sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Amenidades de uma ensolarada sexta feira de inverno.

Dude olhou-o nos olhos e sorriu-lhe, com aquele sorriso largo e absurdamente alvo, que o embriagara, desde a primeira vez que a vira. Vestia um conjunto azul marinho, cuja saia, ao sentar revelou um pedaço de coxa. Instintivamente ele olhou (ah, o magnetismo das coxas!) e ela, mais uma vez sorriu. As faces dele devem ter esfogueado, porque ela, de modo sutil como quem realiza passo de balé, alargou o cruzar de pernas, oferecendo-lhe mais coxas para serem contempladas. Ele elogiou as pernas e fez pequena – e tão inteligente quanto possível – dissertação sobre corpo de mulher e, em especial, sobre seu secular fascínio por coxas. Ela estendeu o braço, encurtando a distancia que os separava e, como quem sabe tudo, envolveu suas mãos nas dele e o convidou para um vinho, no cair da noite. A tarde transcorreu arrastada e uma ansiedade de adolescente o envolveu. O que conversar com mulher de quem não se conhece o gosto e os hábitos? Para começar: onde levá-la? Ausente da noite, só se lembrava dos lugares óbvios, fechados ou solitários à hora marcada. Ela resolveu sua inquietude. O celular tocou. Era ela: “que tal às 19 horas, no “Estalagem”, no largo de Moema? Para ele, era ótimo: não muito caro e relativamente perto. Meia hora antes, outra vez barbeado, outra vez perfumado, lá estava ele, olhos atentos a quem entrava porta adentro. De repente, ela surgiu, linda, mais alta pelo salto que usava. Ele levantou para recebê-la e ela, sempre com o mesmo sorriso, beijou-lhe levemente os lábios e, antes que ele se recuperasse do impacto, sentou-se e começou a falar de pessoas e lugares, de forma iluminada, o que o impedia de prestar-lhe atenção. Sabia – ele sabia – que estava começando a viver um perigo e, se quisesse se livrar dele, deveria, sem hesitar, sair correndo. Mas não queria. Estava vagabundo de carinho desde que Maria Clara o deixara, com ou sem motivos. Precisava sentir-se ainda vivo, capaz de despertar interesse em uma mulher como Dude, com a classe de Dude, com o sorriso de Dude e, principalmente, com as coxas de Dude. Por isso era importante fazer a perigosa pergunta: “por que você quis estar aqui comigo?”ela sorriu mais uma vez e começou a falar dela, dos seus desencontros sentimentais, de sua solidão cansada, de sua busca por um homem em que valesse a pena investir, malgrado todos os riscos. Era obvio que ela não poderia estar falando dele: ele, definitivamente velho, já chegando aos 60; pouco disponível; instável financeiramente. Mas, para o bem ou para o mal, ele se equivocara. Ela sabia tudo dele, inclusive – segredo escondido – a idade, quase suficiente para ser pai dela. Disse-lhe isto e ela deu uma gargalhada que fez as mesas em torno voltarem as cabeças. Depois, lentamente, tomou-lhe as mãos e beijou-as, repetidas vezes. Depois, puxou-o, suavemente, pelo pescoço e as bocas se uniram, o tempo para fazer nascer uma súbita paixão.   

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