terça-feira, 19 de agosto de 2014

Para Gostar de Ler, o Retorno
Durante cerca de 10 anos, lecionei Português e Literatura para o ensino secundário, em colégios particulares de classe media, media. Estava eu na Faculdade e tirava de meus minguados proventos de professor os meios necessários à sobrevivência... e só. Nada a reclamar! Quando se é jovem, com longa estrada a percorrer, as dificuldades materiais perdem dimensão. Mas não é sobre isto que quero falar. Naquela época (hoje, não sei como a coisa funciona), os professores recebiam o programa a ser observado, no ano letivo. E tome José Alencar, Machado de Assis, Camilo Castelo Branco e outros autores, absurdamente afastados dos hábitos e costumes daqueles jovens, na faixa de seus 15 anos. Nas reuniões pedagógicas, eu propunha que nós substituíssemos, como leitura obrigatória, os autores indicados pelo Ministério da Educação, por outros, modernos à época, como Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e mesmo anteriores a esses, como Jorge Amado, cujas histórias saborosas e linguagem fácil, iriam motivar os jovens estudantes à leitura. Mesmo tendo minha proposta recusada, eu agia de acordo com meu entendimento, porque tinha a convicção das dificuldades de se enfrentar, numa idade em que a leitura não figura na relação do lazer, a linguagem empolada do autor de “O Guarani”. O prazer de ler vem com o hábito e esse se adquire pela leitura amena, de fácil e contemporânea compreensão. Surpreendi-me, décadas depois, meus filhos sendo compelidos ao mesmo defeito pedagógico. Hoje, não sei como as coisas andam, afastado que estou, de larga data, do magistério e do convívio com a juventude. Todavia, vejo surgir grande oportunidade para estimular o adolescente à leitura, com novos autores, a usarem linguagem descontraída, sem as mesóclises e as ordens inversas de meu tempo de colegial. Cito, por exemplo, as obras de John Green, (“A Culpa é das Estrelas”, “Cidade de Papel”), autor preferido pelos jovens, cujas obras já se tornaram “best seller”. Mais tarde, com o tempo, adquirido, com prazer, o hábito de ler, o jovem alçará vôos mais altos, atingindo obras mais profundas, que contribuirão para sua formação intelectual. Ser do seu tempo, é lição definitiva de vida.

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