segunda-feira, 26 de março de 2018

O Supremo Tribunal Federal, essa instituição desacreditada


Sexta-feira chego em casa, quase oito da noite. Rodolfo, meu politizado pastor alemão, patas levantadas sobre o portão, cara de poucos amigos, foi logo perguntando: “onde você estava? Sumiu o dia inteiro e eu e a Nara ficamos a esperá-lo para nosso habitual passeio no parque.” “Você está louco, Rodolfo, hoje é dia útil, trabalhei até agora”, respondi. Ele fez cara de incrédulo e atacou; “Como, trabalhou! O Supremo, que é o Supremo, não trabalhou. Só falta você me dizer que vai trabalhar durante a semana santa.” Respondi-lhe que se trata de privilégio estabelecido por aquela Corte e que nós outros, que carregamos este disforme piano, chamado Brasil, não gozamos de tal privilégio e a semana-santa começa na quinta, à noite, com a cerimônia do “lavapés” e termina no domingo de páscoa. Ele não se deu por satisfeito: “mas  aquele Ministro de nariz em pé, o tal de Barroso, não bateu no Lula, dizendo que ele não é melhor do que os demais brasileiros, que todos são iguais etc., etc.?” Fui logo explicando: “Demagogia pura, meu caro. O Ministro Barroso joga para a plateia, não pode ser levado a sério. Ademais, o cotidiano nos mostra – como ensinava Rui Barbosa – que a verdadeira lei da igualdade consiste em estabelecer regras para a desigualdade. Como um homem, que ocupou, por duas vezes, a presidência da República pode ser igual ao gari, que vem recolher nosso lixo? Na verdade a confusão toda foi armada pela Ministra Carmen Lúcia, que insistiu em não colocar na pauta de julgamento a ação direta de constitucionalidade, tendo por objeto rever a decisão anterior, sobre a prisão em segunda instância, abrangente, que despersonalizava o alcance ao Lula.” Rodolfo, sempre atualizado, mas ainda um pouco ingênuo, no que diz respeito às coisas do Brasil, foi em frente: “você não acha exagero a Carmem Lúcia dizer que estender o julgamento, além das 18 horas, poderia comprometer a saúde dos Ministros? E por que eles não trabalham às sextas-feiras, como todo mundo e por que a semana –santa deles começa na segunda?” Respondi-lhe que são privilégios consolidados que confirmam estarem eles acima de nós, mortais comuns. Já no alto da escada, chave na porta, Rodolfo insiste em última indagação: “E o que você achou do bate-boca entre o Luiz Roberto Barroso e o Gilmar Mendes? Não vulgariza a Corte Suprema? “ Encerro a conversa, já com o pé na porta: que tudo se pode esperar deste melancólico Supremo, cuja composição é a mais medíocre de nossa história. Não será surpresa se, na próxima sessão, os Ministros citados saírem nos tapas. Rodolfo desce a escada, resmungando e lamentando o descrédito no Poder Judiciário. Rodolfo, vindo de plagas distantes, onde as instituições funcionam, ama o Brasil, que tem tudo para dar certo, mas seus “comandantes” esmeram para que tudo dê errado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário