Encerrei, com grande alegria, a leitura do livro “frei betto – biografia”, elaborada por
Américo Freire e Evanize Sydow, historiadores ligados ao pensamento de
esquerda. Os que me conhecem sabem-me pertencer ao que meu querido amigo, José
Paulo de Andrade denomina “direita
progressista”. Discordo, frontalmente da ideologia política de Frei Betto e
faço restrição a sua concepção teológica. Mas Frei Betto é um craque!
Inteligência e cultura que nos empresta a cada leitura de seus escritos, dentre
os quais destaco “um homem chamado Jesus”
e “Fonte de Deus”, obras obrigatórias
a quem professa religião, ouso dizer, qualquer delas. Admiro Frei Betto pela
sua coerência, por unir a ação de pensar à ação de fazer, mas aponto suas
contradições que surgiram resultantes de sua utopia ideológica. Foi
contraditório, por exemplo, que ao pretender inserir o marxismo, na
peregrinação evangelizadora de Cristo. Frei Betto, apesar de sua visão de
justiça e defensor dos direitos humanos, foi e continua sendo ardoroso
admirador de Fidel Castro, o mais sanguinário ditador da história das Américas
e que prefaciou a obra, em comento, inclusive invocando a prevalência da carcomida
doutrina marxista-leninista. Do lado de cá, Frei Betto, com outros padres dominicanos,
foi importante membro da “Aliança
Libertadora Nacional”, organização terrorista liderada por Carlos
Marighella. Apenas de passagem, observo que, de todos os dominicanos presos
pelo regime militar, Frei Betto, por ser sobrinho de importante General, foi o
único a não sofrer qualquer constrangimento físico. Viveu ele de ideais
fugidios, o que lhe fez amargar duras decepções. Cito três: foi um dos
idealizadores das “comunidades
eclesiásticas de base”, reunião de leigos, em torno das paróquias, objetivando
debater, à luz do evangelho, as desigualdades sociais da região. Ao final,
essas organizações não agregaram novos católicos e afastaram aqueles que não
aceitavam suas idéias e, principalmente, sua utilização político-partidária.
Outro equívoco, atestado pelo próprio Vaticano, foi o movimento conhecido como
“Teologia da Libertação”, que
propunha o surgimento de uma “nova Igreja”,
que deveria “ver o mundo com os olhos dos pobres, identificando-se com suas
necessidades” e, a partir daí, “construir
nova espiritualidade”. Em síntese: a “Teologia”
propôs divisão entre “nós”, os
pobres, e “eles”, os ricos, os
pecadores. Assim, o movimento criou o conceito de “pecado social” e preconizou “uma
igreja autenticamente pobre, missionária e parcial, desligada de um poder
temporal e comprometida com a libertação de todo o homem e de todos os homens”.
A “Teologia” remetia a fé a plano
menor e desprezava o “sagrado”, como
se ambos, “fé” e “sagrado”, não constituíssem a própria
essência do cristianismo, atravessando mais de dois milênios. É claro que a
preocupação com o “social” é dever de
todos cristão, todavia, longe está de ser a “essência” da religiosidade, até porque o envolvimento com causas
sociais não exige, por si só, engajamento em qualquer religião. O terceiro
equívoco de Frei Betto, no plano da frustração ideológica, foi seu envolvimento
político-partidário. Companheiro de Lula desde as reivindicações sindicais do
início dos anos 80, foi co-fundador do
PT, que acreditava possuir um projeto de governo que privilegiaria os pobres,
sua quase obsessão. Ao participar do governo Lula, conheceu outro homem,
voltado para o que considerou “os
interesses dos dominantes” e vinculado tão somente a um “projeto de poder”, não importando os
métodos empregados para concretizá-lo. Frei Betto saiu do governo “atirando”, o que o tornou quase inimigo
do lulopetismo. Em que pesem minhas divergências com Frei Betto, tenho-o a
minha cabeceira, como leitura habitual, afinal, pelo menos para mim, divergir
não é sinônimo de odiar. Conhecer Frei Betto pela biografia citada, conhecer a
história de sua vida, aumentou minha admiração por ele.
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