sexta-feira, 17 de março de 2017

Por causa de Frei Betto



Encerrei, com grande alegria, a leitura do livro “frei betto – biografia”, elaborada por Américo Freire e Evanize Sydow, historiadores ligados ao pensamento de esquerda. Os que me conhecem sabem-me pertencer ao que meu querido amigo, José Paulo de Andrade denomina “direita progressista”. Discordo, frontalmente da ideologia política de Frei Betto e faço restrição a sua concepção teológica. Mas Frei Betto é um craque! Inteligência e cultura que nos empresta a cada leitura de seus escritos, dentre os quais destaco “um homem chamado Jesus” e “Fonte de Deus”, obras obrigatórias a quem professa religião, ouso dizer, qualquer delas. Admiro Frei Betto pela sua coerência, por unir a ação de pensar à ação de fazer, mas aponto suas contradições que surgiram resultantes de sua utopia ideológica. Foi contraditório, por exemplo, que ao pretender inserir o marxismo, na peregrinação evangelizadora de Cristo. Frei Betto, apesar de sua visão de justiça e defensor dos direitos humanos, foi e continua sendo ardoroso admirador de Fidel Castro, o mais sanguinário ditador da história das Américas e que prefaciou a obra, em comento, inclusive invocando a prevalência da carcomida doutrina marxista-leninista. Do lado de cá, Frei Betto, com outros padres dominicanos, foi importante membro da “Aliança Libertadora Nacional”, organização terrorista liderada por Carlos Marighella. Apenas de passagem, observo que, de todos os dominicanos presos pelo regime militar, Frei Betto, por ser sobrinho de importante General, foi o único a não sofrer qualquer constrangimento físico. Viveu ele de ideais fugidios, o que lhe fez amargar duras decepções. Cito três: foi um dos idealizadores das “comunidades eclesiásticas de base”, reunião de leigos, em torno das paróquias, objetivando debater, à luz do evangelho, as desigualdades sociais da região. Ao final, essas organizações não agregaram novos católicos e afastaram aqueles que não aceitavam suas idéias e, principalmente, sua utilização político-partidária. Outro equívoco, atestado pelo próprio Vaticano, foi o movimento conhecido como “Teologia da Libertação”, que propunha o surgimento de uma “nova Igreja”, que deveria “ver o mundo com os olhos dos pobres, identificando-se com suas necessidades” e, a partir daí, “construir nova espiritualidade”. Em síntese: a “Teologia” propôs divisão entre “nós”, os pobres, e “eles”, os ricos, os pecadores. Assim, o movimento criou o conceito de “pecado social” e preconizou “uma igreja autenticamente pobre, missionária e parcial, desligada de um poder temporal e comprometida com a libertação de todo o homem e de todos os homens”. A “Teologia” remetia a fé a plano menor e desprezava o “sagrado”, como se ambos, “” e “sagrado”, não constituíssem a própria essência do cristianismo, atravessando mais de dois milênios. É claro que a preocupação com o “social” é dever de todos cristão, todavia, longe está de ser a “essência” da religiosidade, até porque o envolvimento com causas sociais não exige, por si só, engajamento em qualquer religião. O terceiro equívoco de Frei Betto, no plano da frustração ideológica, foi seu envolvimento político-partidário. Companheiro de Lula desde as reivindicações sindicais do início dos  anos 80, foi co-fundador do PT, que acreditava possuir um projeto de governo que privilegiaria os pobres, sua quase obsessão. Ao participar do governo Lula, conheceu outro homem, voltado para o que considerou “os interesses dos dominantes” e vinculado tão somente a um “projeto de poder”, não importando os métodos empregados para concretizá-lo. Frei Betto saiu do governo “atirando”, o que o tornou quase inimigo do lulopetismo. Em que pesem minhas divergências com Frei Betto, tenho-o a minha cabeceira, como leitura habitual, afinal, pelo menos para mim, divergir não é sinônimo de odiar. Conhecer Frei Betto pela biografia citada, conhecer a história de sua vida, aumentou minha admiração por ele.

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