Domingo, último de mais um verão, em que não estive, pelo
regime escravocrata, a que fui submetido, estava posto em sossego, terminando a
leitura de “O Fazedor de Velhos”,
obra que marca o ingresso do escritor, Rodrigo Lacerda, no mundo da ficção. Ao
meu lado, Rodolfo, meu politizado pastor alemão, folheava a edição de “Veja”, que acabáramos de comprar, ao
voltarmos de nosso passeio ao parque. Fazia frio e eu quase me alegrava pela
partida do verão, que vi apenas da varanda do apartamento de meu filho, debruçada sobre a praia de Santos, se é que
posso chamá-la de praia, , eu que já estive... Deixa pra lá, que o assunto é
outro. Rodolfo fechou a revista, que
teimava em redescobrir o Brasil, a partir da “lava jato”. Quis falar sobre o tema, mas lancei sobre ele olhar de
tédio, suficiente para nem inaugurar o
diálogo. Mas Rodolfo é persistente e sabia onde bater.
- “Você viu o leilão
dos aeroportos? Só deu empresa estrangeira”, afirmou Rodolfo.
- “E daí – retruquei eu
– são empresas altamente qualificadas, que, com certeza, vão melhorar o
atendimento ao público”.
– ”Sei não, estou
achando tudo isto muito estranho. Agora, vem esta história da “carne fraca”,
que mina a credibilidade dos maiores frigoríficos do País. Logo, logo surgirão
grupos internacionais, ocupando este segmento. A verdade, meu caro, é que,
devagar, de passo a passo, nossa economia vai se transferindo para o capital
estrangeiro e nossa soberania vai pro espaço. Qual a grande construtora que
sobrou da devassa da lava-jato? Que interesses ocultos – ou escusos – há por
trás destas operações todas?”
– “Você ta louco, ô
Rodolfo? Dando uma de nacionalista, nesta altura do campeonato? Primeiro, no
mundo moderno, o capital não tem pátria, segundo, as empresas punidas cometeram
delitos e merecem ser punidas por isto”.
– “Errado, meu caro. Os criminosos, se podemos
chamar assim, foram os executivos das empresas e essas não podem ser destruídas
por isto. A Petrobrás foi construída ao longo de 60 anos e não precisaram mais
do que 02 para arrebentá-la, destruírem seu valor internacional, abrindo as
portas para a indústria petrolífera
estrangeira. A mesma coisa aconteceu com as grandes construtoras. Hoje, se o
governo, qualquer governo, for executar obra de porte, necessariamente terá que
partir para concorrência internacional. A Austrália, a Argentina e até o
modesto Uruguai já estão ocupando nosso espaço, na exportação de carne e
logo logo estarão engolindo os
frigoríficos brasileiros. Sabemos que dinheiro é apátrida e, a qualquer
prenúncio de tempestade, o l capital estrangeiro, que já auferiu polpudos lucros,
vai embora, deixando, para trás, um doloroso rastro de desemprego. Todo mundo
está caindo de pau no Trump, pelas medidas protecionistas às empresas norte
americanas, que ele vem tomando. Tanto ele está certo que a economia daquele
País voltou a crescer e cerca de 500 mil empregos foram criados. Aqui, está se
fazendo o contrário: asfixia-se a empresa brasileira e nos coloca nas mãos do
volátil capital estrangeiro. Você não acha tudo muito tenebroso?”
– “Meu dileto Rodolfo,
a princípio você está construindo mais uma teoria da conspiração, mas seu
raciocínio tem coerência, a merecer melhor reflexão, mas, como hoje é domingo,
dia de soltar as amarras e pensar só no jogo do Botafogo, depois voltamos ao
tema.”
E, assim, encerrei o diálogo, com o Rodolfo saindo, com cara
de insatisfeito, em busca de seu almoço.
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