quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Uma conversa agradável



Chego em casa e surpreendo Rodolfo, meu politizado pastor alemão, lendo “O preço da dignidade”, livro que escrevi e publiquei, em 2012, durante a crise do “mensalão”. Critiquei-o:- “com tanta coisa boa nas estantes, você foi atrás logo desse livro, pobre, na forma e no conteúdo?” Ele não se abateu, dizendo se surpreender, pela atualidade do enredo e até sugerindo que eu o reeditasse, revendo algumas passagens. Na verdade, - disse-me – queria discutir comigo, não a estória em si, mas a dedicatória. Sabia que a conversa ia longe, por isso, marquei-a para após o jantar. Reproduzo nosso diálogo:
Rodolfo:Você dedica o livro “a todos aqueles que, despidos de hipocrisia, envolveram-se, qualquer dia, em  qualquer época, ou em qualquer lugar, numa pequena ou grande corrupção”. E arremata afirmando que “o ser humano é ele e suas circunstâncias”. Afinal, você não crê no homem honesto e, mais, quando você esteve no governo, envolveu-se em alguma maracutaia?”
Eu: “Meu caro Rodolfo, de um modo geral, o ser humano, desde sua origem bíblica, é chegado a uma desonestidade, a querer tirar vantagens. E este desvio de caráter aflora, com mais intensidade, diante de circunstâncias objetivas, como necessidade de sobrevivência, ou subjetivas, por se ser sociopata, como Sergio Cabral, por exemplo. Agora, quanto a mim, nunca pratiquei qualquer ato de corrupção, no sentido técnico do termo. Trabalhei no órgão do Ministério da fazenda, que comprava do clips ao avião, construímos a maioria dos edifícios-sede, como o de São Paulo, Manaus, Porto Alegre, Brasília, apenas para citar os mais importantes e nunca tive notícia de que alguém, de nossa equipe, tivesse recebido qualquer vantagem, financeira ou não. Tínhamos algumas mordomias, hotéis e jantares pagos, mas nunca demos nada em troca. Para nós, honestidade era obrigação e não virtude. Depois de 10 anos de serviço público – 08 no Departamento de Administração do Ministério da Fazenda e  02 na Diretoria da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio, retomei a advocacia, praticamente do ponto zero, com a ajuda de meu sempre amigo, Nelson Cella. Considerava-me um soldado da Revolução de 64 e me orgulho de ter servido a três governos: Medici, Geisel e Figueiredo.”
Rodolfo: “Com tudo isto, com sua experiência de vida, nestas atividades públicas, como você explica a alta dose de corrupção que atingiu o Brasil?”
Eu: “Para mim, a melhor explicação é o parco comprometimento que o governante civil tem com a coisa pública, ao  contrário do militar que vem de rígida formação moral. O civil acaba confundindo o público com o privado e, com facilidade, transforma um projeto de governo, em projeto de poder, o que facilita a corrupção, como aconteceu com o Collor e em 13 anos de lulopetismo. E ainda temos um Poder Legislativo, pulverizado em 35 partidos políticos, sem perfil ideológico definido, a barganhar apoio em troca de favores, geralmente indevidos.”
Rodolfo: “Mas você não acha que, depois da “lava-jato”, teremos um novo Brasil, mais honesto, mais justo?”
Eu: “Tenho minhas dúvidas. O combate à corrupção não pode ser um fim em si mesmo. A meta de qualquer governo deve ser a recuperação econômica e social do País. Investir em educação, saúde, infra-estrutura, gerando emprego. O assistencialismo é a esmola, que não só não tira o pobre da pobreza, mas também o desestimula ao trabalho. A corrupção se combate com mecanismos de controle eficientes e com educação adequada, prestada, na escola e no lar. Neste sentido, a lava-jato é bom começo, mas só isto. Fez com que os servidores públicos e os particulares soubessem da existência de eficientes meios técnicos para “seguir” seus passos. Com isto, a sensação de impunidade que motivava os corruptos, arrefeceu, o que já é grande ganho.”
Rodolfo: “E o que você espera para as eleições presidenciais de 2018. Acha o Doria um bom nome?”
Eu: “O quadro sucessório ainda está longe de se definir. Quanto ao Doria, acho-o um farsante. A cidade está abandonada à própria sorte, enquanto ele passeia pelo mundo e percorre os Estados “mostrando a cara”. Governar um País, destroçado após 13 anos de incúria administrativa, não é para principiante. Este negócio de parceria com a iniciativa privada é pura enganação. Qual empresário vai investir em negócio, sem perspectiva de lucro? Acaba gerando “sombrias transações”, com equipamentos públicos sendo vendidos a preço de banana. Como revitalizar, financeiramente, o Estado do Pacaembu, o autódromo de Interlagos? Além da venda barato, a Prefeitura vai acabar concedendo isenção tributária que são formas indiretas de financiamento público, retirando recursos da saúde e da educação. Doria, em primeiro lugar, deveria demonstrar competência, administrando a cidade. Não aprendeu a pilotar um monomotor e já quer ser comandante de “Boeing”, pode? Na minha visão, temos dois bons nomes, um, à direita, o Senador Ronaldo Caiado e outro, à esquerda, o também Senador Cristovão Buarque, por quem tenho especial admiração, pela sua coerência e  pela prioridade que ele dá à educação.”  Agora , meu amado Rodolfo, chega de papo, que vou assistir a um filme sobre a destruição de Guernica, um dos mais infames episódios da guerra civil espanhola. Agora deixe meu livro de lado e leia este, “Polícia Federal – A lei é para todos” que, acima de tudo, é magnífico exemplo de comprometimento da Polícia Federal, no cumprimento de seus objetivos, alcançados, com muita dedicação e avançada tecnologia. Na verdade, a “lava-jato” é a Polícia Federal, que trabalha, quase anonimamente, deixando os refletores para Sergio Moro e os Procuradores.

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