Amei-te, desde a primeira vez que te vi, imponente,
iluminada, absurdamente superior a mim, rústico e envergonhado caipira, que
ousou pousar os olhos em ti. Segui te amando, com mais fervor, quando me
permitis-te tomar-te pelas mãos e percorrer teu corpo, dos pés à cabeça, indo e
vindo, como batuta de canhestro maestro. E maior foi meu muito querer, quando,
por não poder ficar contigo e em ti, repousei meu corpo, então viril corpo, em
outra, mais jovem, mas sem teu perfume e teu calor. Chorei, baixinho, quando te
rasgaram o ventre e teu sangue, em vermelho desbotado, fez-te menos bela. Como
insano, gritei teu nome, quando tu te prostituiste pela liberdade e meu grito
era pouco para tanto amor. Ontem, noite chegante, miseráveis mãos, bocas
rescendendo a bodum percorreram teu corpo e tu, acostumada a estes desprezíveis
seres, imundos seres, tu te deixaste levar, com a grandeza dos que se sabem
superior. E eu, também ali estava, não para aviltar-te, mas para mostrar-te meu
incomensurável amor, Avenida Paulista, amor de todos os meus tempos.
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