Chego em casa e surpreendo Rodolfo,
meu politizado pastor alemão, lendo “O
preço da dignidade”, livro que escrevi e publiquei, em 2012, durante a
crise do “mensalão”. Critiquei-o:- “com tanta coisa boa nas estantes, você foi
atrás logo desse livro, pobre, na forma e no conteúdo?” Ele não se abateu, dizendo
se surpreender, pela atualidade do enredo e até sugerindo que eu o reeditasse,
revendo algumas passagens. Na verdade, - disse-me – queria discutir comigo, não
a estória em si, mas a dedicatória. Sabia que a conversa ia longe, por isso,
marquei-a para após o jantar. Reproduzo nosso diálogo:
Rodolfo: “Você dedica o livro “a todos aqueles que,
despidos de hipocrisia, envolveram-se, qualquer dia, em qualquer época, ou em qualquer lugar, numa
pequena ou grande corrupção”. E arremata afirmando que “o ser humano é ele e
suas circunstâncias”. Afinal, você não crê no homem honesto e, mais, quando
você esteve no governo, envolveu-se em alguma maracutaia?”
Eu: “Meu caro Rodolfo, de um modo geral, o ser
humano, desde sua origem bíblica, é chegado a uma desonestidade, a querer tirar
vantagens. E este desvio de caráter aflora, com mais intensidade, diante de
circunstâncias objetivas, como necessidade de sobrevivência, ou subjetivas, por
se ser sociopata, como Sergio Cabral, por exemplo. Agora, quanto a mim, nunca
pratiquei qualquer ato de corrupção, no sentido técnico do termo. Trabalhei no
órgão do Ministério da fazenda, que comprava do clips ao avião, construímos a
maioria dos edifícios-sede, como o de São Paulo, Manaus, Porto Alegre,
Brasília, apenas para citar os mais importantes e nunca tive notícia de que
alguém, de nossa equipe, tivesse recebido qualquer vantagem, financeira ou não.
Tínhamos algumas mordomias, hotéis e jantares pagos, mas nunca demos nada em
troca. Para nós, honestidade era obrigação e não virtude. Depois de 10 anos de
serviço público – 08 no Departamento de Administração do Ministério da Fazenda
e 02 na Diretoria da Secretaria de
Segurança Pública do Estado do Rio, retomei a advocacia, praticamente do ponto
zero, com a ajuda de meu sempre amigo, Nelson Cella. Considerava-me um soldado
da Revolução de 64 e me orgulho de ter servido a três governos: Medici, Geisel
e Figueiredo.”
Rodolfo: “Com tudo isto, com sua experiência de vida,
nestas atividades públicas, como você explica a alta dose de corrupção que
atingiu o Brasil?”
Eu: “Para mim, a melhor explicação é o parco
comprometimento que o governante civil tem com a coisa pública, ao contrário do militar que vem de rígida
formação moral. O civil acaba confundindo o público com o privado e, com
facilidade, transforma um projeto de governo, em projeto de poder, o que
facilita a corrupção, como aconteceu com o Collor e em 13 anos de lulopetismo.
E ainda temos um Poder Legislativo, pulverizado em 35 partidos políticos, sem
perfil ideológico definido, a barganhar apoio em troca de favores, geralmente
indevidos.”
Rodolfo: “Mas você não acha que, depois da “lava-jato”,
teremos um novo Brasil, mais honesto, mais justo?”
Eu: “Tenho minhas dúvidas. O combate à corrupção
não pode ser um fim em si mesmo. A meta de qualquer governo deve ser a
recuperação econômica e social do País. Investir em educação, saúde,
infra-estrutura, gerando emprego. O assistencialismo é a esmola, que não só não
tira o pobre da pobreza, mas também o desestimula ao trabalho. A corrupção se
combate com mecanismos de controle eficientes e com educação adequada,
prestada, na escola e no lar. Neste sentido, a lava-jato é bom começo, mas só
isto. Fez com que os servidores públicos e os particulares soubessem da
existência de eficientes meios técnicos para “seguir” seus passos. Com isto, a
sensação de impunidade que motivava os corruptos, arrefeceu, o que já é grande
ganho.”
Rodolfo: “E o que você espera para as eleições
presidenciais de 2018. Acha o Doria um bom nome?”
Eu: “O quadro sucessório ainda está longe de se
definir. Quanto ao Doria, acho-o um farsante. A cidade está abandonada à
própria sorte, enquanto ele passeia pelo mundo e percorre os Estados “mostrando
a cara”. Governar um País, destroçado após 13 anos de incúria administrativa,
não é para principiante. Este negócio de parceria com a iniciativa privada é
pura enganação. Qual empresário vai investir em negócio, sem perspectiva de
lucro? Acaba gerando “sombrias transações”, com equipamentos públicos sendo
vendidos a preço de banana. Como revitalizar, financeiramente, o Estado do
Pacaembu, o autódromo de Interlagos? Além da venda barato, a Prefeitura vai
acabar concedendo isenção tributária que são formas indiretas de financiamento público,
retirando recursos da saúde e da educação. Doria, em primeiro lugar, deveria
demonstrar competência, administrando a cidade. Não aprendeu a pilotar um
monomotor e já quer ser comandante de “Boeing”, pode? Na minha visão, temos
dois bons nomes, um, à direita, o Senador Ronaldo Caiado e outro, à esquerda, o
também Senador Cristovão Buarque, por quem tenho especial admiração, pela sua
coerência e pela prioridade que ele dá à
educação.” Agora , meu amado
Rodolfo, chega de papo, que vou assistir a um filme sobre a destruição de
Guernica, um dos mais infames episódios da guerra civil espanhola. Agora deixe
meu livro de lado e leia este, “Polícia
Federal – A lei é para todos” que, acima de tudo, é magnífico exemplo de
comprometimento da Polícia Federal, no cumprimento de seus objetivos,
alcançados, com muita dedicação e avançada tecnologia. Na verdade, a “lava-jato” é a Polícia Federal, que
trabalha, quase anonimamente, deixando os refletores para Sergio Moro e os
Procuradores.
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