Lá do interior, de onde vim, séculos atrás, a paquera se dava no “footing” que, à época de
eu adolescente, não tinha a menor idéia o que significava. Sabia, sim, como
funcionava e era habitué do “modus operandi”:
sempre defronte ao cinema principal e antes da sessão das 8 da noite (a única,
a bem da verdade), os rapazes formavam “corredor
polonês” e as moças, em grupo de duas ou três, passavam no meio. Olhares
eram trocados e se se repetissem mais do que 03 vezes, o sinal ficava em verde.
Era só “chegar junto”, sempre na
poltrona, deixada vaga, ao lado da dita cuja, na sessão de cinema, a começar.
Outro local de paquera era a missa das 10 da manhã, sempre através de olhares
furtivos. Isto porque, logo depois da missa, rolava um bailinho no clube local,
e que recebia o nome de “matinal”,
onde era proibida a venda de bebida alcoólica a menores, mas sempre se
conseguia um cuba-libre da coragem. Tive 03 namoradas, neste período ingênuo,
repleto de boas recordações. Mais tarde, a paquera acontecia nas festinhas do
colégio e nas baladas, que recebiam o sofisticado nome de “boite”. É claro que também podia acontecer, de modo inesperado, na
rua, caminhando, em sentido contrário, mas o risco era grande. Aconteceu
comigo: olhares trocados e correspondidos, convidei-a para aperitivo de final
de tarde. Ao final, contou-me ela que morava no “Jardim São Paulo”, naquela época, bairro longíssimo da zona norte,
eu morando no Planalto Paulista e, como não tinha carro, o namoro terminou no
terceiro domingo. O tempo passou, saí do mercado, e constato que, em tempos
cibernéticos, a paquera acontece através dos ”sites de relacionamento”, onde as pessoas se conhecem pelo que
dizem ser e quase nunca pelo que realmente são. Tenho uma cliente, empresaria,
divorciada, bonita, bom papo, na faixa dos 40 que, em um desses sites conheceu
um “coroa”, na mesma faixa etária, que
se dizia solteiro e dono de concessionária de veículos importados. Depois de
algumas semanas, ela, carente e, com muito “atraso”,
estava apaixonadíssima. Da última vez que a encontrei e perguntei pelo novo
amor, ela, tristíssima, contou-me ter descoberto ser o gajo casado e vendedor
de carros usados. Leio, em revista semanal, o surgimento de aplicativo francês,
voltado para mulheres desimpedidas, acima de 40. Tomara que funcione, mas o
risco é grande, uma vez que a tristeza da solidão, fragiliza o solitário,
tornando-o vulnerável a engodos de toda ordem que, trazem decepção e angústia.
A busca de companhia, através desses “sites”,
a mim se me afigura como ato de coragem, pelo risco calculado e medido, mas
também incapacidade psicológica de se bastar a si mesmo. Ainda acho válido o
ancestral ditado, “antes só que mal acompanhado”.
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