quinta-feira, 23 de março de 2017

Papo de Domingo



Domingo, último de mais um verão, em que não estive, pelo regime escravocrata, a que fui submetido, estava posto em sossego, terminando a leitura de “O Fazedor de Velhos”, obra que marca o ingresso do escritor, Rodrigo Lacerda, no mundo da ficção. Ao meu lado, Rodolfo, meu politizado pastor alemão, folheava a edição de “Veja”, que acabáramos de comprar, ao voltarmos de nosso passeio ao parque. Fazia frio e eu quase me alegrava pela partida do verão, que vi apenas da varanda do apartamento de meu filho,  debruçada sobre a praia de Santos, se é que posso chamá-la de praia, , eu que já estive... Deixa pra lá, que o assunto é outro. Rodolfo fechou a revista,  que teimava em redescobrir o Brasil, a partir da “lava jato”. Quis falar sobre o tema, mas lancei sobre ele olhar de tédio, suficiente para nem inaugurar o  diálogo. Mas Rodolfo é persistente e sabia onde bater.
- “Você viu o leilão dos aeroportos? Só deu empresa estrangeira”, afirmou Rodolfo.
- “E daí – retruquei eu – são empresas altamente qualificadas, que, com certeza, vão melhorar o atendimento ao público”.
– ”Sei não, estou achando tudo isto muito estranho. Agora, vem esta história da “carne fraca”, que mina a credibilidade dos maiores frigoríficos do País. Logo, logo surgirão grupos internacionais, ocupando este segmento. A verdade, meu caro, é que, devagar, de passo a passo, nossa economia vai se transferindo para o capital estrangeiro e nossa soberania vai pro espaço. Qual a grande construtora que sobrou da devassa da lava-jato? Que interesses ocultos – ou escusos – há por trás destas operações todas?”
– “Você ta louco, ô Rodolfo? Dando uma de nacionalista, nesta altura do campeonato? Primeiro, no mundo moderno, o capital não tem pátria, segundo, as empresas punidas cometeram delitos e merecem ser punidas por isto”.
 – “Errado, meu caro. Os criminosos, se podemos chamar assim, foram os executivos das empresas e essas não podem ser destruídas por isto. A Petrobrás foi construída ao longo de 60 anos e não precisaram mais do que 02 para arrebentá-la, destruírem seu valor internacional, abrindo as portas para  a indústria petrolífera estrangeira. A mesma coisa aconteceu com as grandes construtoras. Hoje, se o governo, qualquer governo, for executar obra de porte, necessariamente terá que partir para concorrência internacional. A Austrália, a Argentina e até o modesto Uruguai já estão ocupando nosso espaço, na exportação de carne e logo  logo estarão engolindo os frigoríficos brasileiros. Sabemos que dinheiro é apátrida e, a qualquer prenúncio de tempestade, o  l  capital  estrangeiro, que já auferiu polpudos lucros, vai embora, deixando, para trás, um doloroso rastro de desemprego. Todo mundo está caindo de pau no Trump, pelas medidas protecionistas às empresas norte americanas, que ele vem tomando. Tanto ele está certo que a economia daquele País voltou a crescer e cerca de 500 mil empregos foram criados. Aqui, está se fazendo o contrário: asfixia-se a empresa brasileira e nos coloca nas mãos do volátil capital estrangeiro. Você não acha tudo muito tenebroso?”
– “Meu dileto Rodolfo, a princípio você está construindo mais uma teoria da conspiração, mas seu raciocínio tem coerência, a merecer melhor reflexão, mas, como hoje é domingo, dia de soltar as amarras e pensar só no jogo do Botafogo, depois voltamos ao tema.”
E, assim, encerrei o diálogo, com o Rodolfo saindo, com cara de insatisfeito, em busca de seu almoço.

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