Hoje, 04 de Outubro, reverenciamos São Francisco de Assis
que, ao dispor de todos os seus bens, a favor dos pobres e passar a viver para
eles, ensinou-nos lição de humildade e caridade, que teimamos em não aprender.
Cumprimentei-o, através da imagem, que tenho, em minha sala e, logo mais, farei
minhas orações na Igreja, que fica no ‘’Largo de São Francisco’’. Quase sem
querer, passo os olhos em sua ‘’Oração da Paz’’, pregada na parede... e me
envergonho, porque ali está gravado tudo que não sou e nem faço. Coisas
simples, como ser ‘’instrumento da paz’’, ‘’levar a verdade’’, ‘’amar mais que
ser amado’’. Envergonho-me, porque, ao longo da vida, que se faz noite, as mais
das vezes exigi ser amado, ser perdoado, ser compreendido, querendo receber,
sem quase nada dar. Perdido no egoísmo de ter, muito além do necessário,
contemplo, como se fosse parte da paisagem, o velho, roto, talvez faminto que,
na calçada rescendendo a urina, dorme, coberto por pedaços de papelão. Desço a
calçada, porque o cheiro me incomoda, porque a própria presença daquele homem
me incomoda. Não imagino, nem por um instante que, um dia, quando jovem, aquele
homem, tenha tido um sonho, qualquer sonho que, por certo, não era o de estar
ali, jogado, num canto de calçada, agredindo-me, porque, em sua miséria física,
mostra-me minha miséria moral. Logo estarei longe dali, no conforto e segurança
de minha casa, ou na imponência do
Tribunal, ou na sofisticação do restaurante e aquele velho homem continuará lá,
abraçado a sua miséria. Não fui capaz de levar-lhe o amor, a esperança, a
alegria, a luz. Leio, com a emoção, que leva a lágrimas, a ‘’Oração da Paz’’,
ditada por São Francisco. Quero tudo o que lá está gravado: a paz, o amor, o
perdão, a esperança, a alegria, a luz, mas, no meu egoísmo, nada dou em troca,
a não ser o trôco que, sem serventia, carrego no bolso. São Francisco, sei que
já se faz noite em minha vida, mas me ajude a conseguir a misericórdia divina,
pelo amor, que não retribuí; pelo consolo, que não proporcionei, pela
esperança, que não dei, pela alegria, que não levei, negações sintetizadas
naquele velho, por quem passei, como se fosse apenas incômoda paisagem.
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