Certa manhã, em missa dominical, o sacerdote, que a presidia,
para espanto geral, afirmou que os santos de cada dia e mesmo aqueles, dos
quais somos devotos, não fazem milagres. Houve certo burburinho, à saída,
protesto geral contra o que seria, até, heresia, não só porque a história dos santos
registra inúmeros milagres realizados, mas também, no cotidiano, constatamos
provas deles. Quem já foi ao Santuário de Nossa Senhora de Aparecida, com
certeza, já visitou a “sala dos milagres”,
onde se encontram muletas, cadeiras de roda etc., deixadas por doentes que
teriam se recuperado, graças à intervenção da Santa. Por outro lado, as
chamadas igrejas neo pentecostais realizam milagres múltiplos e instantâneos,
pela simples voz do “pastor”, o que
nos faz duvidar da veracidade do “fenômeno”.
Mas, esta dúvida não é a questão, que proponho debater, aqui. Amadurecido na
fé, retorno às palavras céticas daquele sacerdote e não posso deixar de
concluir ter ele razão. Imagine um santo qualquer e até Deus, em sua suprema misericórdia,
atendendo ao pedido de alguém, que suplica para ganhar na mega sena e resolver
todos os seus problemas financeiros! E, como ficam os outros apostadores, preteridos
pela preferência do Altíssimo? Penso, sempre, nisto, quando vejo jogador se
benzer, na hora de bater o pênalti, pedindo proteção divina. Como fica o
infeliz do goleiro, já inferiorizado pelo espaço a cobrir e com Deus ainda
ajudando o cobrador? O exemplo é ridículo, mas serve para ilustrar o
raciocínio. Deus, lá no começo dos tempos, quando concedeu ao ser humano o
livre-arbítrio, foi como se dissesse: “amigo,
agora, é com você. Aja como quiser, só se lembre de que, na hora certa, a conta
vai lhe ser apresentada”. O que dizer com isto? Que Deus e os Santos não
realizam “milagres materiais”,
ajudando quitar dívidas de cartão de crédito ou fechando aquele negócio, que
vai lhe render milhões. De igual sorte, não curará seus males, físicos e
psíquicos. Isto quer dizer que, como aquele sacerdote, não creio em milagres?
Claro que creio, mas os vejo sendo realizados de outra forma: de repente, somos
acometidos por uma adversidade e eis que, de repente, aflora inexplicável força
para enfrentá-la. Se vamos vencê-la, é outra historia, mas o que, para mim,
emana de Deus ou do Santo que invocamos é essa força etérea, que não
imaginávamos tê-la. Faço esta simples reflexão, às vésperas das comemorações,
alusivas ao dia da Padroeira. O que pedir a ela, senão serenidade e confiança
para enfrentar as adversidades, de todo o gênero? Vejo devotos, percorrendo, à
pé, quilômetros, até chegar à Basilica. Por mais que seja ato de devoção, não
podemos nos esquecer de que Cristo pede-nos misericórdia e não sacrifício.
Misericórdia, para os desvalidos, jogados, sem roupa e comida, nos cantos das
calçadas. Misericórdia, para as crianças, órfãs de infância e que, desde cedo,
enveredam pelos caminhos do crime.
Que Nossa Senhora Aparecida faça brotar, em nossos corações e
mentes, o amor ao próximo.
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