Amenidades de uma ensolarada sexta
feira de inverno.
Dude olhou-o nos olhos e sorriu-lhe, com aquele sorriso largo
e absurdamente alvo, que o embriagara, desde a primeira vez que a vira. Vestia
um conjunto azul marinho, cuja saia, ao sentar revelou um pedaço de coxa.
Instintivamente ele olhou (ah, o magnetismo das coxas!) e ela, mais uma vez
sorriu. As faces dele devem ter esfogueado, porque ela, de modo sutil como quem
realiza passo de balé, alargou o cruzar de pernas, oferecendo-lhe mais coxas
para serem contempladas. Ele elogiou as pernas e fez pequena – e tão
inteligente quanto possível – dissertação sobre corpo de mulher e, em especial,
sobre seu secular fascínio por coxas. Ela estendeu o braço, encurtando a
distancia que os separava e, como quem sabe tudo, envolveu suas mãos nas dele e
o convidou para um vinho, no cair da noite. A tarde transcorreu arrastada e uma
ansiedade de adolescente o envolveu. O que conversar com mulher de quem não se
conhece o gosto e os hábitos? Para começar: onde levá-la? Ausente da noite, só
se lembrava dos lugares óbvios, fechados ou solitários à hora marcada. Ela
resolveu sua inquietude. O celular tocou. Era ela: “que tal às 19 horas, no
“Estalagem”, no largo de Moema? Para ele, era ótimo: não muito caro e
relativamente perto. Meia hora antes, outra vez barbeado, outra vez perfumado,
lá estava ele, olhos atentos a quem entrava porta adentro. De repente, ela
surgiu, linda, mais alta pelo salto que usava. Ele levantou para recebê-la e
ela, sempre com o mesmo sorriso, beijou-lhe levemente os lábios e, antes que
ele se recuperasse do impacto, sentou-se e começou a falar de pessoas e
lugares, de forma iluminada, o que o impedia de prestar-lhe atenção. Sabia –
ele sabia – que estava começando a viver um perigo e, se quisesse se livrar
dele, deveria, sem hesitar, sair correndo. Mas não queria. Estava vagabundo de
carinho desde que Maria Clara o deixara, com ou sem motivos. Precisava
sentir-se ainda vivo, capaz de despertar interesse em uma mulher como Dude, com
a classe de Dude, com o sorriso de Dude e, principalmente, com as coxas de Dude.
Por isso era importante fazer a perigosa pergunta: “por que você quis estar
aqui comigo?”ela sorriu mais uma vez e começou a falar dela, dos seus
desencontros sentimentais, de sua solidão cansada, de sua busca por um homem em
que valesse a pena investir, malgrado todos os riscos. Era obvio que ela não
poderia estar falando dele: ele, definitivamente velho, já chegando aos 60;
pouco disponível; instável financeiramente. Mas, para o bem ou para o mal, ele
se equivocara. Ela sabia tudo dele, inclusive – segredo escondido – a idade,
quase suficiente para ser pai dela. Disse-lhe isto e ela deu uma gargalhada que
fez as mesas em torno voltarem as cabeças. Depois, lentamente, tomou-lhe as
mãos e beijou-as, repetidas vezes. Depois, puxou-o, suavemente, pelo pescoço e
as bocas se uniram, o tempo para fazer nascer uma súbita paixão.
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