sua/nossa profissão. A mensagem diz que não
precisamos pegar em armas, para fazer uma Revolução. Podemos fazê-la, através
das redes sociais. Poesia pura, que a história contesta. A Revolução Francesa
foi feita com sangue. A Revolução Norte-Americana matou milhares de irmãos e,
passados quase 03 séculos, parece que restam feridas semi-abertas. A Revolução
Russa e, mais tarde, sua filial, a Revolução Cubana foi feita com sangue.
Então, merece ser perguntado: apenas as redes sociais conseguirão derrotar as
organizações criminosas – tantas as são – que dominaram o Brasil? O poder
político está dominado! A segurança pública está dominada. Todos estamos dominados, por uma haste de marginais,
que se diferem, apenas nos trajes. O grito, emitido nas redes sociais, a eles
não causa senão escarneio. Mas, então, onde fica a saída? As instituições estão
moribundas. Ninguém as reconhece, tão disformes ficaram e, sem forças, não são
capazes de preservar a democracia e sua filha dileta, a liberdade. Mas tenho
certeza que, em algum livro, que li, está a resposta à minha pergunta. Depois
de muito pensar, descubro onde foi: em livrinho de letras miúdas, que tem, como
título “Constituição Federal”. Aprumo
o corpo e as vistas e percorro o “livrinho”,
ate encontrar o que buscava: artigo 142:
“As forças Armadas,
constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica são instituições
nacionais permanentes e regulares... e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem”
Eis, aí, nossa esperança de voltarmos a ser – se algum dia o fomos
– um País – nação, cujos filhos não queiram dele fugir, para viverem com
segurança e respeito E, se houver sangue? Não importa! Fará parte do processo
de purificação.
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