Linda manhã de domingo, chego da missa e Rodolfo aguarda-me
para nosso passeio ao parque. Nara, alegando excesso de calor, preferiu ficar
em casa. É o peso da idade, ela já chegando aos 80. Rodolfo convidou-me a andar
por entre as árvores – podíamos conversar, à vontade. Eu já antevia o assunto,
por isso não me surpreendi, quando ele foi direto ao ponto:
- “O que você acha do
julgamento do Lula, na próxima quarta feira?”.
Respondo-lhe que é
jogo de cartas marcadas, que sua condenação já estava definida, antes mesmo do
processo começar. Rodolfo estanca quase me derrubando:
- “Ué, você bandeou
para o lado do Lula, não estou entendendo!”
Procuro um banco, acomodo-me, para melhor expor meu
pensamento:
- “Sabe, Rodolfo,
sempre procurei manter minha coerência, principalmente em política. Quando
jovem, fui lacerdista, depois, estive ao lado do Movimento Cívico – Militar de
1964, a meu juízo, o melhor momento da nossa historia, em termos de
desenvolvimento econômico, de seriedade, na condução da coisa pública. Alguns
amigos me consideram “de direita”
e meu queridíssimo amigo, José Paulo de Andrade, define-me como da “direita
progressista”, expressão que, a meu sentir, coaduna-se mais com minha maneira
de pensar e agir. Assim, como “animal político, anseio pela condenação do Lula,
como artífice do “petrolão”. Todavia, por outro lado, sou advogado, por
convicção, sonho que acalentei
desde a pós meninice, quando abdicava do futebol ou do banho de rio, para
acompanhar as sessões do júri, em minha pequena cidade. Completei 50 anos de
estrada e nela pretendo morrer. Aprendi – e gravei – a lição do saudoso
Hermínio Alberto Marques Porto, honra e glória do Ministério Público Paulista,
com quem fiz meu primeiro júri e que me honrou com sua amizade, segundo a qual,
absolver ou condenar deve resultar, exclusivamente, da prova dos autos. Então,
lembrando mestre Hermínio, não consigo ver nesse malfadado processo do
“triplex” do Guarujá, nenhuma prova robusta de que Lula o tenha recebido, sob
forma de propina. O apartamento continua em nome da Construtora e a prova
produzida contra Lula reduz-se a delações premiadas, que se fragilizam, pelo
simples fato de virem de delatores, a esperarem o premio, sob forma de redução
de pena. Imaginemos, só pelo amor ao debate, que Lula e a Construtora tenham
cogitado em fazer a “tenebrosa transação”. Todavia, não a fizeram, pois não se
conhece um único documento, formalizando-a e, como sabemos, na sistemática de
nosso direito penal, não se pune a chamada “cogilatio mentis”, isto é, não há
crime, enquanto este apenas habita a mente do eventual criminoso. Assim, dentro
deste prisma, tecnicamente jurídico, Lula deveria ser absolvido. Confesso,
Rodolfo, que, como advogado, sentira um grande alivio se assim acontecesse.
Entretanto, não acredito que assim será, vez que o julgamento é, acima de tudo,
político e a condenação é exigência do “sistema”, cuja mão estendida é a grande
“mídia”, que quer Lula fora da disputa presidencial. Por outro lado, as
lideranças petistas cometeram o pecado mortal de insuflar seus correligionários
contra os magistrados, que irão julgar Lula. Juiz não admite ser pressionado e
muito menos ser ameaçado. Em resumo, Rodolfo, respondendo a sua pergunta: acho
que Lula vai ser condenado, mesmo inexistindo prova concreta contra ele, o que
será um desserviço à justiça. Condenado, Lula se tornará cadáver insepulto e,
dentro da lógica absurda da política brasileira, elegerá qualquer um , que
indicar. Para enterrá-lo, de vez, só há um jeito: batê-lo nas urnas... se for
este o real desejo do povo brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário