segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Eu, Rodolfo e as eleições cariocas, em uma manhã de domingo

Na calma da manhã de domingo, lia eu ‘’O Globo’’, tendo ao lado Rodolfo, meu politizado pastor alemão, a quem repassava as páginas lidas. Em determinado momento, ele, bem a seu estilo, ergueu-se, abruptamente e foi logo me questionando: - ‘’você, que morou tanto tempo no Rio, que tem amor até exagerado pelo Rio, dá para me explicar a origem da alma rebelde do carioca, meio na base ‘’si hay gobierno, soy contra? Veja você: o Eduardo Paes revolucionou a cidade, fez uma Olimpíada de deixar o mundo de boca aberta e o candidato dele a Prefeito fica em terceiro lugar, e a eleição vai ser disputada entre um evangélico, ligado ao Edir Macedo e um deputado estadual do PSOL, o partido que quer o Estado mandando em tudo.’’ Recosto no sofá, reforço o uísque, para buscar inspiração e explico, ou melhor, justifico, da melhor maneira possível: - ‘’o carioca é assim mesmo, tem a alma boemia e, como todo boêmio, é contraditório – ama e odeia, com facilidade – e irreverente: diverge, apenas pelo pretexto do boteco. E não é de hoje este comportamento. Vou lhe dar apenas dois exemplos: quando ainda se chamava ‘’Estado da Guanabara’’, o Rio foi administrado por Carlos Lacerda, o político mais competente e sério que este País já produziu. Lacerda trouxe o Rio do século 19 para a modernidade, tantas as obras realizadas e que privilegiaram, essencialmente, a classe mais pobre. Pois, quando da escolha de seu sucessor, o povo escolheu Negrão de Lima, um embaixador já caquético, que usava chapéu ‘’gelô’’, (depois explico), achava que o Rio começava no Leblon, onde morava e terminava no ‘’Copacabana Palace’’, onde almoçava. E nem carioca era. Era mineiro.’’ Outro exemplo: ao final do regime militar e o retorno dos exilados, realizaram-se as primeiras eleições para governadores. Quem ganha no Rio? Brizola, que era gaúcho e que, para se eleger, fez acordo com os traficantes, de modo que a Polícia Militar não subisse aos morros, para reprimir o tráfico. Posso falar isto de cadeira, porque, no governo anterior, eu era Diretor da Secretaria de Segurança Pública e, com muito empenho, fôramos implacáveis no combate à criminalidade, que reduzimos, de modo substancial. Aí veio o Brizola com seu populismo de beira de esquina, e destruiu todo o nosso trabalho. Deu no que deu e a bandidagem, bem postada nos morros, domina a cidade. Veja você, amado Rodolfo, que o reduto eleitoral do candidato do PSOL é exatamente a zona Sul, onde Eduardo Paes introduziu os mais importantes melhoramentos. Todavia, o Rio, pela proteção do Cristo Redentor, resiste a todas as maluquices do carioca, e, como diz Gilberto Gil, ‘’continua lindo.’’

Rodolfo olhou-me com um ar de ‘’não sei, não’’ e foi ao ‘’caderno de esportes’’, procurar notícias do Botafogo, que era nossa maior preocupação do dia. 

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