Prezado
Saul: não quis ser mordaz nem irônico quando falei que você está na
direita. Você usa um artifício dos que habitam esse castelo em ruínas, a
direita, quando afirma que ela e a esquerda acabaram. Isso é só para
encobrir o que os governos da sua troupe fizeram do mundo, incluindo o
Hitler que você tanto elogiava e agora condena. O que acho mais grave:
por minha própria convicção e até do meu líder maior (Lula, para seu
horror) não sou de esquerda, apenas tenho uma visão social diferenciada
da sua. Tenho profundo horror ao comunismo leninista ou stalinista, que
tantos assassinatos perpetraram ao longo do século. Você, por mais que
isso me doa dizer, afirma que não existe esquerda ou direita, mas
conserva um pensamento direitista e flutuante: foi para Marina quando
ela teve a bolha que se desmanchou e, mesmo tendo afirmado não gostar de
Aécio, está com ele não por programas do candidato, mas pelo ódio ao
PT. Essa é uma prática da velha direita senhorial, a mesma que torturou e
matou no pós-64 e que você tanto admira. Não vou responder às questões
de Dilma pelos absurdos nque elas são propostas e por saber q
Saul: disparei acidentalmente, sem terminar, a mensagem. Segue o restante:
Não
vou responder as questões de Dilma, por entender que elas são absurdas e
que você odeia a presidente pelo que chama de terrorismo dela. Claro,
jamais você vai sequer admitir o terrorismo de estado que vitimou tantos
jovens, estado que derrubou pela força um governo eleito pelas urnas,
sob a desculpa, depois desmentida, de que o Brasil cairia nas mãos dos
comunistas. Veja bem: na questão israelense, nossas opiniões convergem e
como você afirma, não por anti-semitismo. Entendo que Israel pratica
hoje as mesmas crueldades dos nazistas. Quanto ao seu Aécio e a minha
Dilma, espero explicações sobre as mesmas corrupções que vocês assacam à
presidente e que em Minas foram praticadas, desde o mensalão mineiro,
que aconteceu antes do mensalão do PT: abomino os dois e para eles quero
explicações. O do PT já foi punido, pois com Lula e Dilma a sujeira
jamais foi para debaixo do tapete, como nos belos tempos de FHC e do
engavetador geram da república, sem falar de Paulo Preto e outros que
tais. Quanto a Maluf e Collor, o que obriga o governo a apoiá-los é o
cruel sistema republicano de política, que atrela o presidente aos
partidos e aos políticos de qualquer qualidade. Vou encerrar dizendo:
não me envergonharia de ser de esquerda, mas nunca fui. A referência à
papai foi até covardia, pois não tive convívio político com ele, que se
foi quando eu ainda não completara 14 anos: ele morreu em 9 de março e
meu aniversário, tristíssimo aniversário, foi em 12 de março.
Saudações afetuosas e, ganhe quem ganhar, sou seu maior admirador. Ramiro
Resposta a um irmão (petista) indignado
Ramiro,
Como sou democrata e
procuro, na medida do possível, ser intimo da verdade, publico sua
carta, onde você dispara sua metralhadora contra mim, até me chamando de
nazista, pode? Acho que você está levando longe demais esta nossa
porfia, até porque, “a virtude está no meio”, coisa que o petismo desconhece. O que “os governos de minha troupe”
trouxeram para o mundo foi o desenvolvimento científico, tecnológico,
social e, principalmente o primado da liberdade. Afinal, não foram os
Estados Unidos que salvaram o mundo do avanço de Hitler? Você, como
porta voz empedernido do PT, coloca em duvida a delação premiada de
Paulo Roberto e do doleiro Youssef, quando, na verdade, disseram eles o
que todo mundo já sabia: que a Petrobrás foi utilizada como canal de
escape da grana que custeou a campanha da Dilma. Não vou voltar a falar
da Refinaria de Pasadena, apenas estranho que tudo tenha acontecido
debaixo dos olhos dela e ela não tenha sabido de nada. Ou era conivente
ou muito ruim de gestão. Apenas lhe pedi que me explicasse o que entende
por direita e esquerda e você sai a atacar o PSDB e Aécio, como se eu
tivesse alguma coisa com isto. Já lhe disse: não sou o aliado do partido
de FHC e, quanto ao Aécio, surge ele como única alternativa para
liquidarmos com o seu PT. Desconheço os méritos pessoais dele, mas sei
ser ele capaz de montar uma boa e honesta equipe, ao contrario de seu
povo. Conheci, com alguma intimidade, o Anastásia, à época em que era
ele Secretário Executivo do Ministro do Trabalho, Francisco Dorneles.
Pessoa absurdamente séria e competente, méritos que o levaram ao governo
de nosso Estado e que, sem duvida, será um dos ancoras do governo
Aécio. Então seu “líder maior”
é o Lula? Puxa vida, que decepção contemplar pessoa tão inteligente,
tão culta, tão firme em suas ações, ter líder tão medíocre. Mas,
pensando bem, vocês não tem ninguém muito melhor. Pois meu mentor
político, nascido no passado, mas vivo no presente, chama-se Carlos
Lacerda, o maior, mais competente, mais integro político, que este pobre
País conheceu. Agora, para terminar, quero cumprimentá-lo pela vitoria
de seu “companheiro“, Evo Morales, eleito, pela terceira vez, com o
patrocínio do cartel da cocaína, Presidente da Bolívia. Antes, apenas
por cautela, subjugou o Poder Judiciário daquele País que, estuprando a
Constituição, permitiu-lhe concorrer a um terceiro mandato. Nenhuma
novidade, porque o Chávez fez a mesma coisa. Depois, tratou de prender
ou expulsar da Bolívia seus mais temíveis adversários. Dª Dilma deve
andar triste, porque Morales dedicou a vitoria a Chávez e a Fidel e se
esqueceu dela e de seu querido Lula, ambos a abastecerem o cofre do
boliviano. Quanto a nosso pai, a referencia que fiz, foi pelo fato de
ter sido ele um dos “caciques” locais do velho PSD e amigo pessoal do
Benedito Valadares. Também era eu muito jovem (pode crer, já o fui) e me
lembro daquele político se hospedando na casa ao lado, do “Tenente” e
nosso pai ia a reuniões com
ele. Já morando em São Paulo, entusiasta pelo Jânio, de férias, fui
participar de um programa na “Rádio Teófilo Otoni”, fazendo pregação
janista, levado que fui pelas mãos de Pedro de Paula Otoni, Presidente
da UDN local. Quando cheguei em casa, ainda entusiasmado, nosso pai me
esperava com minha passagem de volta na mãos, que, se eu quisesse fazer
propaganda para a UDN, que voltasse para São Paulo. Não tive o
privilegio de conviver, intimamente, com ele, como você e imaginei que
você tivesse bebido, com intensidade, na sabedoria tancredista dele.
Qualquer que seja o
eleito (e já tenho certeza da vitoria do Aécio), convido-o para
reafirmarmos nossa amizade, ao pé de uma cerveja gelada, aqui ou aí.
Sempre, fraternalmente,
Saul
Em tempo: só para contrariá-lo, retransmito-lhe artigo de importante historiador contemporâneo, que me foi enviado por outro “direitista de minha troupe”. Se você quiser conhecê-lo (o historiador, não o “direitista”), ligue, toda segunda feira, no “Jornal da Cultura”.
PUBLICADO NO JORNAL O GLOBO
MARCO ANTONIO VILLA
Estamos
vivendo um momento histórico. A eleição presidencial de 2014 decidirá a
sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se
perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder — feliz
expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do
mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula
volte em 2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos
no poder. Em um eventual segundo governo Dilma, o presidente de fato
será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro Malasartes da política vai
preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião do século XXI,
mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo daquele
imortalizado por Sérgio Porto.
Diferentemente
de 2006 e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata que segue
para tentar a reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno
desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado fragorosamente em São
Paulo, principal colégio eleitoral do país. Imaginou que elegeria mais
um poste. Não só o eleitorado disse não como não reelegeu o performático
e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista perdeu oito
deputados na Assembleia Legislativa e seis na Câmara dos Deputados.
A
resistência e a recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo
momento da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava decidido.
Marina Silva tinha disparado e venceria — segundo as malfadadas
pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores de
campanha estava querendo saltar para o barco da ex-senadora. E, neste
instante, a ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva. Geraldo
Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim
como José Serra, o senador mais votado do país com 11 milhões de votos.
Foi em São Paulo que começou a reação democrática que o levou ao
segundo turno com uma vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.
Esta
campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As interpretações
tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual
como no marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência à
campanha americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão “é a economia,
estúpido”. Com a economia crescendo próximo a zero, como explicar que
Dilma liderou a votação no primeiro turno? Se as alianças regionais são
indispensáveis, como explicar a votação de Marina? E o tal efeito
bumerangue quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas
intenções de voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina durante três
semanas, destruiu a adversária e obteve um crescimento nas pesquisas?
Se
Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto
Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já aceito pela Justiça
Federal — for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro Teori
Zavascki, o envolvimento de altas figuras da República faz com que o
processo tenha de ir para o STF. E, basta lembrar, segundo o doleiro,
que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu e Lima.
Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras empresas e bancos
estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12 anos de
petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do
Brasil.
Nesta
conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um enorme bombardeio de
calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT.
Em uma quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras numa
campanha presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube
responder porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído
dela. Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido
biblicamente, simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou
que o PT tem como princípio destruir reputações. E ela foi mais uma
vítima desta terrível máquina.
O
arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados
não têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não
sobrevivem longe da máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico
de artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e que
imputam sua insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares
espalhados por todo o Brasil.
Teremos
o mais violento segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina
sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto
criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar pelo
caminho várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo
do PT gestou uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da
história do Brasil republicano em termos de crescimento econômico. Só
perdeu para Floriano Peixoto — que teve no seu triênio presidencial duas
guerras civis — e Fernando Collor — que recebeu a verdadeira herança
maldita: uma inflação anual de quatro dígitos. O PT deve imputar a Aécio
uma agenda econômica impopular que enfrente radicalmente as mazelas
criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o candidato
oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como será
o seu governo é ele — somente ele.
Aécio
Neves tem todas as condições para vencer a eleição mais difícil da
nossa história. Se Tancredo Neves foi o instrumento para que o Brasil se
livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará o
país do projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos,
finalmente, virar esta triste página da nossa história.