quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Por causa de Nossa Senhora Aparecida



Certa manhã, em missa dominical, o sacerdote, que a presidia, para espanto geral, afirmou que os santos de cada dia e mesmo aqueles, dos quais somos devotos, não fazem milagres. Houve certo burburinho, à saída, protesto geral contra o que seria, até, heresia, não só porque a história dos santos registra inúmeros milagres realizados, mas também, no cotidiano, constatamos provas deles. Quem já foi ao Santuário de Nossa Senhora de Aparecida, com certeza, já visitou a “sala dos milagres”, onde se encontram muletas, cadeiras de roda etc., deixadas por doentes que teriam se recuperado, graças à intervenção da Santa. Por outro lado, as chamadas igrejas neo pentecostais realizam milagres múltiplos e instantâneos, pela simples voz do “pastor”, o que nos faz duvidar da veracidade do “fenômeno”. Mas, esta dúvida não é a questão, que proponho debater, aqui. Amadurecido na fé, retorno às palavras céticas daquele sacerdote e não posso deixar de concluir ter ele razão. Imagine um santo qualquer e até Deus, em sua suprema misericórdia, atendendo ao pedido de alguém, que suplica para ganhar na mega sena e resolver todos os seus problemas financeiros! E, como ficam os outros apostadores, preteridos pela preferência do Altíssimo? Penso, sempre, nisto, quando vejo jogador se benzer, na hora de bater o pênalti, pedindo proteção divina. Como fica o infeliz do goleiro, já inferiorizado pelo espaço a cobrir e com Deus ainda ajudando o cobrador? O exemplo é ridículo, mas serve para ilustrar o raciocínio. Deus, lá no começo dos tempos, quando concedeu ao ser humano o livre-arbítrio, foi como se dissesse: “amigo, agora, é com você. Aja como quiser, só se lembre de que, na hora certa, a conta vai lhe ser apresentada”. O que dizer com isto? Que Deus e os Santos não realizam “milagres materiais”, ajudando quitar dívidas de cartão de crédito ou fechando aquele negócio, que vai lhe render milhões. De igual sorte, não curará seus males, físicos e psíquicos. Isto quer dizer que, como aquele sacerdote, não creio em milagres? Claro que creio, mas os vejo sendo realizados de outra forma: de repente, somos acometidos por uma adversidade e eis que, de repente, aflora inexplicável força para enfrentá-la. Se vamos vencê-la, é outra historia, mas o que, para mim, emana de Deus ou do Santo que invocamos é essa força etérea, que não imaginávamos tê-la. Faço esta simples reflexão, às vésperas das comemorações, alusivas ao dia da Padroeira. O que pedir a ela, senão serenidade e confiança para enfrentar as adversidades, de todo o gênero? Vejo devotos, percorrendo, à pé, quilômetros, até chegar à Basilica. Por mais que seja ato de devoção, não podemos nos esquecer de que Cristo pede-nos misericórdia e não sacrifício. Misericórdia, para os desvalidos, jogados, sem roupa e comida, nos cantos das calçadas. Misericórdia, para as crianças, órfãs de infância e que, desde cedo, enveredam pelos caminhos do crime.
Que Nossa Senhora Aparecida faça brotar, em nossos corações e mentes, o amor ao próximo.

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