Meu querido
Rodolfo,
Permita-me cumprimentá-lo pelo “dia internacional da mulher”. Não, por favor, não rosne, porque,
nem por um segundo, coloco em dúvida sua masculinidade. Esclareço: quando você
chegou aqui, com 03 meses, logo após a morte de Bernardo, último “mastim napolitano” que protegeu e
alegrou nossa casa, Nara reinava, absoluta e
investida de postura imperial, apesar de estirpe indefinida. Ela o
recebeu, a princípio, com desconfiança e, depois, com carinho quase maternal.
Todavia, foi-me dito que, com o tempo, você, em razão de sua linhagem de pastor
alemão puro, passaria a ser o “dominante”,
o que podia gerar imprevisíveis conflitos com a Nara. O tempo passou e aquele vaticínio
não se cumpriu. Ao contrário, os depois, você continua submisso a ela. É ela
a primeira a sair a passeio, é ela a
primeira a me cumprimentar, quando chego da rua, é ela a primeira a beber da
água e comer da ração, enfim, em qualquer circunstância, é ela quem tem a
primazia. Você, na sua perspicaz irracionalidade, sempre entendeu ser ela a “dominante”, ao contrário de nós humanos,
ditos racionais, atravessamos séculos com a falsa percepção de que o macho é
dominante em relação à fêmea, apesar de a história comprovar ser exatamente o
contrário. Por causa da mulher, ódios se perpetuaram e até guerras foram
travadas. Tantos são os exemplos da superioridade feminina, que espaço não
haveria para descrevê-los. Quem de nós homens, abatidos por ridícula
dor-de-dentes, seria capaz do heróico ato de parir? Quem de nós, homens, após
dura jornada de trabalho externo, seria capaz de, em chegando em casa,
enfrentar um fogão ou máquina de lavar? A viuvez, na mulher, não a abate e,
muita vez, a revigora. No homem, a viuvez prosta-o, deixa-o perdido, quando não
se lhe antecipa a morte. No balé sexual, a mulher, além de timoneira, é muito
mais criativa, inclusive dominante na
arte de fingir êxtase, dom que a natureza nos impossibilitou. Porque “compramos” a mentira de nossa
superioridade, estabelecemos contínuos conflitos com nossas parceiras...e
sempre somos derrotados, mesmo quando nos imaginamos vencedores. Você, Rodolfo,
desde sempre, entendeu essa correlação de forças, razão pela qual, nestes 5
anos, nunca presenciei, nem mesmo debates acalorados entre você e Nara. Ela
estabelece as regras, você as segue e a harmonia reina. Afinal, você se submete
ao ancestral, provérbio: “manda quem pode
– ela -, obedece quem tem juízo – você”. Por isso, no “dia internacional da mulher”, eu o cumprimento pela sua sabedoria.
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