terça-feira, 28 de outubro de 2014

Da Queda à Ascensão
Deitado, na cama do luxuoso hotel, onde se hospedara, Luiz Claudio não conseguia relaxar. Pelas informações recebidas, a Presidente, depois da solenidade, onde seria homenageada pelo Sindicato dos Metalúrgicos, passaria a noite, naquele mesmo hotel, instalando-se na suíte presidencial, ao final do corredor. Já fora ele dezenas de vezes para checar a chegada da comitiva presidencial. Pela vigésima vez, olhava o relógio: ainda eram 08 horas e a Presidente não chegaria antes das 11 horas. Pensou em tomar um uísque, mas afastou a idéia, precisava se manter sóbrio, quando o momento chegasse. Refez o plano, mais uma vez, nenhum detalhe poderia colocar em risco o sucesso. Sentou na poltrona, encostado à janela, de onde, acendeu o cigarro e deixou seu pensamento voar até aquele março de 2016, quando tomou a decisão definitiva de fechar suas lojas. A inflação, em apenas 03 meses, ultrapassava a 50%. Investira todas as suas reservas financeiras, estocando mercadoria para o natal que se tornara a última esperança de sobrevivência. Fechara 07 de suas 10 unidades, os fornecedores já não lhe concediam prazo e os bancos, nem mesmo aceitavam renovar os empréstimos. Vendeu dois, de seus três carros, a casa de praia e recorreu a agiotas para fazer capital, apostando suas últimas fichas no natal. Segundo os jornais, foi o pior dos últimos 30 anos. Boa parte da indústria automobilística fechara suas filiais, no Brasil e o índice de emprego formal caíra mais de 50%. Saques, em supermercados, eram freqüentes e alguns produtos essenciais como a carne, o leite, o arroz e o açúcar estavam racionados. O dólar chegara a 6 reais, no oficial e a quase 8 no paralelo. O caos econômico tomara conta do País, mas, mesmo assim, o governo insistia que a situação estava sob controle. O fracasso do natal enterrara, de vez, a esperança de Luiz Claudio. Fechou as três lojas, que sobraram, indenizou os funcionários com os próprios produtos. Para sobreviver, vendeu dois “Volpi” e um “Aguillera”, aplicando o dinheiro em nome da esposa. Por toda uma semana, passara todo o dia no escritório de sua casa, conversando com o retrato do falecido pai. A esposa chamou os filhos, que ele não comia, não tomava banho, apenas chorava e repetia, olhando para o retrato do velho – “me desculpa, pai...” Numa manhã de domingo, ele saiu do isolamento: fez a barba, tomou banho, aprontou-se com esmero. Tinha tomado uma decisão e precisava consultar Cristo. Pouco tempo depois, voltou, calmo, até cantarolando. Passara na padaria, comprara pão e aquele bolo de fubá que lhe remetia, à infância, além do jornal, que leu, avidamente, enquanto a esposa preparava vasto café-da-manhã. Ela não entendia o que se passava pela cabeça do marido, mas tinha certeza que viria novidade. Na segunda-feira ele a chamou para conversar: “olha, aqui está o valor que nós temos no banco, se me acontecer alguma coisa, procure  Guilherme, o gerente da conta, que ele vai orientá-la. Preciso viajar amanhã para o Rio e, se tudo correr bem, 4ª feira estarei de volta.” A mulher, submissa de toda a vida, nada perguntou, mas estranhou quando, ao sair no dia seguinte, ele a apertou nos braços, deixando escapar algumas lágrimas que desapareceram no bigode espesso. E, agora, ali estava ele, no último andar daquele suntuoso hotel, à beira-mar, à espera da Presidente. Tenso, mas determinado, viu a comitiva chegar e, minutos depois, pela fresta da porta, três pessoas, dois homens e uma mulher, ela, entrarem na suíte. Alguns minutos depois, os homens saíram, mas um deles ficou do lado de fora. Ele puxou a cadeira para perto da porta, com um pacote na mão e sentou, olhos grudados no final do corredor. O homem do lado de fora, saiu, ele marcou 15 minutos e depois caminhou vagarosamente até o que era seu destino. Bateu, vigorosamente à porta que, após alguns eternos minutos apenas foi entre aberta. Ele arremessou seu corpo e invadiu o quarto. A Presidente, com o impacto, fora jogada ao chão. Vestia um pijama azul, coberto por um robe de tonalidade mais clara. Ele, sem pressa, desfez o embrulho, que tinha às mãos, de onde tirou um revolver, colt 45, que fora de seu pai. Atirou 03 vezes, mirando o peito e a cabeça. Depois, saiu, sem pressa e sem olhar para trás – nunca suportara ver sangue. Entrou em seu apartamento e, do último andar saltou em direção à calçada. Apenas a tempo de sorrir, pela satisfação do dever cumprido.
Na 4ª feira, como prometera, voltara, mesmo em um caixão, mas voltara.


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