Sexta-feira chego em casa, quase oito da noite. Rodolfo, meu politizado
pastor alemão, patas levantadas sobre o portão, cara de poucos amigos, foi logo
perguntando: “onde você estava? Sumiu o
dia inteiro e eu e a Nara ficamos a esperá-lo para nosso habitual passeio no
parque.” “Você está louco, Rodolfo,
hoje é dia útil, trabalhei até agora”, respondi. Ele fez cara de incrédulo
e atacou; “Como, trabalhou! O Supremo,
que é o Supremo, não trabalhou. Só falta você me dizer que vai trabalhar
durante a semana santa.” Respondi-lhe que se trata de privilégio
estabelecido por aquela Corte e que nós outros, que carregamos este disforme
piano, chamado Brasil, não gozamos de tal privilégio e a semana-santa começa na
quinta, à noite, com a cerimônia do “lavapés” e termina no domingo de páscoa.
Ele não se deu por satisfeito: “mas aquele Ministro de nariz em pé, o tal de
Barroso, não bateu no Lula, dizendo que ele não é melhor do que os demais
brasileiros, que todos são iguais etc., etc.?” Fui logo explicando: “Demagogia pura, meu caro. O Ministro Barroso
joga para a plateia, não pode ser levado a sério. Ademais, o cotidiano nos
mostra – como ensinava Rui Barbosa – que a verdadeira lei da igualdade consiste
em estabelecer regras para a desigualdade. Como um homem, que ocupou, por duas
vezes, a presidência da República pode ser igual ao gari, que vem recolher
nosso lixo? Na verdade a confusão toda foi armada pela Ministra Carmen Lúcia,
que insistiu em não colocar na pauta de julgamento a ação direta de
constitucionalidade, tendo por objeto rever a decisão anterior, sobre a prisão
em segunda instância, abrangente, que despersonalizava o alcance ao Lula.”
Rodolfo, sempre atualizado, mas ainda um pouco ingênuo, no que diz respeito às
coisas do Brasil, foi em frente: “você não
acha exagero a Carmem Lúcia dizer que estender o julgamento, além das 18 horas,
poderia comprometer a saúde dos Ministros? E por que eles não trabalham às
sextas-feiras, como todo mundo e por que a semana –santa deles começa na segunda?”
Respondi-lhe que são privilégios consolidados que confirmam estarem eles acima
de nós, mortais comuns. Já no alto da escada, chave na porta, Rodolfo insiste
em última indagação: “E o que você achou
do bate-boca entre o Luiz Roberto Barroso e o Gilmar Mendes? Não vulgariza a
Corte Suprema? “ Encerro a conversa, já com o pé na porta: que tudo se pode
esperar deste melancólico Supremo, cuja composição é a mais medíocre de nossa
história. Não será surpresa se, na próxima sessão, os Ministros citados saírem nos
tapas. Rodolfo desce a escada, resmungando e lamentando o descrédito no Poder
Judiciário. Rodolfo, vindo de plagas distantes, onde as instituições funcionam,
ama o Brasil, que tem tudo para dar certo, mas seus “comandantes” esmeram para que tudo dê errado.
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